A DOR DA BUSCA Parte I I
Autor Joäo Virginio Silva
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 9/23/2006 10:42:38 PM
A paz, a felicidade, a realidade, a verdade, Deus, ou o que quer que seja, pode nos ser dada por uma outra pessoa, seja ela quem for. Pode essa busca incessante, essa ânsia, nos dar aquele extraordinário sentimento de realidade, aquele “modo de ser” criador, que surge quando compreendemos verdadeiramente a nós mesmos.
O autoconhecimento vem á nós como resultado de busca nos vem como resultado de seguirmos outras pessoas, como resultado de pertencermos a uma determinada organização, ou de lermos muitos livros. Afinal de contas, o ponto mais importante é este, ou seja, enquanto eu não compreender a mim mesmo, não tenho nenhuma base para o pensamento, e sendo assim, toda minha busca será então_ completamente em vão, sem nenhum sentido. Claro que posso me refugiar em ilusões, é óbvio que posso fugir das competições estúpidas e infantis dos homens, da lutas, do conflito_ claro que posso venerar uma pessoa, posso buscar minha salvação através de outras pessoas, etc, etc. Mas enquanto eu desconhecer a mim mesmo, enquanto desconhecer o processo total de mim mesmo, não tenho nenhuma base para o pensamento, para o afeto e para a ação correta e harmoniosa.
Mas, infelizmente o fato de conhecer a nós mesmos é justamente, a coisa que menos desejamos na vida. Mas o auto conhecimento é, no entanto, decididamente, a única base sobre o qual podemos edificar alguma coisa sólida na vida. O resto é pura enganação e delírio, perda de tempo.
Antes de podermos construir, antes de podermos transformar, antes de podermos julgar, condenar ou destruir, precisamos saber o que, realmente, somos. Você não acha. Nos por a procurar a felicidade, a trocar de instrutores, de guias, nos induzir a praticar Ioga, a disciplinar a respiração, observar e participar de rituais, seguir mestres, ou qualquer outra estupidez igual a essas, sem saber o que realmente somos é inteiramente inútil, não achas. Porque o que nós somos o mundo também é. Se formos mesquinhos, invejosos, vãos, gananciosos e estúpidos, isto é o que criamos ao redor de nós também, isto é a sociedade em que vivemos. Por isso acredito sinceramente, que antes de nos colocarmos a caminho para achar Deus, antes de podermos agir, antes de termos relações uns com os outros, as quais constituem a sociedade em que vivemos, antes de tudo isso, é essencial começarmos pela compreensão de nós mesmos. Penso que uma pessoa realmente séria e que esteja, realmente interessada nos problemas humanos e, conseqüentemente, do mundo é aquela que está interessada nesse fato, em primeiro lugar, e não em como atingir um determinado alvo porque, se vocês e eu não nos compreendermos a nós mesmos, não há como a nossa ação promover uma mudança real e verdadeira, na sociedade, na vida de relação, ou em qualquer outra coisa que fazemos. Claro que isso não quer dizer que o auto conhecimento seja uma coisa oposta á vida ou um isolamento da vida de relação. É óbvio que não significa também uma exaltação ainda maior do indivíduo, do “Eu”, como uma coisa oposta à massa, ou como oposto a um outro indivíduo. Nada disso, pelo amor de Deus. Pois bem, se não conhecemos a nós mesmos, se não conhecemos a nossa própria maneira de pensar e o por que pensamos certas coisas, o por que pensamos de determinada forma, se não conhecemos o fundo do nosso condicionamento mental e não sabemos por que temos certas crenças relativas á arte e a religião, relativas á pátria, ao nosso próximo e a nós mesmos então, como poderemos pensar de um modo correto a respeito de qualquer coisa. Diga-me, por favor: Há alguma possibilidade. Certamente que não, não é verdade. Se não conhecemos nosso íntimo, se não conhecemos a substância do nosso modo de pensar e nem de onde ele provem nossa busca sem dúvida alguma, é totalmente fútil, completamente tola sendo assim, as nossas ações não têm nenhum significado que, realmente, valha a pena, não é verdade. Como também, não tem nenhum significado o fato de sermos americanos, brasileiros, japonês, católico, hindu ou budista ou de pertencermos a qualquer outra religião. Antes que possamos esclarecer-nos sobre a finalidade da vida, antes de descobrirmos o que significa tudo isso, guerras, violência, terrorismo, antagonismo nacionais, conflitos, etc, etc... Enfim, antes de descobrirmos o que significa toda essa confusão, temos de começar por nós mesmos, não achas. Claro que isso nos parece muito simples, mas não é não.
É extremamente difícil porque para que sejamos capazes de observar a nós mesmos, de ver a nós mesmos e como opera o nosso pensamento, precisamos estar num estado de intensa vigilância.
E, assim, começando a perceber cada vez melhor as complexidades do nosso pensar e de nossas reações e sentimentos, teremos uma compreensão mais clara, não só de nós mesmos como dos outros também com quem estamos em relação. Conhecer a si mesmo é estudar a si mesmo em ação, que é relação. O mal é que somos muito impacientes queremos tocar para frente, queremos chegar á meta rapidamente e, por isso, não há tempo nem oportunidade para estudarmos e observarmos a nós mesmos. Estamos empenhados em várias atividades, alternadamente ganhar a vida, criar os filhos, ou assumimos certas responsabilidades perante várias organizações_ estamos tão cheios de compromissos, de diferentes espécies, que dificilmente encontramos tempo para a reflexão sobre nós mesmos, para observarmos e estudarmos. Portanto, a responsabilidade da reação é totalmente nossa e de mais ninguém. Anda pelo mundo em busca de gurus e de seus sistemas, ler os livros mais recentes sobre esta ou aquela matéria, etc, parece-me completamente vão, completamente tola. E, já que em geral nos desconhecemos totalmente, é dificílimo começarmos a ver com clareza o processo do nosso modo de pensar, senti e agir. Quanto mais uma pessoa se conhece, tanto mais clareza existe nessa pessoa. O auto conhecimento é infinito, nunca termina, nunca chega a um fim, nunca se chega a uma conclusão. É um rio fluindo constantemente e sem fim. Estudando-o e penetrando-o mais e mais, encontramos a paz. Somente quando a mente está tranqüila, em virtude do auto conhecimento e não de auto disciplina, somente então, nessa tranqüilidade, nesse silêncio, pode manifestar-se à realidade. Só então pode haver bem-aventurança e ação que realmente, cria coisas novas. Sem termos esta compreensão, esta experiência, nos por a ler livros, a assistir conferências, a fazer propaganda, isto me parece extremamente infantil, isto me parece uma simples atividade do Ego, portanto, sem nenhuma significação. Mas, se ao contrário, o indivíduo, se a pessoa for capaz de compreender a si mesmo e, por conseguinte, de fazer nascer àquela felicidade criadora, aquele experimentar de algo não produzido pela mente, então talvez possa haver uma transformação imediata das relações, ao redor de nós, e, conseqüentemente, no mundo em que vivemos também.
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