A TRANCA NÃO FUNCIONAVA MAIS!...
Atualizado dia 05/06/2007 11:48:16 em Autoconhecimentopor Christina Nunes
- A tranca funcionava! Não havia necessidade de trocá-la! Os dois parafusos restantes a sustinham no lugar! - o homem argumentava, colérico; ao que a esposa rebatia:
- Sei!! Então por que os assaltantes conseguiram arrombá-la?!!
- Era uma boa tranca! As coisas antigas funcionam de modo melhor do que as novas! Esta tranca resistia aí há mais de trinta anos!!
- Mas havia indícios claros de que, nas nossas ausências, já tinham tentado forçá-la pelo lado de fora, homem! Antes ela tinha os quatro parafusos!! De uns tempos para cá, reparei que só restaram dois!!...
- Os dois parafusos a menos não são prova de que foi forçada pelo lado de fora!! Podiam ser só dois, e nós não percebemos quando nos mudamos!
- Eram quatro, homem!!
- Não afirme com tanta certeza!!
- Meu senhor... - atalhou o policial, perdendo a paciência - O fato indiscutível é que esta tranca estava gasta e era insuficiente para a sua segurança!! Por isso os assaltantes entraram e limparam a sua residência!
- Como o senhor pode afirmar que a culpa é da tranca?! A culpa, a meu ver, é somente dos assaltantes!! E de vocês!! Porque, se dessem conta destes meliantes com maior eficiência, estas coisas não aconteceriam!!... o homem exclamou de volta, agressivamente, diante do pasmo ainda maior não apenas da esposa acachapada como também do policial, que acabou, de resto, detendo-o por desacato à autoridade...
Meus leitores, esta historinha estranha é contada para ilustrar devidamente a vocês o que vem acontecendo no nosso mundo, cujo equilíbrio ambiental se vê gravemente comprometido pela incúria humana - e não por culpa do próprio clima, que é o modo absurdo de se considerar a situação pelo qual, aparentemente, as autoridades mundiais enxergam a coisa: como se eles mesmos não fossem vítimas potenciais. Como se estivessem sofrendo de estranho desvio mental que os fizesse considerarem-se invulneráveis ao que está mais do que óbvio, escancarado, flagrante no nosso dia a dia!
Consta no jornal O Globo, edição de hoje, em manchete: "Aquecimento global é três vezes mais rápido que as piores previsões, indicam estudos". A matéria relata extensamente conclusões acerca do derretimento das calotas, da taxa de emissão de gases poluentes, com países-chave comprometidos até o pescoço em termos de responsabilidades negando ainda, teimosamente, a sua culpa. E, com esta friagem cavalar no Rio de Janeiro em pleno outono, lembro-me de uma colega de trabalho que mora perto da praia comentando, semana passada, que, aqui, a temperatura à beira mar durante a noite chegou a quatro - quatro graus!!
Quatro graus???!! No Rio de Janeiro??! E no outono?!! Meus leitores: em tempos idos, nem no mais tenebroso inverno a temperatura por aqui, a qualquer hora do dia e da noite, atingiu esta absurdo!! Lembro-me de ter experimentado este horror no interior de São Paulo, há alguns anos - um frio horroroso para nós, cariocas; um frio que entra nos ossos e dói, mesmo com uns dois ou três casacos grossos, com luvas, gorros, cachecol; mesmo que estejamos tais como autênticos esquimós!!
Mas...em São Paulo!! Um absurdo climático destes aqui no Rio? E todo mundo fazendo de conta que não está vendo a aberração que vem somar-se a outras da mesma monta (quarenta e cinco, quarenta e seis graus de calor no verão por exemplo; batiza-se esta esquisitisse com um nome bonitinho: sensação térmica - para se transmitir a impressão de que está tudo sob controle, que se trata de fenômeno climático conhecido, nomeado, normal...e, com isso, tudo resolvido?!!
É um insulto à mais medíocre expressão de intelecto!
Porque não se comenta outra coisa no dia-a-dia. O corpo sente a mudança radical, meus amigos! E o próprio ritmo na natureza o denuncia com clareza! Flores desabrocham em época e em horas erradas; cigarras cantam a madrugada inteira, quando há apenas dez ou quinze anos cantavam no verão, e com o cair da tarde; corais enbranquecem nas profundezas dos mares; as estações do ano confundem-se, anulam-se, e, baratinados, saímos de casa em pleno inverno com roupas de frio para muitas vezes voltarmos à tarde morrendo de calor, debaixo de um sol causticante! Tempestades extemporâneas se comportam à moda de furacões localizados, arrancando árvores seculares pela raíz, com calçada e tudo, como há poucos meses aconteceu na rua onde resido...e vai por aí...
E enquanto isso as autoridades mundiais, em meio à mais catastrófica mixórdia desencadeada pelos elementos caóticos do clima em desequilíbrio, perdem um tempo precioso discutindo inutilmente, sem nenhum proveito, e negando culpas e responsabilidades, alegando não ser preciso, com urgência já vencida, "trocar a tranca" já podre e obsoleta dos seus métodos depredatórios de exploração dos recursos naturais já exauridos do mundo - enquanto, diante desta inércia suicida, prosseguem, inexoráveis e indiferentes às eventuais opiniões, estudos e congressos os efeitos devastadores da incúria humana, a ceifar planeta afora vidas e paisagens outrora saudáveis, harmoniosas e perfeitas.
Lucilla & amp;. Caio Fábio Quinto
Lucilla & Caio Fábio Quinto são autores dos romances espíritas "O Pretoriano", da Mundo Maior editora, "Sob o Poder da Águia" e "Elysium, uma História de Amor Entre Almas Gêmeas" da Lúmen Editorial
Texto revisado por: Cris
Avaliação: 5 | Votos: 25
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |