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A Visão Simbólica dos Fenômenos de Massa: Eloá e Lindembergue, a História do Barba Azul

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Autor Isabela Bisconcini

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 21/10/2008 20:33:16


Nesta última semana fomos novamente chacoalhados pelos eventos dramáticos e escabrosos vividos no caso Eloá e Lindembergue, que a mídia propaga incessante, exaustiva e compulsivamente e ainda no caso do confronto entre as polícias civil e militar. Quando um assunto vira o centro das atenções de toda a sociedade devemos saber que algum conteúdo do inconsciente coletivo foi ativado. Em linguagem junguiana diz-se que se constela um arquétipo do inconsciente coletivo que é dramatizado e vivido através da projeção coletiva sobre um evento, e que os personagens do drama protagonizam um drama que não é só deles, mas que diz respeito a uma vivência Humana, existencial e coletiva. Ou seja, toda vez que ocorre um fenômeno de massa, um tema do inconsciente coletivo é ativado para através da projeção coletiva poder ser elaborado, compreendido, para que a consciência coletiva possa evoluir através da compreensão daquele tema. Pois bem, a sociedade fica, na imensa maioria das vezes, só no choque dos fatos; a elaboração não é compulsória. A compreensão demanda esforço pessoal e não se segue necessariamente ao sofrimento. A mídia não se propõe a ler o significado nas entrelinhas do drama, nem a aprofundar a compreensão. No entanto, aquilo que está acontecendo lá diz respeito a mim, e a todos nós e se eu compreender a respeito do que estamos falando, poderei sair da histeria coletiva e ter a dimensão significativa e simbólica do que estamos lidando de fato. Primeiro devo dizer que a minha compreensão dos fatos se deu graças às trocas com as colegas psicólogas, Claudia Fini e Heloisa Gioia, às quais agradeço pela discussão proposta.

Qual o significado por trás do fato da polícia protagonizar dois eventos numa mesma semana? Como andam as figuras masculinas e femininas em nossos dias de hoje? Se esta história fosse ficção, qual seria? Qual o mito ativado por trás do drama do jornal? Se tudo isso acontecesse dentro de mim e todos estes personagens fossem partes minhas, como num sonho, o que estaria acontecendo?

O que vejo aqui é a reencenação da história do “Barba Azul”. Numa história, todos os personagens são representações de funções e partes da psique. Lá o feminino ingênuo se deixa encantar e seduzir por um masculino cruel e destrutivo, mas que se apresenta de forma disfarçada. O noivo que promete mundos e fundos seduz as irmãs, mas é a mais nova das duas, que simboliza a parte mais imatura da psique, que cai na dele. A irmã mais velha, que simboliza o aspecto mais amadurecido da psique, e a mãe, que simboliza o aspecto capaz de zelar e cuidar de si mesma e da qualidade de suas escolhas, não se deixam enganar pela sedução do masculino sinistro. A história segue com todos os nuances que levarão ao ápice da descoberta de que aquilo que parecia bom, de fato é altamente nocivo e destrutivo. No conto, a personagem fica aprisionada pelo cruel até que é salva pelos irmãos mais velhos que, chegando na hora H, livram-na da morte. Se pensarmos nos irmãos mais velhos, veremos ali a representação do aspecto masculino e maduro dentro de cada um de nós, capaz de franca, assertiva e ativamente deter as forças nocivas (dentro e fora de nós), posicionar-se claramente, proteger-nos e salvar-nos. O princípio masculino na sua expressão positiva traz consigo os valores da honradez, de dar um passo adiante, colocando-se aberta, corajosa e ativamente em nome da Verdade e da lealdade. Se lembram do filme Coração Valente?

Mas como estão os modelos masculinos e femininos no nosso mundo externo? O masculino do jovem Lindembergue que protagoniza a tragédia foi subestimado no seu potencial de destrutividade. Sua fala “eu não preciso de comida, tragam algo para elas comerem” se referindo às reféns, confundia os envolvidos; ouvindo sua fala ele parecia até bonzinho... mas qual era o seu gesto, o que ele estava fazendo de fato? Alguém já viu seqüestrador bonzinho? A instabilidade que viram nele é a marca da sua psicopatia, de que não havia ego ali, aqui entendido como aquele elemento estruturador e aglutinador, capaz de dialogar com as diferentes facetas de si mesmo e que dá coesão e inteireza à personalidade... as partes soltas iam se apresentando sucessivamente, a “boa” (havia?) e a má. Se pensarmos na atuação da polícia durante os eventos da semana, o sequestro e o confronto com a Polícia Militar  (e aqui não se trata absolutamente de culpar ninguém, mas de refletir sobre como estamos), fazendo uma analogia da polícia com o nosso sistema imunológico interno, se você vivesse no seu corpo o drama que aconteceu com a polícia nesta semana o que isso diria do seu sistema imunológico? Ele reage violenta e excessivamente brigando entre si (polícia militar X polícia civil), mas deixa ‘brecha’ aberta para ‘o inimigo perigoso’ ... Arriscando, eu diria quase que estamos sofrendo de doença auto-imune e deixando passar o que realmente interessa, sem saber mais reconhecer o que é de fato perigoso. Ainda em relação ao masculino, pois a força de proteção em cada um de nós é manifestação desse princípio masculino, onde anda em nossa sociedade o masculino positivo, que se coloca assertivamente quando é necessário?

Onde anda a capacidade de contenção dos aspectos altamente perniciosos e destrutivos de si mesmo e coletivos?

É disso que se trata quando falamos da função que o “irmão mais velho” tem na história do Barba Azul, porque ele é o representante da parte madura e assertiva em cada um de nós, capaz de fazer frente à atuação destrutiva, e é o que a atuação da polícia estava simbolizando neste caso. Falta, neste caso, potência ao princípio masculino positivo e saudável; ele é vivido como potente somente no aspecto negativo-sombrio ou como impotente diante do que é destrutivo. A figura feminina, por sua vez, refém de um masculino negativo também é sintomática de um estado de coisas. Ainda que Eloá tenha resistido bravamente, não cedendo à ameaça e morrido heróica e sacrificialmente, ficamos consternados pelo desfecho da história onde, por falta do elemento de contenção saudável, a destrutividade toma conta, levando às últimas conseqüências. Não podemos colocar a história de Eloá e Lindembergue somente no rol dos crimes passionais; precisamos saber ler nas entrelinhas e compreender o que há de coletivo nisso, percebendo quando a bandeira do ‘amor’ disfarça destrutividade mortal. Compreender que o ciúme que havia ali não era sinal de amor, mas era psicopatia e, sobretudo, não podemos ficar sabendo disso só pelo desfecho que teve a história, precisamos ser capazes de reconhecê-la (individual e coletivamente) antes de um trágico final... Precisamos ser capazes de reconhecer o que faz bem e o que faz mal aos primeiros sinais e ser fortemente viris no sentido de cortar o que faz mal, antes que seja tarde demais. Esta é manifestação do princípio masculino saudável e positivo que usa de sua autoridade interna para ter as rédeas da situação na mão. Precisamos amadurecer internamente e não sermos permissivos com o que de negativo reconhecemos em nós e ao nosso redor.

Sugiro a leitura ou releitura da história do Barba Azul em Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés. Este é o drama arquetípico que o inconsciente coletivo está encenando e que, pela repercussão que teve, nos revela o quão ativado está na psique.


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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Isabela Bisconcini   
Isabela Bisconcini é Psicóloga Clínica e Consteladora Sistêmica. Terapeuta EMDR. Terapeuta Floral, Reiki II, NgalSo Chagwang Reiki, AURA-SOMA. Deeksha Giver. Dedicou-se por 25 anos ao estudo da psicologia budista e prática do Budismo Tibetano. Participou do Centro de Dharma da Paz desde 1988, quando Lama Gangchen Rinpoche o fundou.
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