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O TRANSTORNO DO PÂNICO & OS PARADOXOS - Parte I

Atualizado dia 5/10/2006 1:22:34 AM em Autoconhecimento
por Fátima Rodrigues Graziottin


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Uma abordagem leve, bem humorada e não-científica



Tendo em vista as mensagens que tenho recebido em meu e-mail pessoal, quero esclarecer que NÃO SOU TERAPEUTA, ANALISTA, PSIQUIATRA ou PSICÓLOGA.
É justamente por isso que esta não é e nem pretende ser uma abordagem científica.

As observações, paralelos e analogias feitas no artigo abaixo são fruto de VIVÊNCIAS.

São também percepções, impressões e conclusões resultantes do convívio diário e ativo num grupo virtual de discussão sobre o TRANSTORNO DO PÂNICO, durante três anos: de 1996 a 1999..

Sua mensagem será bem recebida em meu e-mail pessoal, para trocarmos idéias, informações e vivências.

Abraço fraterno e acolhedor!

Fátima - 16/06/06


“Nunca se imagine ser o que poderia parecer aos outros ou o que você foi ou poderia ter sido, para não parecer outra coisa senão o que você deveria ter parecido aos outros para não ser outra coisa”.
Lewis Carol, “Alice no País das Maravilhas”


O Transtorno do Pânico é um doença extremamente paradoxal. E para compreendermos os paradoxos, precisamos abandonar nosso esquema mental linear OU/OU (OU isto, OU aquilo) e necessitamos pensar dentro do esquema mental paradoxal E/E (isto, E aquilo).

Para o paciente de Transtorno do Pânico, o diagnóstico de TP, paradoxalmente, pode funcionar como um atestado de sanidade. Isto pode parecer estranho se raciocinarmos dentro do esquema mental linear. A fim de que se possa compreender o que seria este "atestado de sanidade" pode-se exemplificar desta forma: quem é que não fica contente diante de um diagnóstico de pneumonia quando os outros prováveis diagnósticos seriam embolia pulmonar ou tuberculose?

A grande maioria dos pacientes de TP sente um alívio imediato quando recebem este diagnóstico; não que este tenha algo em especial, pelo contrário, já o próprio nome é horroroso: Transtorno do Pânico! Consultando o Dicionário de Sinônimos podemos ter uma idéia...
Transtorno: desorganização, desarranjo, desordem, perturbação, aflição, inquietação.
Pânico: pavor, terror, medo, horror.


Normalmente, esses pacientes já fizeram uma via crucis tão grande a pronto-socorros e consultórios médicos que, quando o diagnóstico chega a eles, funciona como uma bênção!
Finalmente ficam sabendo que não são o que, vulgarmente, se chama de "loucos"! Grande parte dos profissionais da área de saúde mental não costuma rotular seus pacientes. A grande maioria dos pacientes, também não gosta de ser rotulada. Contudo, muitas vezes, no caso do TP, o rótulo é importante, pelo menos num primeiro momento.

O paciente de TP está tão acostumado a ouvir de médicos em geral que as coisas horríveis que sente “não são nada”, que é “só cansaço”, “estresse”, que seu “coração está perfeito”, que “não há nada físico”, que “ele não tem nada”, etc. e tal, que começa a crer que só pode estar ficando louco! Vários reforços subliminares são feitos nas diversas peregrinações que faz a diversos especialistas... Não é tão incomum que essa roda-viva dure anos até que o paciente chegue no profissional certo! E essa peregrinação é traduzida em anos de sofrimento.

É certo que hoje em dia, esse Transtorno está sendo mais divulgado nos meios de comunicação; as pessoas estão mais esclarecidas e os médicos estão mais atentos a ele, incluindo-o no seu provável diagnóstico. Mesmo assim, o paciente do TP ainda tem que contar com a “sorte” de pegar um profissional bem atento! Sim, porque para fazer um diagnóstico, há que se ter as diversas doenças em mente. Se o médico nunca pensa em TP, a chance de dar um diagnóstico de TP é pouco provável; até porque alguns sintomas são semelhantes aos de outras doenças.

O diagnóstico (rótulo) é importante, pois põe o paciente em contato com a realidade, já que seu medo é virtual (irreal). Através do diagnóstico ele tem certeza de que o que sente é real, tem nome, tratamento e controle, talvez cura. E mais: fica sabendo que milhares de pessoas têm o mesmo problema. O portador de TP fica sabendo, então, que não é um E.T. num mundo só de pessoas “normais” que não se apavoram repentinamente em situações “nada a ver”... O diagnóstico, neste caso, elimina o sentimento interno de total “falta de chão”, de total falta de “contato com a realidade”, ou seja, a sensação de que “está ficando doido”!

Como já foi dito anteriormente, num primeiro momento, o rótulo é um passaporte para a melhora! É claro que o tratamento é que é o passaporte definitivo, mas o rótulo é bem importante no primeiro contato real com a doença!

Paradoxalmente, o diagnóstico leva o paciente de TP a sentir-se “normal”, após tanto tempo em sua vida! Ele sabe que tem uma doença, sim, mas de certa forma, "normal". O horror pelo qual ele tem passado não é criação da sua cabeça. Quer dizer, ele sabe que é criação de sua cabeça, pois é virtual, irreal... mas está dentro de uma certa "normalidade patológica", já que está “perfeitamente enquadrado” num diagnóstico.

É importante lembrar que para compreender esta doença não se pode raciocinar dentro do esquema mental OU/OU (OU isto, OU aquilo) que não funciona, pois o TP é paradoxal. Para compreendê-lo é necessário utilizar o esquema mental E/E. Afinal, o TP caracteriza-se por um medo “virtual” forte e repentino, acompanhado de sintomas físicos como se fosse um medo real intenso, isto é, como se o indivíduo estivesse frente à frente com um leão, mas na realidade, ele está diante do seu gatinho de estimação, ou está no shopping ou num restaurante ou no trabalho, etc. Apesar da crise não vir do “além”, pois sempre há um somatório de fatores (até um pensamento, às vezes), a impressão que o indivíduo tem, é que veio do nada.

Resumindo, o portador de TP sente com todo seu organismo o medo de algo que não oferece perigo nenhum - nem virtualmente - e reage como se houvesse um perigo iminentemente real!

Quanto ao rótulo, ele é bastante favorável no início, mas é claro que é importante que o paciente, aos poucos, se desvincule dele. Aí vem outro problema: no momento em que o paciente recebe ou descobre seu diagnóstico (e se não recebe, invariavelmente acaba descobrindo!) ele se agarra ao rótulo como um náufrago numa tábua de salvação: fortemente, desesperadamente!

Em conseqüência disto, livrar-se do rótulo é mais difícil, pois parece que o “atestado de sanidade” vai embora junto com ele. Provavelmente, é por isso que inúmeros pacientes de TP, após terem o diagnóstico, o carregam como se fosse um troféu! Na realidade, não é um troféu. ... Ou é? Quantos anos se passaram até obterem ajuda adequada?!? Recebem o diagnóstico como se fosse "um troféu" (“finalmente alguém descobriu o que tenho”!) e um "atestado de sanidade" (“ufa, não sou doido”!). Esta atitude não é consciente, mas inconsciente, claro.

Certamente, não é por aí. Muitas pessoas demoram para chegar a esta conclusão, mas se dão conta e aprendem, com o tempo!

Parte 2

Texto revisado por Cris

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