A ARTE DE SABOREAR A VIDA
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Autor Ton Alves
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/9/2016 9:25:32 PM
Alguém, querendo que o ser humano não se soltasse livre pela vida, experimentando o gosto ácido das surpresas e o doce das descobertas, criou uma falsa doutrina de que era preciso saber viver. Por que saber viver? A vida não se sabe. Vive-se. Aprender a viver se resume no simples e belo ato de deixar a vida fluir e nos lançarmos em sua correnteza, prontos para usufruir tudo o que de bom e mal se nos aparecesse pela frente. Afinal, só é completo o que pode ser percebido por todos os seus lados. As criaturas que mais vivem, ou seja, que mais intensamente exploram cada momento da existência são aquelas às quais não lhes foi impingida nenhuma doutrina. Aqueles seres viventes que apenas vivem, sem nunca serem instruídos em como deviam viver. Ensinou-se a arte da vida ao pássaro que voeja pelas árvores do meu quintal? E as árvores, elas próprias, quem lhes deu a métrica e a rima da canção da vida? Quem treinou o regato a correr, ora lépido e cantarolante, ora lento e remansoso? Quem disse aos átomos do mineral como deviam vibrar rodar e se contrair para dar existência ao calhau, ao penedo e aos pedregulhos? Estas perguntas começaram a martelar minha cabeça há um bom tempo. E acabei por tirar do rosário de minhas frustrações a conta do nunca ter sabido, convenientemente, viver. Pois, por mais que tenham tentado me ensinar, por mais que procurei aprender, nunca soube como me portar diante de cada fenômeno da existência. Claro que as experiências me forneceram alguns preconceitos, com os quais, às vezes, qualifico, quantifico e imagino saber como enfrentar cada evento. Mas nunca para saber, realmente, como vivê-los. A brisa que vem do lago, e que ameniza o calor estafante desta tarde de fim de Verão, sabia o caminho que deveria percorrer? E está nos seus preparativos o destino para onde irá, depois de refrescar meu rosto? Se perguntar ao caminho que leva ao meu refúgio por entre as árvores do cerrado que margeia o Lago do Corumbá, se ele sabe para onde se dirige, ficará sem resposta. Certamente. Saber é saborear. Portanto é nunca experimentar por antecipação. Não se sabe enquanto não se saboreia. Não há como se preparar para a vida que acontece na sequência de gotejantes momentos. A presunção humana cria em nós a ilusão da capacidade de prever e de prevenir. Mas as ilusões são como as nuvens, se modelam e remodelam o tempo inteiro. E só produzem mesmo o vazio das decepções. Li, há vários anos, uma declaração do Betinho, o quixotesco batalhador contra a fome, onde contava como havia vivido a morte de seus dois irmãos. Sem pieguice, e muito melancólico, Betinho lamentava que, por mais que houvesse se preparado para as mortes, sua e de seus irmãos hemofílicos e aidéticos como ele, viu-se apanhado de surpresa quando os corpos de Chico Mário e Henfil foram completamente destruídos pelas doenças. “Nem toda a minha filosofia de vida, nem a larga experiência de dor, exílio e despedidas que eu havia vivido me ajudaram naqueles momentos”. Admitindo que nem a fé na solidariedade, nem o ateísmo humanamente sutil lhe valeram de nada, gemeu: “Foi tudo tão novo e tão terrível!” Numa carta ao amigo Chamberlain, Willian Shakespeare reconheceu que, apesar de ter escrito tantas tragédias, imaginado e dado forma ao desespero e à angústia de tantos personagens, não soube conter-se, nem raciocinar, quando uma violenta febre de sua esposa o fez pensar que a perdia para a peste. Como não sabia que deixaria este mundo bem antes de sua querida Ann, confessou: “Tive a nítida ideia do absurdo da vida e a falta absoluta de qualquer lógica dos sentimentos.” Iguais ao herói brasileiro da luta contra a ditadura e a miséria, e ao maior dramaturgo de todos os tempos, somos todos nós. Talvez sem a competência poética e a humana compaixão de ambos para definir o que sucede, nos abalamos desconcertados por cada um dos tremendos eventos que compõem a nossa existência. Sejam eles belos ou tremendamente horríveis. Isto prova a inutilidade do aprendizado sobre a vida. Saber viver é viver. E nem colecionar nossos entraves passados nos capacita a uma vitória sobre o desconforto. Cada momento é um momento. E a existência material, que acredito ser apenas parte da vida infinita, vai sempre exigir de cada um e cada uma apenas a mente aberta, as mãos em concha e o coração grato por tudo o que vier. Os únicos e possíveis meios de saber, saborear a vida!
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Ton Alves é coordenador do Projeto CASULO DE LUZ de incentivo à prática da MEDITAÇÃO HOLOMÍSTICA TRANSRELIGIOSA (MHT), baseada no exercício do silêncio interior, na contínua atenção ao instante presente e no amplo cuidado com as várias dimensões da realidade. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |