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A ousadia do Dr. Laing

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Autor Flávio Bastos

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 2/13/2006 10:20:30 PM


Astúcia é a capacidade que o homem tem de, sem destruir, sem violentar, sem criar ódios ou desejos de vingança, atingir os fins desejados, a despeito das barreiras materiais e psicológicas que se opõem aos seus objetivos.

A verdadeira astúcia implica num profundo conhecimento da natureza humana e, para isso, deve ter vivido e sofrido no meio dos homens e, principalmente, deve conhecer-se a si próprio.

A experiência no relacionamento com as pessoas se consegue com o tempo e este pode ser mais ou menos longo, na medida em que o indivíduo dedique suas energias com maior ou menor intensidade a conhecer-se a si mesmo.

"O que foi que viste
No sombrio passado e no abismo do tempo?"
William Shakespeare

Dr. R.D. Laing, médico-psiquiatra inglês, foi, sem sombra de dúvida, um homem astuto para a sua época. Fundamentado em um trabalho clínico e um posterior estudo sobre este trabalho, Laing criou uma teoria: Fundamentos existenciais-psicológicos para a compreensão da psicose, onde procura situar a natureza da pessoa esquizóide ou esquizofrênica, e o respectivo tratamento, com seu mundo e consigo mesma.

Inicialmente, conforme atestam suas palavras em seu livro "O EU Dividido - Estudo Existencial da Sanidade e da Loucura", encontrara dificuldades: "De que modo partir direto para os pacientes, se os termos psiquiátricos à minha disposição mantinham-no à distância? Como demonstrar a relevância geral e o sentimento humano da condição do paciente se os vocábulos de que disponho destinam-se especificamente a isolar o sentido da vida do paciente a uma determinada entidade clínica?"

Vencida esta primeira etapa de dificuldades e com uma nomenclatura própria criada para a sua teoria, Laing simplesmente inova na técnica da relação paciente-terapeuta, tornando-a mais próxima e humana a partir da visão de vida da pessoa-paciente, conforme cita: "Em fenomenologia existencial, a questão pode ser a nossa ou a do outro. Quando o outro é um paciente, a fenomenologia existencial torna-se uma tentativa de reconstituir a sua maneira de ver-se a si mesmo em seu mundo, embora no relacionamento terapêutico, o enfoque esteja na maneira de ser do paciente em relação a mim". E conclui: "Contudo, por mais circunscrita ou difusa que seja a queixa principal, sabe-se que o paciente traz para o tratamento, de maneira intencional ou não, sua existência, todo o seu ser-em-seu-mundo. É tarefa da fenomenologia existencial articular o que é o "mundo" do outro e sua maneira de nele se encontrar".

A vida, em seu mais elevado significado, é amor heróico e toda atitude heróica sempre contém luta. Esta luta pode ser interna ou externa, mas sempre é um confronto entre as forças destrutivas e construtivas do universo, que se manifesta no homem desde a sua entrada neste plano de vida.

Através de suas experiências sobre a esquizofrenia, Laing registra em seu livro, impressões que evidenciam a sua ótica diferenciada a respeito da verdade que corajosamente defende: "Sei que o homem a quem se considera alucinado pode estar, em sua ilusão, dizendo a verdade, não em sentido equívoco ou metafórico, mas literalmente, e que a mente perturbada do esquizofrênico talvez receba luzes que não penetram a mente intacta de pessoas sadias de mentalidade fechada". E, ironicamente, completa: "O paciente-padrão de psiquiatria é uma função do psiquiatra-padrão e do manicômio-padrão..."

E, numa nova perspectiva, inova na forma de "ver" e "compreender" o paciente, onde o presente relaciona-se ao passado onde, incrivelmente, o terapeuta transporta-se ao universo existencial - e vivencial - do paciente para entender como ele sente a si e ao seu mundo: "Como o intérprete, o terapeuta deve possuir versatilidade para transportar-se a uma visão estranha e talvez alienada do mundo. Neste ato apela para suas possibilidades psicóticas sem renunciar à própria sanidade, somente assim pode chegar a compreender a posição existencial do paciente".

Ao sugerir, inspirado em duas correntes de pensamento da época, a existencial e a fenomenológica, uma nova ótica de abordagem no tratamento de pacientes esquizofrênicos, Laing teve a coragem de emitir sinais de discordância e de insatisfação à tradicional escola de psiquiatria. E isto em plena Inglaterra da metade do século XX.

Seus estudos não foram em vão e não se perderam nas brumas do tempo. Ao contrário, deixaram sementes e estas sementes germinaram árvores que deram frutos, que inspiraram novos autores e continuam inspirando novas correntes de pensamento e novas abordagens no tratamento de pacientes psicóticos.

"Os amantes e os loucos tem mentes tão febris
Tantas fantasias tão vívidas que compreendem,
Mais do que a razão fria jamais compreenderá.
O lunático, o amante e o poeta
Estão todos repletos de imaginação..."
William Shakespeare

Psicanalista Clínico e Psicoterapeuta Reencarnacionista

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Flávio Bastos   
Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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