A CONSAGRAÇÃO DO ESPAÇO SAGRADO
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Autor Paulo Rubens Nascimento Sousa
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 9/19/2011 3:56:00 PM
A fim de por em evidencia a não homogeneidade do espaço, tal qual ela é vivida pelo homem religioso, pode se fizer apelo à religião. Escolhamos um exemplo ao alcance de todos: uma igreja numa cidade moderna. Para um crente, essa igreja faz parte de um espaço diferente da rua onde ele se encontra. A porta que se abre para o interior da igreja significa, de fato, uma solução de continuidade, O limiar que separa os dois espaços indica ao mesmo tempo a distancia entre os dois modos de ser, profano e sagrado. O limiar é ao mesmo tempo o limite, a baliza, a fronteira que distingue e compõe dois mundos – e o lugar paradoxal onde estes dois mundos se comunicam, onde se pode efetuar a passagem do mundo profano para o mundo sagrado.
Uma função ritual análoga é transferida para as habitações humanas, e é por essa razão que este ultima goza de tanta importância. Numerosos ritos acompanham a passagem do limiar domestico: reverencias ou prosternações, toques devotados com as mãos etc. O limiar tem seus guardiões: “deuses e espíritos que proíbem a entrada tanto de adversários humanos como as potencias demoníacas e pestilenciais. É no limiar que se oferecem sacrifícios às divindades guardiãs.. O limiar, a porta, mostra de uma maneira imediata e concreta a solução de continuidade do espaço; daí a sua grande importância religiosa, porque se trata de um símbolo e, ao mesmo tempo, de um veículo de passagem.
Depois de tudo que acabamos de dizer, é fácil compreender porque a igreja participa de um espaço totalmente diferenciado daqueles das aglomerações humanas que a rodeiam. No interior do recinto sagrado, o mundo profano e transcendido. Nos níveis mais arcaicos de cultura, essa possibilidade de transcendência exprime-se pelas diferentes imagens de uma abertura: La no recinto sagrado torna-se possível a comunicação com os deuses; conseqüentemente, deve existir uma porta para o alto, por onde os deuses podem descer a terra e o homem pode subir simbolicamente ao céu. Assim acontece em numerosas religiões: o templo constitui, por assim, dizer, uma abertura para o alto e assegura a comunicação com o mundo dos deuses.
Todo espaço sagrado implica uma hierofania, uma irrupção do sagrado que tem como resultado destacar um território do meio cósmico que envolve e o torna um território do meio cósmico. Quando, em Haran, Jacó viu em sonhos a escada que tocava os céus e palas quais os anjos subiam e desciam, e ouvindo o senhor que ouvia no cimo: Eu SOU o ETERNO, o Deus de Abraão! Acordou tomado de temor e gritou: “quão terrível é este lugar! Em verdade é aqui a casa de Deus, é aqui a porta dos céus! Agarrou a pedra de que fizera cabeceira, erigiu em monumento e verteu azeite sobre ela. A este lugar chamou Betel, que quer dizer, casa de Deus (Genesis 28: 12-19). O simbolismo implícito na expressão “porta do céu” é rico e complexo: a teofania consagra um lugar pelo próprio fato de torná-lo aberto para o alto, ou seja, comunicante com o céu, ponto paradoxal de passagem de um modo de ser a outro.
Inúmeras vezes nem precisa de uma teofania ou de uma hierofania propriamente ditas: um sinal qualquer basta para indicar a sacralidade do lugar. “segundo a lenda, o morabito que fundou El-Hemel no fim do século XVI parou, para passar à noite, perto de uma fonte e espetou uma vara na terra. No dia seguinte, querendo retomá-la a fim de continuar seu caminho, verificou que a vara lançara raízes e brotos. Ele viu nisso o indicativo da vontade de Deus e fixou sua morada neste lugar.” É que o sinal portador de significação religiosa introduz
Um elemento absoluto e põe fim à relatividade e a confusão. Qualquer coisa que não pertence a este mundo manifestou-se de maneira apodítica, traçando desse modo uma orientação ou decidindo uma conduta.
Quando não se manifesta sinal algum nas imediações o homem provoca-o, pratica, por exemplo, uma espécie de evocatio com ajuda de animais: são eles que mostram que lugar é suscetível de acolher o santuário ou a aldeia. Trata-se em resumo, de uma evocação das formas ou figuras sagradas, tendo como objetivo imediato a orientação na homogeneidade do espaço. Pede-se um sinal para por fim à tensão provocada pela relatividade e à ansiedade alimentada pela desorientação, em suma para encontrar um ponto de apoio absoluto. Um exemplo persegue-se um animal feroz, e no lugar onde o matam, eleva-se o santuário; ou então põe em liberdade um animal domestico – um touro, por exemplo – procuram-no alguns dias depois e o sacrificam ali mesmo onde o encontraram. Em seguida levanta-se o altar e ao redor dele constrói-se a aldeia. Em todos, estes casos, são os animais que revelam a sacralidade do lugar, o que indica que os homens não são livres de escolher o terreno sagrado, que os homens não fazem mais do que procurá-lo e descobri-lo com a ajuda de sinais misteriosos.
Esses poucos exemplos mostram-nos os diferentes meios pelos quais o homem religioso recebe a revelação de um lugar sagrado. Como vimos, o sagrado é o real por excelência, ao mesmo tempo poder, eficiência, fonte de vida e fecundidade. O desejo do homem religioso de viver o sagrado equivale, de fato, ao seu desejo de se situar na realidade objetiva, de não se deixar paralisar pela relatividade sem fim das experiências puramente subjetiva de viver no mundo real e eficiente – e não numa ilusão... São por estas razões que se elaboram técnicas de orientação, que são, propriamente falando, técnicas de construção do espaço sagrado. Mas não devemos acreditar que se trata de um trabalho humano e é graça ao seu esforço que o homem consegue consagrar um espaço ao sagrado. Na realidade, o ritual pelo qual o homem constrói um espaço sagrado é eficiente à medida que ele reproduz a memória dos deuses e que o “mundo” todo é, para o homem religioso, “o mundo sagrado”.
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PSICOTERAPEUTA JUNGUIANO, ATUA COM HOMEOPATIA, TERAPIA FLORAL E FITOTERAPIA. PROFESSIONAL E SELF COACHING E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |