A realização espiritual do homem - Parte I

   

Autor Leandro José Severgnini

Desde que me dediquei ao estudo das diferentes doutrinas espiritualistas que existem mundo a fora, pude perceber intrigantes diferenças conceituais, principalmente entre as orientais e as ocidentais. Nas religiões que predominam o Ocidente estão as de origem judaico-cristãs; estas baseiam a sua doutrina naquilo que podemos chamar de visão dualista, pois entendem que a Divindade e o homem vivem em realidades separadas. Já no oriente, além do tradicional hinduísmo, encontramos também o budismo, o taoísmo e outras mais que tem uma visão cosmológica monista, ou seja, o Divino e o humano entrelaçam-se formando uma única realidade.

Percebi que as doutrinas monistas possuem grandes vantagens sobre as dualistas, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento da moralidade. Um exemplo disso é o fenômeno denominado pelo cristianismo de "milagre". Na visão teológica tradicional, o milagre nada mais é do uma interferência divina operada de "fora para dentro"; isso significa que se buscamos algo que julgamos estar além do nosso alcance, precisamos acreditar fervorosamente, rezar o mais possível e aguardar pela misericórdia do Divino - nada além disso. O problema dessa visão, obviamente, é o comodismo moral que a acompanha, afinal, não precisamos mudar nossa forma de ser e nos tornar indivíduos melhores, basta acreditar e orar. Mas, por outro lado, as doutrinas monistas partem do pressuposto que você e o Divino são um só, portanto, a ação não será de “fora para dentro”, mas de “dentro para fora”. Isso significa que o milagre - representado como uma interferência divina externa - não passa de uma infantilidade teológica. Na realidade, as doutrinas monistas sempre partem da ideia de que a realidade em que cada um se encontra está diretamente ligada ao comportamento do indivíduo.

Esta visão, como podemos perceber, está em perfeita concordância com a Lei de Causa e Efeito. Buda, há 2500 anos atrás já sabia disso e por isso propôs suas quatro nobres verdades: 1) o sofrimento é real; 2) a causa do sofrimento é a ignorância da nossa origem cósmica e das leis que operam no Universo; 3) podemos dar fim ao sofrimento cessando a ignorância de nossa natureza espiritual; 4) para isso precisamos desenvolver virtudes através do caminho óctuplo que diz que devemos privilegiar a ação reta, intenção correta, modo de vida correto, esforço correto, concentração correta, fala correta, compreensão correta e consciência correta. Seguindo este caminho, gradualmente o homem estará se desvinculando dos karmas que o prendem ao sofrimento.

Quanto ao milagre, este nada mais é do que o resultado do persistente esforço no desenvolvimento de nossas virtudes. Desse modo, ele não é gratuito ou um presente, mas uma conquista. Ora, se o homem dependesse de uma interferência divina a cada passo seu, onde estaria a possibilidade de autorealizar-se e alcançar o zênite da evolução?

Continua...

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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Leandro José Severgnini    Palestrante espiritualista e escritor. Autor dos livros intitulados "Dias de Luta, Dias de Glória", "Liberdade - Nada Menos Que Tudo" e "Em busca do infinito". E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui.