A velha história de sempre levar vantagem
Autor Nelson Sganzerla
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 11/4/2005 12:16:33 PM
Estava pensando com meus botões a respeito da nossa velha mania de levar vantagem em tudo o que fazemos. Vocês notaram como somos espertos?
Pelo menos parecemos ser. Quem é que já não se deparou com um simpático vendedor de automóveis quando resolveu humildemente trocar o velho carro da família, que apesar de bastante velhinho estava bem conservado com todo carinho pelo nosso capricho de querer ter as coisas bem conservadas... Você procura nos jornais, presta atenção nos anúncios de televisão, vai ao mega feirão, conversa com os amigos e, de repente, encontra o carro que você tanto procura lá em uma agência nos cafundós ou, ao contrário, perto da sua casa.
Vendedor simpático falando do carro que está à venda:
- Esse carro é um elefante branco: nunca bateu, a quilometragem é baixa... (mal sabemos nós que alteraram para baixo), único dono; é um achado!
Você falando com o vendedor simpático:
- Pois é... Adorei o carro! É o que realmente procuro mas preciso vender o meu; veja como está conservado... sou a única dona(o); está na família há 10 anos.
Vendedor simpático pergunta:
- Quanto está pedindo na jóia?
Você todo cheio de moral responde:
- Quero tanto!
Vendedor simpático responde:
-Tanto é muito, vale muito menos.
Bom, vocês imaginam a história como vai acabar? Moral da história: o seu carro nada vale mas o dele sempre tem um air bag a mais, o dele sempre tem um plus e o nosso é demodê, nunca vale o preço que pedimos.
Contrate um profissional de serviços. Digamos que você precisa reformar o seu banheiro, tipo tirar aquele bidê que atrapalha, aquele lavatório que vaza, ou quem sabe, colocar aquela Jacuzzi tão sonhada. Pague esse profissional adiantado e vincule o término dessa obra a uma data.
Profissional falando:
- Pode deixar, doutor, nessa data eu termino, com folga, o serviço;, ainda mais o senhor me adiantando o pagamento.
Moral da história: você vai micar com uma obra por terminar no seu banheiro e vai acabar tomando banho no banheiro da área de serviço; isso se você tiver um; caso contrário vai usar o da casa da sogra.
Pague a um flanelinha para tomar conta do seu carro em um teatro, show, ou seja lá onde for; depois, tente encontrá-lo no final do evento.
Eu ficaria aqui enumerando histórias que todos nós já conhecemos, de pessoas espertas, como aquelas do tipo que caem nesses contos de vigário, do bilhete premiado. Quem é que, nesse mundo, vai abrir mão de um bilhete premiado por uma quantia muito inferior ao prêmio? Pois é... e há quem acredite nisso (para levar vantagem).
Fico aqui pensando com os meus botões... Até agora falei de pequenas vantagens que não vão além das esquinas ou além de um dia, uma semana ou um mês. Como será o fim de pessoas que pensam nessas vantagens? O que estará à espera daqueles que gostam de dar pequenos golpezinhos naquelas barracas da praia, de onde o caiçara tira o seu sustento.
Outro dia, uma pessoa me falou:
- Gosto de ir àquele barzinho, pois dou dinheiro ao garçom e ele me serve a noite toda...
E as grandes vantagens que vemos nos jornais, nos canais de televisão? Qual será o fim de pessoas que se apoderam da merenda escolar das escolas daqueles municípios que a gente nunca ouve falar, para onde as crianças caminham quilômetros para chegarem, sem ao menos um café ou a esperança de uma refeição?
Qual será o fim de pessoas que desviam o dinheiro do material escolar, das carteiras, para essas crianças sentarem e aprenderem o A,B,C com dignidade?
Qual será o fim de políticos que exigem de seus funcionários de gabinete uma quantia mensal de seus salários, mas quando inquiridos negam veemente?
Quando nós, seres humanos, iremos nos dar conta da lei da Ação e da Reação? Quando nós, seres humanos, exercitaremos uma nova competência, sem nenhuma vantagem sequer?
Quantos terremotos serão precisos? Quantos tsunamis terão que vir? Quantos furacões terão que devastar a humanidade? Quando iremos dar fim a essa velha mania de levar vantagem e entendermos que para tudo existe um retorno?
Muita Paz!
Texto revisado por Cris
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