A DESPEDIDA
Autor Hellen Katiuscia de Sá
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 9/5/2005 6:52:42 PM
Ele a segurou docemente e sobre sua cabeça estavam as mãos dele; e ela lhe sorria com a serenidade de uma criança ao adormecer...
Passaram 25 anos juntos. Era muito tempo. Tiveram altos e baixos, uma filha e até um netinho. Sim, um netinho! Hoje em dia as coisas são mais rápidas entre os jovens... Fora uma longa jornada, sobretudo os últimos três anos, quando descobriram que ela tinha um câncer...
Fizeram de tudo para curar a enfermidade, vários tratamentos foram testados. Houve momentos de melhora, alguns momentos de contínua fadiga do organismo dela... E finalmente a hora de se despedir se aproximava.
“Finalmente”, pensava ela... Depois de três anos de intenso sofrimento, ela sentia que deveria ir naquela noite... Não quis dizer nada ao companheiro; apenas pediu-lhe para dormir em vigília com ela naquela noite, junto à sua cama no hospital.
Esse procedimento já era praxe, então, nenhum pensamento contraditório sobrevoou a cabeça dele. Achou tudo normal. Mas havia algo diferente que ele notou somente pela manhã.
Durante a noite toda relembraram sua vida. Conversaram sobre seu relacionamento e de quando nascera a filha deles. Sorriam muito, até parecia que ela não estava doente... Fizeram uma pequena comemoração, pois naquele dia, fazia 27 anos que se conheceram, dois anos de namoro e por fim o casamento na primavera de 1966... A noite foi mágica. Muitos sorrisos, muitas lágrimas de alegria.
Pela manhã ela estranhamente acordou cedo. Levantou-se da cama com dificuldade, ele estava dormindo no sofazinho ao lado da cama. E ela foi até a janela. Viu o sol nascer pela última vez. Ficou um longo tempo ali. Olhou para baixo, a visão do 12º andar era maravilhosa. Pegou uma brisa suave no rosto e lembrou-se de quando era criança. Sua vida inteira passou diante de seus olhos e olhou para trás, viu seu companheiro e agradeceu todas as bênçãos que Deus havia lhe concedido em toda sua vida.
Fechou a janela, tornou à cama e deitou-se. Às sete e meia ele levantava-se e viu que sua companheira já estava acordada. Sorriram ambos. E ela pediu-lhe para abrir a janela. Ele perguntou porque queria que abrisse a janela, ela não respondeu. Mas ele foi abrir mesmo assim... E quando se virou viu que ela estava diferente, seu rosto não tinha mais dor e ela lhe sorria com os olhos fixos no sol que entrava pela janela; ele, então, compreendeu que ela havia partido, estava livre das dores e da prisão daquela cama...
Ele voltou-se para o sol e viu ao longe uma andorinha voar alegre e ela pousou bem à sua frente, no parapeito da janela. Sabia que era ela, dizendo-lhe adeus e agradecendo-lhe por todos esses anos.
Ele aceitou a partida da esposa muito serenamente, porque eles nunca deixaram de dizer um para o outro aquilo que queriam, aquilo que deveria ser dito. Viveram todos os momentos. Não perdiam tempo com briguinhas e coisas desse tipo. O coração de ambos era leve, tão leve que quando um deles partiu, o outro fora junto, sem ter que falecer. E após 12 anos de espera, ele também ficou com o coração mais leve e foi para junto dela novamente...
Hellen Katiuscia de Sá
05 de setembro de 2005
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 12
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