A NEUROSE DA CRENÇA - Parte I
Autor Joäo Virginio Silva
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 9/23/2006 10:51:44 PM
Há no mundo de hoje três classes de religiosos egoístas, e parece-me que dominam a mente da maioria da humanidade. Mas, a meu ver são todas elas_ extremamente egoístas.
A primeira classe é chamada de “os espiritualistas” que são aqueles que dizem ter renunciado ao mundo em favor das coisas do espírito. A Segunda é a classe daqueles que denominam crentes_ são os orientalistas, os fervorosos crentes da fraternidade. E a terceira é a classe dos utopistas ideológicos. Cada uma dessas classes empenha-se com ardor no seu trabalho e, ignoram as atitudes e atividades dos outros, sentem-se fortalecidos pela suas próprias convicções, como se a vida fosse uma questão de ideais e convicções inventadas pela mente humana. De qualquer forma, cada uma dessas classes está ardentemente apegadas á suas crenças particulares, e todos. Muito estranhamente são pessoas sem piedade alguma.
Os utopistas pelas convicções que possuem, estão prontos a sacrificar a si próprios e aos amigos. Embora se mostrem suaves e cordiais, em especial os pregadores da fraternidade, os crentes, podemos perceber muito facilmente neles a dureza dos vossos corações e a peculiar intolerância característica daqueles que sem acham superiores aos demais. São os eleitos, os interpretes de Deus, acreditam que possuem a sabedoria e as certezas da vida.
Os espiritualistas acreditam que estão aqui nesta maravilhosa terra resgatando as suas dividas kármicas do passado e se preparando para uma próxima vida. Esta vida, dizem eles_ tem muito pouco para lhes oferecer, pois já atravessaram todas as ilusões do mundo e abandonaram os hábitos mundanos. Claro que ainda possuem certas fraquezas pessoais e certas dificuldades no que se refere á concentração, mas na próxima vida irão, certamente, alcançar o estado ideal de um espírito iluminado. Claro também que esses ideais foram eles mesmo que estabeleceram para si próprio. Ou seja_ todos os seus interesses e vitalidade se concentram na convicção, na crença de que estão eles destinados a ser alguma coisa melhor do que são hoje numa próxima vida. Hoje não, hoje eles não conseguem atingir seus ideais_, mas numa próxima vida_ sim. Veja a loucura da crença, a neurose do amanhã. Para essas pessoas o mais importante é o amanhã, o futuro. Já vivemos no passado, existiu o passado, dizem eles, mas sempre em relação com o futuro_ o presente para essa gente não passa de uma simples passagem para o futuro, para o amanhã, e o hoje só é interessante por causa do amanhã. Veja só a doideira. Se não houver o amanhã, para que então_ fazer qualquer esforço. Se não houver amanhã, é melhor então_ vegetar, ou levar a plácida existência de uma vaca. Essas são as afirmações deles tentando defender as suas convicções religiosas. O todo da vida é um movimento continuo, do passado, através do fugitivo presente para o futuro. Devemos nos servir do presente par nos tornarmos alguma coisa no futuro_ para nos tornarmos sábios, fortes e compassivos. O presente, como o futuro, é transitório, mas o amanhã amadurece os frutos. Essa é a crença filosófica deles_ veja como eles insistem em acreditar que o dia de hoje não é mais que um degrau e que não devemos nos mostrar nem muito ansiosos nem muito interessados a seu respeito_ devemos manter sempre vivo em nossas mentes_ o ideal de amanhã, e fazer com êxito a jornada para o lado de lá. Resumindo, o presente os incomoda muito, incomoda demais, não é verdade. Essa é a classe dos chamados espiritualistas reencarnacionistas, essa é a linguagem deles. Agora vem os crentes, os campeões da fraternidade, aqueles que tem uma linguagem mais poética, e sabem manipular bem as palavras convencendo a cada dia mais um punhado de desavisados. Se você não ficar esperto, eles te convencem também. Eles também trabalham para o futuro, para o seu deleite divino. Estão também “destinados” a ser alguma coisa no futuro. Essa infeliz idéia também ocupa um espaço enorme tanto na mente como no coração dessas pessoas. Assim como o melado atrai as moscas, eles também arrebanham discípulos a todo instante, enchendo templos e Estádios para conduzir àquele povo todo a um futuro dourado. A morte diz eles_ é bela, porque ela nos aproxima daquele paraíso divino junto com Deus. Só esta aspiração já é necessária para que eles possam viver nesse mundo cheio de aflições e feiúra, e porque não, se tornarem também homens bombas, homens suicidas. É essa crença neurótica que provoca essas coisas horrorosas. Eles ficam empolgados somente com a idéia de transformar e embelezar o mundo, de trabalharem com ardor pela fraternidade humana. Acham que a ambição com toda a sua crueldade e a corrupção que a acompanham, é inevitável num mundo em que se têm de realizar coisas_e que, infelizmente, para se levar a cabo certos trabalhos de organização doutrinária é necessário impor um pouco de dureza. Dizem eles que a obra deles é importante porque ela irá beneficiar a humanidade toda, e quem se opor a esta obra precisa ser eliminado_ suavemente, é claro. A organização dessa obra é de suma importância e não deve ser estorvada de jeito nenhum. Outras pessoas seguem os seus respectivos caminhos_ dizem eles_, mas o caminho que nós seguimos é essencial, é o único caminho, é a porta para a felicidade, e quem quiser nos embargar os passos não é dos nossos. Veja a loucura ai também.
Agora vem os utopistas, os idealistas, os materialistas, os políticos _ a sua Bíblia já não é mais a velha, mas a Bíblia nova, ou bolsa de valores, ou economia. Esses dizem conhecer os resultados que serão colhidos no futuro. Seus planos são o de confundir, organizar e executar. O presente, diz eles_é corrupto e deve ser destruído, porque esta destruição é indispensável para a construção de um mundo novo. O presente tem de ser sacrificado à bem do futuro. O homem do futuro é de máxima importância para esses utopistas, o homem do presente não serve para nada. E o pior é que eles dizem saber como criar aquele homem futuro. Podemos moldar sua mente e seu coração, diz eles_, mas só que precisamos, primeiro, conquistar o poder, a fim de podermos fazer algo de bom. Vamos sacrificar a nós mesmos e aos outros, para criarmos um Estado novo. E quem quer que se oponha em nosso caminho, será morto, pois os meios justificam o fim, os meios não importa_ o fim justifica quaisquer meios. Para alcançarmos a paz final, podemos recorrer a qualquer forma de violência_ para se alcançar à liberdade final do indivíduo, é inevitável, agora, no presente, a tirania e a brutalidade. Quando tivermos o poder nas mãos_ aplicaremos toda espécie de compulsão, para criarmos um mundo completamente novo, sem distinções de classes e sem sacerdotes. Da nossa tese central nunca nos arredaremos, nela estamos fixados, mas nossa estratégia e nossa tática terão de variar segundo as circunstâncias. Planejamos, organizamos e agimos, a fim de destruirmos o homem atual, a bem do homem do futuro. Veja mais uma vez a neurose e a estupidez da crença e da ideologia
Pois bem, então_ o espiritualista, o crente e o materialista_ são todos extremamente egoístas e todos vivem para o amanhã, todos vivem para o futuro. Não são ambiciosos talvez, no sentido mundano, não aspiram a honrarias ou louvores_, mas são ambiciosos de uma maneira mais sutil.
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