A busca por poder




Autor Paulo Tavares de Souza
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/7/2025 6:55:50 AM
Você não pode mudar ninguém contra a vontade dele, mas acredita que pode. Acha que, por estar em uma posição de poder sobre outra pessoa, pode ajustá-la aos seus padrões. Assim, o pai tenta modificar o filho, o patrão tenta moldar o funcionário, o porteiro tenta disciplinar os moradores de um prédio. No entanto, tudo isso, na maioria das vezes, não passa de uma ilusão, pois a verdadeira mudança ocorre de dentro para fora.
No livro A Microfísica do Poder, Michel Foucault discute como o poder está presente de forma sistêmica, permeando todas as relações humanas. No entanto, esse poder não é unilateral, imposto de cima para baixo; ele circula, influencia e é influenciado. Assim, aqueles que ocupam posições inferiores, em vez de se modificarem genuinamente para atender às imposições de quem detém o poder, muitas vezes usam máscaras. Tentam parecer o que não são para evitar conflitos. Assim se dão as relações entre pais e filhos, assim acontece no mundo corporativo, assim, enfim, ocorre em todo o tecido social.
As pessoas são o que são e estão inseridas em processos específicos. Têm visões distintas, passam por experiências diferentes, constroem percepções variadas sobre o mundo e, portanto, pensam e agem de maneira singular. Um princípio natural nos leva a viver em sociedade justamente para aprendermos uns com os outros, e não para impormos nossos modelos a partir da posição que ocupamos. Colocarmo-nos em guerra contra o outro, por meio de julgamentos, condenações e preconceitos, revela nosso atraso e nossa dificuldade em criar empatia pelas diversas expressões humanas.
Aqueles que são obrigados a mudar, na verdade, não mudam - apenas se adaptam. Isso lembra o conto infantil da gata que virou princesa. Um príncipe, ao vê-la, apaixonou-se e a convidou para jantar em seu castelo. Sentada à mesa com a família real, ao perceber um rato passando no canto da sala, a gata imediatamente saltou em sua direção. A natureza não dá saltos: ninguém deixa de ser o que é para ajustar-se ao mundo em que vive sem que seus instintos o traiam. Ainda assim, a convivência e o aprendizado podem levar a mudanças autênticas, desde que ocorram de forma voluntária e consciente.
Não podemos mudar ninguém à força, mas podemos mudar a nós mesmos - e ainda assim, não é fácil, pois desconstruir uma programação ancestral de crenças e valores é algo paulatino, que exigirá um processo de lapidação constante.
Ocorre que, diante do avanço nesse processo de mudança, o mundo automaticamente muda com a gente. As pessoas deixam de ser um problema, a capacidade de nos relacionarmos com o outro melhora significativamente, o ambiente familiar alcança níveis mais elevados de harmonia, o trabalho deixa de ser um fardo. Resumindo, tudo aquilo que parecia problemático sofre o impacto do nosso desinteresse em perpetuar conflitos desnecessários.
Há muito o que fazer em relação a isso. Temos um longo caminho para seguir nessa senda, e não é fácil enfrentar as inclinações beligerantes que a posição de poder evoca. Mas ter consciência disso já é um passo gigantesco.
É da natureza humana buscar ter mais e mais poder. Alfred Adler, discípulo de Freud, acreditava que todos nós nascemos com uma sensação de inferioridade - um reconhecimento de nossas limitações. Esse sentimento nos impulsiona a crescer e nos desenvolver, buscando um senso de superioridade ou realização. O problema surge quando essa busca pelo poder se torna desequilibrada, levando a comportamentos dominadores, autoritários ou manipuladores.
Ora, se o que nos impulsiona nessa direção é a visão inferior que temos sobre nós mesmos, não seria mais produtivo tentar transformá-la? Afinal, se a raiz do problema está na forma como nos enxergamos, não seria esse o primeiro passo para uma mudança real e duradoura?









Conteúdo desenvolvido pelo Autor Paulo Tavares de Souza Conheça meu artigos: Terapeuta Holístico, Palestrante, Psicapômetra, Instrutor de Yoga, Pesquisador, escritor, nada disso me define. Eu sou o que Eu sou! Whatsupp (só para mensagens): 11-94074-1972 E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |