A MURIÇOCA - O HUMOR EM "QUEM SOMOS NÓS"...
Autor Christina Nunes
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 10/12/2007 20:25:03
Em plena era da dengue, quando todos se arvoraram em caçadores espontâneos daquele bichinho irritante e ameaçador chamado pernilongo, ou muriçoca, ou ainda aedes egypt na linguagem científica, nunca imaginei que justo este personagem pequeno quanto incômodo se encaixaria de algum modo nos paradigmas de ponta da Nova Era.
Eu não enxergo coisíssima nenhuma no universo das letrinhas pequenas, de modo que aquelas bulas de remédio se convertem em autêntica tortura visual se não estiver com meus óculos. Bem... hoje pela manhã ia passando apressada pela sala, no ritual do costume de preparação para a saída rumo ao trabalho diário e, de entremeio às providências usuais, perguntei à minha filha pequena, àquelas horas ocupada em ver desenhos animados sentada no sofá da sala:
- Filha. Você viu os óculos da mamãe?...
- Não... - foi a resposta diluída na hipnose do desenho.
Fui para o quarto para me arrumar. E eis que dou de cara com o bichinho ameaçador bem ali, voando próximo à estante... ao que, ferrenha, imediatamente me empenhei no combate de direito - indócil, já que o justifica ultimamente o bom zelo pela saúde pública somado à irritação particular que sempre me causou aquele zumbido enlouquecedor nos ouvidos, em várias madrugadas nas quais consumi boas horas insones metida na batalha para matar o inseto minúsculo que, dadas as circunstâncias atuais da minha hipermetropia, mal enxergo, uma vez distanciado demais do meu raio mais próximo de visão.
E me engalfinhei em tapas e sapatadas quarto afora, tanto mais enfurecida por causa do tempo precioso que perdia em momento chave, quando certamente aquilo representaria vários minutos de atraso na minha chegada ao serviço. E enquanto andava alvoroçada de um lado para outro naquela cena patética, que certamente, e uma vez entrevista por quem passava lá fora, levaria as testemunhas a me julgarem, e com razão, algum tipo de biruta, comentava para mim mesma como em inúmeras outras ocasiões semelhantes, entredentes:
- Raios! Não sei por que diabos haveria Deus de inventar uma coisa dessas!! Que função tem este bicho que não a de enlouquecer os outros?!! Qual o valor no mundo?!! Que utilidade pode ter a convivência deles com o ser humano se não a transmissão de doenças e a exasperação na hora de dormir?!!...
E tome tapas a esmo e desordenados que, em desferidos assim, à tonta, e ainda por cima sem os meus benditos óculos, não só não o acertaram como ainda me irritaram mais! E a muriçoquinha, debochada, que sem nenhuma dúvida estaria rindo da minha cara à moda dela, num último movimento triunfal desferiu um vôo veloz bem diante do meu nariz, para baixo... e desapareceu, ante o meu ódio impotente...
Isto me obrigou a fixar a vista no chão, num último esforço desesperado para ver se a minha derradeira sapatada às cegas a tinha acertado e arremessado nalgum canto...
Não acertei. Mas, no chão, bem à minha frente... achei os meus óculos!...
Ali estava, portanto, a resposta taxativa, instantânea e algo hilária do Universo ao questionamento externado naquelas invectivas enfurecidas: "Para que, afinal, serve a infame muriçoca?!! De que modo pode a sua existência ser de algum jeito útil?!!..."
- "Entre outras possíveis alternativas, serve para lhe fazer achar os seus óculos!..."
Lucilla
Escritora, Ufóloga e oradora espírita
Avaliação: 5 | Votos: 9
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |
