A regressão pode ser uma jornada prazerosa através do Tempo.
Autor Sérgio Osny Castanho Gonzalez
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 2/6/2007 11:39:19 AM
Instigantes e desafiadoras da nossa compreensão da alma humana. É como avalio e sinto as múltiplas experiências de regressão a vidas passadas que preservo reservadamente desde os tempos em que a chamávamos de “regressão pré-placentária”, nos anos 60, e que vão além dos conhecimentos acadêmicos e das práticas clínicas da psicologia e da psiquiatria. Ao rever cada caso, constato que cada um é peculiar em seus dramas e histórias da vida. Tanto da atual como de existências pretéritas.
Em algumas, foi necessário ter percepção espiritual para sentir que não era aconselhável buscar eventos dolorosos desta ou de outra existência. É o que trato aqui sobre a Projeção da Imaginação Criativa, método fundamentado no brainstorming, de Alex Osborn, mas mantendo vínculos com a matriz espiritual do ser humano. Tem como alicerce ontológico o conceito de que a criatividade é o maior valor da condição humana, é a energia que tem impulsionado o processo civilizatório desde os primórdios da humanidade.
No filme 2001: Uma Odisséia Espacial, o gênio de Stanley Kubrick nos leva a refletir sobre isso no prólogo “Aurora do Homem”, quando um hominídeo, inspirado por um misterioso monólito negro implantado ao amanhecer no seu território, faz do osso de um animal uma arma para a defesa do seu grupo e assim reconquistar a possa de água que havia sido tomada por um bando rival. Naquele momento, o homem, recém saindo da irracionalidade, estava exercendo o seu primeiro ato criativo, seu primeiro anelo de grandeza, ou, quem sabe, estabelecendo sua primeira aliança com os demônios da violência.
Viajando através do espaço e do tempo.
Cada um de nós ocupa um lugar no espaço e no tempo. Este conceito começa em nosso planeta, onde podemos nos localizar em qualquer ponto por meio das referências culturais adquiridas ao longo da vida e das informações e imagens gravadas indelevelmente em nosso inconsciente. Ampliando a percepção através da projeção da visualização criativa, também podemos promover uma fascinante jornada através do Tempo e em todo o Universo abrangido pelos conhecimentos da física e da astronomia.
No plano cognitivo, a partir do registro em nossa memória de imagens, relatos e filmes de qualquer ponto da Terra, seja um país ou uma pequena localidade, podemos ir a todos os lugares viajando mentalmente. São “viagens” que têm como fundamento o conhecimento arquivado na memória. Um selvagem que nasceu, sempre viveu na floresta e nunca viu nada além do seu habitat, somente poderá visualizar o entorno do seu ambiente. Ele não poderá resgatar o que não estiver previamente registrado na sua mente.
Buscando o conhecimento histórico armazenado no inconsciente também podemos viajar no tempo e presenciar a construção das pirâmides, fazer parte do povo no Coliseu Romano ou ouvir do próprio Jesus o Sermão da Montanha.
Em tese, seria impossível visualizar um lugar ou acontecimento do qual não possuímos nenhuma referencia que possibilite elaborar recombinações que serão configuradas pelo nosso poder criativo e assim visitar o passado e viajar ao futuro em uma jornada prospectiva sem limites. Ou para além, até dimensões não perceptíveis por nós no mundo físico.
A experiência da irresidência.
Jr. era um jovem sem problemas aparentes. Mas estava em crise existencial. Angustiado e depressivo, era perseguido pela idéia do suicídio, embora sentisse um medo mórbido da morte. Extremamente sensível, possuía uma personalidade artística que estava tolhida pelos seus medos e condicionamentos.
Não via sentido na vida, pois seu pai, a quem era muito apegado, havia falecido recentemente e não pode aproveitar tudo o que havia construído ao longo da existência. Também não poderia mais ver os netos crescendo - filhos da irmã mais velha de Jr. - não poderia ir nos finais de semana à casa da praia e sair todas as manhãs para passear, olhar o mar e pescar, como sempre fazia, levando-o como companhia. - “Agora, meu pai não existe mais e a vida continua aqui na Terra”, assim exprimia sua tristeza. O profundo apego e dependência do pai decorria da ausência da mãe, que passou pela transição quando Jr. tinha apenas um ano.
O que mais o deprimia era a sensação de finitude da vida que passou a atormentá-lo quando viu o pai morto. Embora tivesse apenas 23 anos, calculava até o tempo que lhe restava de existência. Sentia-se impotente frente ao pressentimento de que a morte se aproximava a cada ano. Não vivia. Esperava. E sofria.
Embora agnóstico e não acreditasse em reencarnação, Jr. tinha curiosidade sobre a regressão a vidas passadas. Mas ressalvava: “Mesmo que houvesse reencarnação de que adiantaria, pois em uma nova vida nem eu nem meu pai seriamos nós mesmos”.
Tranqüilizei-o, informando que ele poderia compreender o significado das vidas passadas conscientemente. Bastava estimular e utilizar a sua imaginação por meio da projeção da visualização criativa. Dependia apenas de liberar seu espírito do pensamento judicioso e assim poder “viajar” para o passado e para o futuro.
No decorrer das sessões Jr. foi liberando sua imaginação dos condicionamentos que causavam seus medos, principalmente o temor da morte. Ficou consciente de que sua etapa de vida neste planeta é importante. E que teria continuidade, quer acreditasse ou não em reencarnação. Entendeu que seu pai tinha deixado uma herança de boas lembranças e que ele era a continuação biológica e espiritual da sua existência.
Na regressão visualizada viu seu pai e sua mãe ainda crianças e trilhou os caminhos que os ligaram ainda jovens, conheceu seus avós, bisavôs e tataravôs. Recuou até seus antepassados na Europa, seguindo sua origem italiana. Entre eles, um teria se destacado como pintor. Vivia em Florença, onde pintava retratos sob encomenda para manter a família numerosa. Sua descrição da vida que levavam em Florença parecia incrivelmente verdadeira. Nada era trágico nem traumático. Posteriormente, motivei-o a prospectar o futuro para que visualizasse seus descendentes corporificados como uma continuidade da sua vida. Descreveu cenas do cotidiano de pessoas que seriam seus pósteros, formando imagens como se fossem cenas de um belo filme do qual fazia parte. Através da projeção da imaginação criativa descortinou os véus do passado e do futuro que tornavam sua vida sombria e sem sentido.
Seriam cenas criadas pela sua imaginação ou visões de vidas passadas e percepções do futuro? Para Jr. isso não importava. O que valeu foi a sensação de poder desfrutar de uma jornada prazerosa no Tempo e sentir-se integrado ao Universo.
Tudo é possível, quando ativamos a nossa memória espiritual e fluímos entre o que seria passado e o que seria futuro, indo além dos registros que trazemos no inconsciente, assumindo o Tempo e abrindo nossa percepção para os acontecimentos mais simples da vida, visualizando nossos antepassados e tomando consciência da nossa continuidade.
É a “irresidência”, que significa estar em outros lugares e outros tempos no passado e no futuro sem sair do local em que se está fisicamente. É viajar no plano da espiritualidade, através do Tempo e do Espaço.
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