A Igreja dos Cátaros
Atualizado dia 2/3/2008 10:52:01 AM em Autoconhecimentopor Marcos Spagnuolo Souza
O nome de cátaro estava reservado a quem, depois de um tempo de preparação era iniciado nos mistérios esotéricos da igreja, isto é, fosse sacramentado (consolamentum).
Nenhuma hierarquia existia no círculo de Cristo, todos se chamavam irmãos. Conservavam os três elementos da perfeição: pureza da mão, pureza da boca e pureza do coração.
Os Perfeitos e Perfeitas tinham os mesmos deveres. Deviam rezar o Pai Nosso pela manhã ao levantar-se, quando acordavam; antes de beber e comer, antes de toda ação importante ou perigosa. Durante a noite, deviam levantar-se para rezar, por umas seis vezes. À menor falta que cometiam contra a regra, se infligiam dias de jejuns. Os Perfeitos rezavam o Pai Nosso na posição de joelhos e mãos postas e cabeça inclinada.
O Perfeito renunciava a qualquer bem material e não mais pertencia a si mesmo, e sim, de corpo e alma, à Igreja do Amor. Os bens materiais que recebia, colocava-os a serviço do amor ao próximo. Desfazia de todos os vínculos familiares e amistosos. Estava obrigado a três vezes ao ano praticar um jejum de quarenta dias e alimentar-se unicamente de pão e água, três vezes por semana.
No interior da comunidade, a alimentação consistia de um pedaço de pão, frutas frescas e sopa de legumes.
As festas anuais dos cátaros eram: natividade de Cristo; páscoa (ressurreição); pentecostes (descida do Espírito Santo); Paracleto. Duas festas para o Salvador e duas para o Consolador. Cada uma das três primeiras festas devia ser precedida de um jejum de quarenta dias. O Salvador é a nova alma e o Consolador é a energia infinita que alimenta a nova alma. A nova alma e a energia infinita atuando no corpo físico desenvolve o corpo eterno, que é o tabernáculo da consciência eterna ou Divina.
Em relação a Deus, a alma corporificada não necessitava de intermediários; todas as almas corporificadas teriam o direito e a capacidade de vivenciar a experiência do êxtase espiritual.
Para os cátaros, Jesus Cristo era considerado um Mestre, uma alma que venceu o mundo e voltou aos reinos celestes tornando-se uno com Deus. Voltou ao nosso mundo para mostrar que devemos desapegar do mundo material e voltarmos à casa do Pai.
Sabiam da necessidade da alma transfigurar o corpo mortal em corpo imortal. Para fazer a transfiguração era necessário o sacrifício, ou seja, eliminar todo tipo de apego às coisas relacionadas com o corpo físico.
A salvação, ou seja, a transfiguração do corpo mortal em corpo de luz era uma ação pessoal e que cada indivíduo era responsável por sua própria salvação através de seus desapegos. Isso implicava a salvação irrestrita (todos teriam direito à salvação, tudo dependia do nível do desapego).
O catarismo não aceitava a eucaristia. Não acreditavam que o pão material através da consagração se convertesse no corpo de Cristo, que é um corpo de luz.
Os cátaros reconheciam as palavras do Senhor: “Quem come minha carne e bebe meu sangue, terá vida eterna”, mas diziam: O pão do céu, a energia divina é que traz a vida eterna, não o pão físico. O corpo de Cristo não está nem nas mãos do sacerdote nem sobre o altar. O corpo de Cristo é a comunidade dos Perfeitos, de todos aqueles que cultivam o supremo amor no caminho do desapego e ligação direta com Deus.
Os cátaros não aceitavam o batismo da água. A água não é nada mais que uma matéria, não podendo exercer uma ação divinizante. Deus não serviria de uma criação finita, para libertar as almas do juízo de Satanás. João Batista, diziam os cátaros, batizava com a água, mas que Cristo batizava com o Espérito Santo, o Consolador.
Cada cátaro estava em neutralidade com o mundo físico esperando o Consolador, o Parakleto. O Consolador é a alma desvinculada do corpo físico possuindo um corpo de luz responsável pela transmissão dos conhecimentos de harmonização da alma com Deus. Os torturadores dos cátaros não conseguiram tirar deles seus conhecimentos sobre o Consolador. O segredo do Consolador foi enterrado com os últimos cátaros nas caverna de Ornoloc.
O matrimônio para os crentes não era sacramental e só devia basear-se no querer viver juntos e com sentimento de fidelidade recíproca.
A comunidade dos bens era uma regra absoluta. A pobreza, um ideal. A mendicância, um estado santo, uma virtude. Aqueles que recuavam ante essa exigência não podiam entrar para a comunidade. Renúncia aos bens deste mundo, comunidade, obediência total, eram estes os primeiros degraus da Iniciação dos discípulos. O apego a propriedade era considerado uma perfeição.
Não davam importância aos despojos mortais. Os corpos criados pelo Diabo não tinham mais nenhuma finalidade e não ressuscitavam. Nenhum cerimonial religioso acompanhava o enterro. Os Perfeitos não acreditavam na eficiência das orações para os mortos, não existindo, portanto, culto para os que morreram.
O pão da participação na refeição, a vestimenta sagrada de linho e o cordão da cintura eram feitos pelas mãos dos Perfeitos. Os noviços faziam apenas o começo.
Não admitiam a distinção entre sexo, permitindo inclusive que mulheres celebrassem os seus ritos sagrados. Não reconheciam a autoridade papal ou dos bispos.
O altar era coberto com um pano branco de linho puro, sobre o qual, ficava aberto na página no Evangelho de João.
Os ofícios religiosos eram simples. Iniciavam comentando uma passagem do Novo Testamento, seguido da Bendicion. Os crentes que assistiam ao referido ofício davam-se as mãos, prostravam-se três vezes dizendo aos Perfeitos: “Orai a Deus por nós, pecadores, para que nos faça bons cristãos e nos conduza a um bom final”. Os Perfeitos levantavam cada vez as mãos, dando sua benção e respondendo: “Deus vos bendiga. Que Deus os Bendiga! Queira Deus fazer de vocês bons cristãos e conduzí-los a um bom final”. Depois da bênção, todos os assistentes rezavam o Pai Nosso, única oração admitida pela Igreja Cátara.
No interior das grutas, aos domingos, ocorria a cerimônia sagrada constituída de cinco partes: invocação ao Protetor; oração; confissão dos pecados em voz alta perante a comunidade; leitura do Evangelho e comentário; apresentação do Santo Graal. Terminada a cerimônia dominical, o Ancião tomava do linho branco que cobria o altar e do livro santo e se retirava. Após a saída do Ancião, alternadamente, os irmãos chegavam até a mesa, ajoelhavam-se, pousavam as palmas das mãos sobre a mesa e se apronfundava em longa meditação.
Texto revisado por: Cris
Avaliação: 5 | Votos: 9
Conteúdo desenvolvido por: Marcos Spagnuolo Souza Visite o Site do autor e leia mais artigos.. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |