A Prece
Autor Guilhermina Batista Cruz
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 8/30/2004 10:16:05 PM
“A oração é a tranca da noite e a chave da manhã” – Gandhi
A prece, em qualquer circunstância, é um apelo de nossa alma estabelecendo ligação instantânea com o mundo espiritual, segundo os princípios de afinidade que regem o intercâmbio mental. Pela oração nos dirigimos com maior intensidade ao criador, procurando apoio e benção, e assim, o criador se faz mais presente, agindo com e a nosso favor.
Orar é identificar-se com a maior fonte e poder do universo, absorvendo-lhe as reservas de energia que muito irão nos beneficiar. Raios divinos emanados através da oração convertem-se em fatores de cooperação eficiente e definitiva na cura do corpo, na renovação da alma e iluminação da consciência. A prece não significa sòmente o movimento mecânico dos lábios, ela converte-se em vibração, energia e poder. A pessoa que ora, mobilizando as próprias forças, realiza um trabalho que é impossível de avaliar, dado muitas vezes, a grandeza de que é revestido.
No círculo de forças estabelecido pela oração, a alma regenera não somente o equilíbrio das células físicas, como também, reflete as sugestões iluminadas das entidades de condição mais elevada, com as quais entra em contato ao orar com o pensamento elevado a Deus. Ao dirigirmos o pensamento para qualquer ser, na terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, é criada uma corrente fluídica entre os seres, transmitindo de um ao outro o pensamento, assim como se faz a transmissão do ar em relação ao som.
Essa transmissão guarda proporção com a força do pensamento e da vontade. Eis porque, o pensamento e a vontade representam um poder de ação que alcança muito além dos limites da nossa esfera corporal. A prece que dirigimos em favor de alguém, se ardente e sincera, pode chamar, em auxílio daquele por quem oramos, os bons espíritos, que virão sugerir-lhes bons pensamentos e dar a força de que necessitam seu corpo e sua alma. A prece fervorosa movimenta forças latentes e opera fenômenos que tanto podem criar o bem –estar íntimo, como levar o espírito a uma espécie de meditação profunda, como se ele estivesse desligado da matéria, numa espécie de êxtase. Existem preces que chegam a neutralizar uma dor física tal a sua força.
Muitas pessoas acham que devemos orar somente pelos necessitados do corpo ou da alma, pelos sofredores da terra. No entanto, a oração deve ser estendida também aos que se encontram no caminho da vitória, pelos que estão se superando, avançando nos caminhos ásperos da existência. a fim de que tenham suas energias redobradas no bem. Quando oramos pelos padecentes ou atormentados e xercemos a caridade da intercessão pelo impulso de minorar-lhes os padecimentos e tormentos, proporcionando-lhes um alívio, restaurando-lhes, muitas vezes, a fé e resignação que lhes dará suporte para minorar seus sofrimentos. A prece pelos obsidiados coopera para que eles se fortaleçam e alcancem a libertação gradual; Mas, quando desdobramos os sentimentos da prece em favor dos obsessores estamos ensejando progressivamente a sensibilização que irá aos poucos penetrando seus sentidos, suas almas e fortalecendo assim, sua redenção.
A prece de coração é aquela mais sincera e a que mais pode fazer por nós ou pelo próximo, a dos lábios, mecânica, pouco vale. Segundo Allan Kardec, as orações têm realmente o poder de abreviar os sofrimentos. Ele cita que os Espíritos que se comunicavam na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas professavam em vida vários cultos: católicos, protestantes, judeus, muçulmanos e budistas, e o que importava a cada um era a prece destituída de qualquer rito, feita com o coração.
Para explicar a eficácia da prece, ele cita o caso do assassino Lemaire, que teve sua comunicação publicada na Revista Espírita de março de 1858. O criminoso afirma que, encontrou em um dos leitores uma criatura compassiva que orou por ele. São palavras do próprio Lemaire, referindo-se ao leitor: “Obrigado, alma caridosa! Eu me achava só com os remorsos de minha vida pesada e vós tivestes piedade de mim, estava abandonado e pensastes em mim, estava no abismo e estendeste-me a mão”.
Podemos chegar a várias conclusões sobre a prece que são inteiramente válidas para o momento atual em que vivemos. Diante de transtornos no ambiente de trabalho, do trânsito caótico, das tensões e do estresse geral, encontra-se na prece um poderoso fator para se retirar do clima de perturbação geral, elevando-se mental e emocionalmente a faixas psíquicas onde encontra-se as suaves vibrações da serenidade e do equilíbrio.
No final do dia, cansados das horas de trabalho, quando nos recostamos para o merecido descanso do corpo, muitos não conseguem se desvencilhar dos problemas, enquanto outros, sabem que continuarão trabalhando em favor do bem, e, para isso recorrem a prece, pedindo a Deus por si mesmos e pelos que sofrem. Iniciam o dia com a chave da oração, na qual reúnem forças para os momentos que haverão de vir.
Devemos orar e orar sempre, pelos grandes e pelos pequenos, pelos que travam lutas acerbas e pelos que se acham em equilíbrio, pois todos são “ovelhas” do Rebanho do Senhor, nos posicionaremos juntos para que estendamos uma das mãos aos que seguem à nossa frente, rogando ajuda, ao mesmo tempo em que distendamos a outra a fim de dar guarida e sustentação aos que vêm na retaguarda, pois, todos juntos, caminharemos em uníssono em direção ao alto.
Fonte: Revista Espírita (1859) Ed. Edicel, 1964
Reformador – Carlos Augusto Abranches – FEB, set 1996
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