A NEUROSE DA CRENÇA - Parte I I
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Autor Joäo Virginio Silva
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 9/23/2006 10:52:55 PM
O utopista se identificou, se apegou a um grupo de pessoas que ele imagina ou julga ter o poder de reorientar o mundo. O crente adepto da fraternidade aspira á glorificação e o espiritualista, aspira atingir sua meta. Todos estão cheios até a tampa de cuidados a respeito de sua própria transformação, de seu próprio aperfeiçoamento e expansão intelectual. Só que ambos não percebem ou pelo menos, não querem perceber_ que tal desejo nega completamente a paz, a fraternidade e a felicidade suprema. Por que. Porque a ambição, sob qualquer forma_ seja ela a bem de um grupo, ou seja, ela a bem da salvação individual ou da perfeição espiritual_ é ação adiada. O desejo está sempre em relação ao futuro, o desejo de vir a ser diferente no futuro representa inação no presente. O agora tem muito mais importância do que o amanhã. Porque no agora está compreendida a totalidade do tempo, e compreender o agora é estar livre das malhas do tempo. O vir á ser melhor no futuro é a continuação do tempo, do sofrimento. O vir á ser não contém o ser. O ser está sempre no presente, e ser é a mais elevada forma de transformação. Vir á ser é pura e simplesmente uma continuidade com pequenas variações e só pode haver transformação radical no presente_ no ser. O resto é a neurose das crenças que assolam e dominam o mundo_ infelizmente. São as crenças e as ideologias que nos fazem ficar apegados, identificados e tolos. Quantas e quantas vezes já nos denominamos como cristãos, budistas, hinduistas, muçulmanos etc. Quantas vezes você já falou ou ouvia alguém dizer_ eu sou cristão, eu sou isso, ou eu sou aquilo. Porque fazemos isso, porque pertencemos a qualquer das inúmeras seitas que existem por ai. É óbvio que nos identificamos com determinadas religiões ou com determinados partidos políticos, com este ou com aquele grupo, pela força da tradição cultural ou por hábito, ou até por impulso próprio, preconceito, imitação ou burrice mesmo, não é verdade. Mas, essa identificação destrói toda a nossa capacidade á compreensão da vida e nos torna escravos das circunstâncias, essa identificação, esses apegos nos transformam em simples instrumentos, em marionetes nas mãos do chefe do partido, nas mãos dos sacerdotes, pastores ou de líderes favorito. Outro dia mesmo, recentemente, um casal me disse que ele era Kardecista e a mulher dele pertencia a um outro grupo_ ela era católica. Fiquei observando atentamente esse casal e notei, senti que essas duas pessoas estavam totalmente inconscientes do que significa ser católico, Kardecista ou qualquer outra denominação. Estavam totalmente inconscientes de tal identificação. Porque será que as pessoas se tornaram católicas, Kardecista, evangélicas, budistas, etc? . Muitas vezes, a maioria pelo menos, já seguiu outras denominações, já pertenceram a muitos outros grupos e organizações e, talvez, entediadas de tudo isso, achavam-se agora identificadas com aquela certa pessoa, com certa filosofia. Pelo que esse casal dizia, parecia-me que já estava concluída a jornada deles, a busca deles tinham terminado. Chegaram à parada final, e o caso estava completamente liquidado_ nada mais podia abalá-los. Sendo assim, agora eles iriam se instalar confortavelmente e seguir, com muito zelo, as coisas já ditas e as coisas ainda por dizer.
Lindo né. Muito lindo, mas completamente idiota. Porque o fato de nos identificarmos com o outro não é, evidentemente, um sinal de amor. Identificação não é, obviamente, investigação.
Muito pelo contrário, pois a identificação coloca um fim a investigação e ao amor. A identificação, que é uma forma de apego, é sem dúvida alguma_ posse, é uma afirmação da posse_ e a posse nega o amor, não é verdade.
Possuir é tentar estar seguro psicologicamente, a posse é uma forma de defesa, é um meio de nos tornarmos invulneráveis. Na identificação, no apego mais grosseiro ou mais sutil, há sempre uma forma de resistência, de autoproteção, e o amor não pode de forma alguma ser uma forma de resistência ou de auto proteção. Óbvio que não há amor algum, quando há defesas. Porque o amor é vulnerável, flexível, receptivo_ o amor é a mais elevada forma de sensibilidade, e a identificação que é apego_ produz a insensibilidade. A identificação e o amor são coisas totalmente incompatíveis_ porque um destrói o outro. A identificação é, essencialmente, um processo de pensamento, pelo qual a mente se protege e se expande_ e no vir á ser alguma coisa no futuro, a mente tem de resistir e defender tem de possuir e abandonar. Nesse processo de vir a ser, a mente, ou o Eu, como você preferir_ se torna mais rijo, mais endurecido e, também mais eficiente__ só que isso não significa amor. A identificação destrói a liberdade, e somente na liberdade pode existir a mais elevada forma de sensibilidade_ que é o amor. Para investigarmos, não há nenhuma necessidade de identificação. O próprio ato de identificação coloca um fim a experimentação e ao descobrimento. A felicidade que acompanha a verdade não pode existir sem o investigar que leva ao autoconhecimento. A identificação põe fim ao descobrimento da verdade, e somente a verdade liberta o homem e não as crenças. Identificação é experiência de segunda mão e, por isso, uma coisa completamente falsa.
Para que possamos investigar sobre a verdade, a vida ou Deus, deve cessar toda identificação ou apego, e nenhum medo deve existir_ porque o medo também impede a investigação. Aliás, é exatamente, o medo nos leva a identificação e aos apegos. A identificação com o outro, com o grupo, com uma ideologia, é o medo que a produz. O medo tem de resistir reprimir, e num estado mental de auto defesa, quem pode aventurar-se ao mar desconhecido. Ninguém.
Não há como surgir à verdade ou a felicidade, se não empreendemos a viagem de descobrimento das atividades do Eu. Ninguém pode navegar para longe se está ancorado. A identificação, portanto, é um refugio, uma fuga á realidade e, todo refúgio exige proteção, e aquilo que se protege, seja o que for_ não demora a ser destruído. A identificação ou o apego atrai inevitavelmente, a destruição_ por isso_ o constante conflito entre as várias formas de identificação. Gente, quanto mais lutamos a favor ou contra a identificação, maior será também a nossa resistência á compreensão. Se estivermos bem conscientes do processo integral da identificação, tanto a nível exterior quanto a nível interior, se percebemos que a sua expressão exterior é “projetada” pela exigência interior, há então possibilidade de descobrimento e de felicidade. Fora isso não vejo como. Aquele que se identifica, que se apega, jamais conhecerá a liberdade, e somente na liberdade pode a verdade surgir.
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