A cura pelo amor e o amor à cura
Autor Walter Luis Bastos Doege
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 2/19/2008 9:39:33 PM
alone, together
O amor - como cada um o concebe - é uma eterna transformação da energia sexual em energia espiritual. A energia é sempre a mesma mesmo as novas energias: existe uma energia, não poderia ser de outra forma, como existe o desejo, no singular, desejo que deseja apenas desejar...a partir da falta, da ausência. Onde há falta há desejo. Aceito este a priori é possivel afirmar que apenas o amor cura. A terapia, e a psicanálise e a astroterapia em especial, são procedimentos de cura através do amor. Em psicanálise a palavra - dita e escutada - ilumina, transmite, enseja, cria um espaço de intimidade, de encontro - meeting - e nesta experiência ocorre a cura que se manifesta como a capacidade de amar e ser amado, uma experiência em que a dualidade se desfaz, o ego e a temporalidade se desfazem, intermitentemente, até haver esta gradual abertura do ser. Como a roupa a palavra oculta e revela, mostra e disfarça, criando esta atmosfera de magia pois viver é um mistério: não é um enigma.
O que é trazido para curar? A vida de cada pessoa. Apenas a pessoa importa, apenas a pessoa é importante e uma pessoa não está desvinculada de sua vida: eu sou minha vida, eu sou meu corpo, eu não tenho um corpo. Eu sou minha vida, eu não tenho minha vida. Este dualismo é ilusório tanto quanto o dualismo entre mim e o outro. Mesmo o corpo não está dividido em partes nem existe esta dissociação entre corpo, mente, afetos e espírito. O ser é uno. Meu corpo é uno. Os pés, o coração, a cabeça, os pensamentos, os sentimentos, as emoções...são o ser. O ser em abertura é.
Quando percebemos que estamos conscientes temos ego. De forma geral, o que é recalcado e reprimido torna-se o inconsciente. A consciência (que tem o sol como significante) enraíza-se e refere-se ao inconsciente (que tem a lua como significante básico). Ego é tempo, este tempo que está no relógio que marca as horas iguais, que quantifica o tempo. O que é o tempo? A mente e o tempo são dois aspectos da mesma coisa: a existência da ilusão. A percepção de linearidade, de irreversibilidade, de mensuração...é algo mental, apenas. Na posibilidade de estar aberto ao eterno presente - em uma relativa e gradual emancipação do passado e do futuro - abrimo-nos à possibilidade de experimentar o tempo como qualidade - um objeto da astrologia e da psicanálise - de sentir a qualidade do instante, mestre perfeito. O mestre perfeito é o amor.
Uma vez que por pelo menos um instante percebemos o amor - latu sensu - esta experiência é transformadora, a grande alquimia é realizada. Esta alquimia da transformação que permite a experiência da divindade.
O amor cura. O amor à cura permite amar, permite perseverar no amar. Como lembra Cecília Meireles no cântico VII a cura permite amar sem amor. Amor é apenas uma palavra. Amar está além das palavras, é verbo muito além de um substantivo reificado, verbo que está na inefabilidade do ato de amar. Uma pessoa é seu relacionar-se.
O que é importante é a pessoa e apenas a pessoa: uma pessoa que ama. Amar é júbilo, é bem-aventurança, é alegria, é abundância, é luz e vida. Amemos sem amor. Amemos uns aos outros. Não existem outros salvo esta experiência de ser uno e um com nada e tudo.
Na experiência da não-dualidade amamos. Amamos sem amor: uma pessoa é amor ou não é humana. E o humano é a medida de todas as coisas (Protágoras).
Além do amar enquanto ato perfeito existem somente bobagens, algumas incômodas, outras perigosas. Tudo é uma bobagem exceto amar.
Invertendo o evangelista S. João: amor é Deus (tal como cada um o concebe); amar é ser divindade.
Love is all.
All is love.
A morte é uma brincadeira de mau gosto.
Namaste.
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