SEPARAÇÃO ... parte I
Atualizado dia 11/19/2006 4:14:11 PM em Autoconhecimentopor Joäo Virginio Silva
Se prestarmos um pouco mais de atenção às nossas próprias experiências, veremos claramente que a vida, em si mesma, não é dividida. Não há divisão alguma na vida, pois a vida é uma unidade. A vida, em si mesma, permanece e permanecerá sempre indivisível. Somente na mente humana há essa divisão; só a mente humana pensa em termos de separação; sendo assim, tudo o que a mente afirma é, certamente, muito falso.
Observe uma árvore, preste atenção à terra da qual você faz parte, procure sentir como você e todas as demais coisas estão numa profunda unidade orgânica. A primeira sensação que temos é a de que estamos e vivemos separados das demais criações divinas, e isso tem nos acarretado um profundo medo de viver. As árvores, os pássaros, o céu, o sol, a lua e todo o universo parecem-nos isolados, separados de nós, mas, não estão de modo algum separados. O sol está muito distante de nós e da Terra, mas não podemos existir aqui se o sol morrer. Se isso um dia acontecer, e tudo me leva a crer que um dia isso ocorrerá, certamente também deixaremos de existir aqui, pelo menos, com essa forma que possuímos hoje.
Somos todos partes integrantes dos raios solares. Acredito profundamente que o Universo é uma unidade cósmica e que nós não estamos isolados dele. Penso que fazemos parte dessa imensa criação cósmica. Estamos todos ligados a tudo, completamente enraizados no oceano da existência, assim como uma onda está enraizada no mar. Se não conseguirmos ter esse profundo sentimento, jamais poderemos saber o que é paz interior, jamais saborearemos o néctar do amor Divino.
Se você se considera um indivíduo, um ser separado dos demais, obviamente, não poderá jamais se fundir com o universo e muito menos ter coragem suficiente para se jogar nos braços da vida. Quando não se pensa mais em termos de separação, torna-se muito fácil entregar-se à vida. Só podemos confiar na vida se sentirmos que somos unos com ela. Esse sentimento de unidade destrói completamente o medo. Você pode morrer alegremente, em êxtase. Somente nessa entrega absoluta não haverá medo algum da morte. O medo da morte surge porque pensamos que estamos separados e, nessa ilusão, começamos a lutar com a vida tentados a nos proteger dela como se fosse um terrível inimigo. Daí a ânsia de conquistar, vencer, pegar, guardar, acumular, etc.
Mas, apesar de todas essas defesas para se proteger, a derrota será inevitável. Pois somos, todos nós, uma parte do todo; apesar de continuarmos a lutar com o todo, somos parte dele, fazemos parte dele. Olhe por toda parte, observe como todos estão cansados, desiludidos, frustrados e derrotados. Pena que somente no final da vida é que a maioria se dá conta de que a vida delas foi uma jornada longa de derrotas e nada mais.
Isso não tem nada a ver com religião, isso tem a ver com religiosidade. Um homem verdadeiramente religioso jamais pensa em termos de separação. Somente um homem de religião pensa em separação. Um homem de religião é uma coisa e um homem religioso é outra coisa completamente diferente. Há uma distância enorme entre um homem de religião e um homem religioso. Um homem que pensa que está separado da vida, não é certamente um homem religioso. Somente um homem religioso sabe que ele é uma parte orgânica da vida.
Orgânica também é completamente deferente de mecânica, pois a parte que é mecânica pode ser arrancada e substituída por outra. Já a parte orgânica não pode jamais ser extirpada sem que destrua todo o processo de funcionamento. Orgânico não é uma parte, o orgânico está além da parte, está em profunda unidade com o todo. Assim também um homem verdadeiramente religioso vai além da religião, vai além do medo, tanto da vida quanto da morte, porque sabe que o indivíduo não é nada; somente o todo é, somente o todo existe.
Com esse tipo de consciência não há espaço algum para o medo. Até mesmo a morte torna-se uma comunhão, torna-se um encontro. A morte jamais foi uma dissolução, a morte é uma extraordinária fusão e nunca esteve contra você. A morte é um profundo relaxamento para cada um de nós. A vida é tensão, ansiedade, mas a morte relaxa. Com a morte, voltamos novamente à fonte original de onde nunca saímos. O renascimento é como uma onda que se ergue; na morte essa onda cessa no oceano e vai descansar. Na verdade, a morte é um profundo repouso. E antes de um novo renascimento, esse tipo de repouso é necessário. A partir do momento em que compreendemos isso, não há mais medo.
Desde que aceitemos e nos tornemos conscientes dessa profunda unidade, a unidade orgânica, oceânica, aceitaremos todas as coisas. Você saberá que tudo é um, saberá que a existência toda é una. Claro que a existência se manifesta de diferentes formas, mas só as formas são diferentes. Porque a substância, a essência de tudo, permanece sempre uma só.
Com esse tipo de entendimento será muito fácil você entrar em meditação, pois a meditação é semelhante à morte. Meditar é dissolver o Ego. Tanto que se você tiver medo da morte, você não se permitirá entrar totalmente e profundamente em meditação, pois a meditação é uma espécie de morte. Na meditação você morre enquanto indivíduo, enquanto ego e torna-se Um com a existência não-egóica. Por isso é que se você temer a morte, temerá também a meditação. Se conseguir amar a meditação, certamente, amará também a morte, não a temerá mais. Se você entrar na meditação sem temor, sem medo, tornar-se-á imortal, pois não haverá mais nenhuma morte para você. Porque o “você” já estará morto. E aquele que entra em meditação, jamais morre. A morte não pode destruí-lo. Apenas o ego morre, jamais você.
A nossa vida é eterna, somente o ego é transitório. O ego é apenas um fenômeno criado, formado pelos condicionamentos culturais e religiosos. Foi você mesmo quem o criou. Claro que o ego é necessário, claro que o ego tem algumas utilidades. Para vivermos em sociedade precisamos de um ego, mas na vida, na existência, esse mesmo ego torna-se uma coisa horrorosa, torna-se uma barreira à verdadeira vida.
Texto revisado por Cris
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