A dor pode ser... redenção da alma!
Atualizado dia 06/11/2007 15:22:34 em Autoconhecimentopor Alex Possato
Fato é que não existe explicação para a dor. A dor é inerente à vida. Nascer é doloroso. Crescer também.
Observando os pequeninos bebês, vemos que alguns são expertos e ágeis, outros são dóceis e calmos, uns são duros e até agressivos e ainda outros já deixam transparecer um “ar sofrido”, como se o fato de estar neste mundo material fosse um grande fardo a eles. Mas todos eles sofrem, de uma forma ou de outra.
Lembro-me o quanto era interessante observar as fotos do meu irmão: ele realmente parecia mal humorado! Olhos fixos sempre no além, testa franzida e já um pouco enrugada... Dois, três anos de idade e parecia haver sofrimento em sua vida. Este sofrimento ele carregou durante toda a infância, trouxe para a adolescência, e no início da sua fase de juventude, ele resolver por um fim a tudo isso...
Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem antes os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
(Fernando Pessoa)
Ao ver a dor, acaba o sofrimento
Ai de quem não olha as próprias dores... ai de quem se quer fazer forte a troco de camuflar o vazio, a angústia, a dor interior... Isto é a fraqueza que padeceu o meu irmão. Não aceitar a própria dor é sofrer. E ele preferiu morrer, não vendo que a própria dor era o próprio Deus falando da alegria da vida.
Olhar e aceitar: a única forma de transcender a dor e eliminar o sofrimento. Não importa o que a nossa mente diga, o fato é que as dores estão em nós, assim como o amor também está.
Costumo dizer aos meus alunos e clientes que, se Deus permite que existam dores, morte, catástrofes, quem somos nós para querer negá-las. Mas negamos. Negamos insistentemente todos os males que acreditamos que possam nos ferir: os acidentes de trânsito, a violência, a infidelidade do parceiro, o envolvimento dos filhos com drogas, nosso corpo fora do padrão, nossas habilidades que nunca serão perfeitas, nossa infância, nossos pais, as pessoas que não nos aceitam. É óbvio que todos fazem isso (uns um pouco mais, outros um pouco menos).
A questão é que ensinaram-nos que isto não é correto. O homem verdadeiramente bom é aquele homem justo, que não tem inveja, que agradece a tudo, que não reclama, que ama incondicionalmente, que perdoa e dá a outra face.
Os pensamentos negativos existem: olhe-os, não os negue, e também não os julgue como se você fosse impuro ao tê-los. Jesus, Buda, São Francisco e Santa Teresa de Ávila foram “craques” em ter pensamentos negativos, dores, agonia e sofrimento interior. E só sabemos disso porque eles falaram com orgulho! Não fingiram que eram santos. E por isso eram...
”Era tão pouca a minha perfeição que quase não me importava muito com os pecados veniais, e, embora temendo os mortais, nem por isso me afastava dos perigos. Tratava-se de uma das vidas mais penosas que, ao meu ver, se pode imaginar: eu não me rejubilava em Deus nem me alegrava no mundo. Nos contentamentos mundanos, era atormentada pela lembrança do que devia a Deus; quando estava com Ele, era perturbada pelos contentamentos do mundo. É tão dura essa batalha que nem sei como suportaria mais um mês, quanto mais tantos anos”. Santa Teresa de Ávila – 1566
O que existe por detrás da dor
Se deixássemos de dar ou querer explicações mentais ao fato de termos dor, elas naturalmente se extinguiriam. O que as mantém vivas são as explicações, justificativas e a recusa em aceitá-las. Isto não quer dizer falta de atitude ou passividade: ao contrário, é o máximo de pró-atividade que se pode ter em relação à dor. A pessoa que simplesmente não faz nada e se entrega ao sofrer não está acolhendo a sua própria dor, pois usa-a como justificativa para o seu fracasso. Assim, prorroga-se o prazo de validade do sofrimento.
Olhar a própria dor, sem julgamento, pode significar a libertação, a transcendência. Para alguns, significa inclusive a iluminação. Mas convenhamos que não é preciso se iluminar para viver com qualidade de vida e equilíbrio.
O viver bem, do jeito que você é, passa por levantar a ponta do véu que encobre suas dores, suavemente, com carinho, respeito e reverência. No meu trabalho com Constelação Familiar Sistêmica, observamos clientes perceberem o amor que existe por detrás do próprio sofrimento, geralmente atrelado ao sofrimento de seus pais ou algum outro membro da família, que por sua vez carregam este sofrer de outros, perpetuando o que chamamos de sistema familiar.
Tanto o sofrer como o prazer é transmitido pelo sistema. Tudo o que sentimos não é nossa criação. Apesar de nos vermos como um indivíduo, estamos, neste exato segundo, ligados aos sistemas de bilhões de pessoas e seres vivos, mas sentimos, principalmente, o nosso próprio sistema familiar. A dor primordial que carregamos da nossa família, ao ser acolhida, respeitada e reverenciada, transforma-se em libertação.
Ao fazer isto, acabam-se as mágoas que se tem com o pai, com a mãe, com o passado. Acaba-se o sentimento de “não ter recebido o que era justo”, na infância. Acabam-se as cobranças e revela-se uma profunda ligação de amor, que une a família num mesmo destino.
Na Constelação Sistêmica Familiar não importa a origem, a razão da dor. Razão é um aspecto racional absolutamente desnecessário. Se houve a dor, basta simplesmente constatar o fato. Saber de causas (que nunca são reais) não é curativo. A cura acontece no não-saber e, mesmo assim, aceitar. Colocarmos a nossa mente reverenciando os acontecimentos da nossa vida, nossas dores, angústias e medos é um passo para a redenção da alma. É isto que nos ensina Bert Hellinger, o criador e grande divulgador da Constelação Sistêmica Familiar.
Aruanan
Consultor em Constelação Sistêmica
www.nokomando.com.br
Texto revisado por Cris
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Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |