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ADVENTO

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Autor Maria Luiza Silveira Teles

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 12/11/2008 1:16:21 PM


Advento


Depois que tudo terminara, movido pela curiosidade e pela saudade, ele pegou na agenda que ela deixara. Leu-a, cheio de tristeza, sem compreender o porquê de uma vida plena de dor e superação. Na primeira página estava escrito: “Estou fraco e aquebrantado: tenho rugido por causa do desassossego do meu coração” Salmos, 38:8.

Na última, ela escrevera: Sou peregrina da Vida. Andei todos os caminhos e conheci todas as mortes. Sofri todas as dores, chorei todas as lágrimas, ri todos os risos. Bebi a água de todas as fontes, banhei-me em todos os rios e mares. Provei todo o fel e todo o vinho. Bati à porta de mil corações e explorei a terra de todos os homens. Busquei a Verdade em todos os livros, vasculhei terras e céus, galguei montes e desci abismos, recebi a mensagem de todos os seres.

Agora, nada que é humano me é estranho: sei bem da fome, do medo, da dor, da saudade, da miséria, do sonho, da morte, da vida... Sei bem de noites tristes, em que os fantasmas povoam o ser; de corpos dilacerados, de vidas esquecidas, de crianças estupradas, de esperanças murchas, de vincos no rosto, de fel na alma. Sei bem o que é amar e odiar. Sei de todas as paixões que fervem no peito de quem nasceu e, um dia, inexoravelmente, haverá de morrer... Não me falem que desconheço outros universos, galáxias e seres extraterrestres: nada me é desconhecido. E não me perguntem porque sou triste e alegre, homem e mulher, poeta e peregrina... Não me perguntem nada, porque nada sei. Sei apenas que tenho os olhos secos de quem esgotou todas as lágrimas; pés sangrando de quem caminhou todos os caminhos; lábios cerrados de quem já gritou todo o amor, toda a busca, toda a revolta... Ouvidos moucos de quem escutou todas as mentiras. Mãos inertes de quem já fez todos os gestos. Coração cansado de quem se entregou sempre e encontrou apenas couraças e máscaras de pobres criaturas com medo da vida. E não foi uma vida, eu juro que não: foram tantos amores, tantas as dores e as horas de espera e solidão... Foram tantos os sonhos, pesadelos, caminhos de pedras e espinhos... Foram mil vidas, eu sei, nascendo e morrendo, a cada dia, a cada noite, a cada nova estação,,, Pisada, moída, triturada pela mós dos moinhos de ventos das minhas ilusões. Mas, eu grito! Alguém me escuta? Quem são? Estão no fundo do poço ou são estrelas no céu? Venham comigo! Bebam de minha taça. Comam de meu pão. Morem sob meu teto. A noite é densa e eterna e a dor me fere e rasga a carne... A carne e as entranhas. Ela grita no silêncio das noites, molha o rosto, a roupa e suja a cama. Geme nas cordas do violino, do violão, no teclado do piano, no sopro do saxofone... Vira cor e forma nas mãos de quem não tem outra maneira de expressa-la; e é verso, lágrima, revolta, prece, na caneta que desliza pelo papel, sem saber o que pede o coração. Gritar: eu, também, tenho que gritar! Gritar por este mundo que agoniza. Doem-me os seus estertores e esgares, as faces de horror e desespero... Os olhos vidrados contemplando um amanhã em que não acreditam... Sou uma pessoa frágil como cristal, sensível, amorosa, perceptiva, cuja noite da alma se prolonga. Rezar é quase que meu exercício diário. Eu sei que Deus me escuta (às vezes tenho dúvidas, sou obrigada a confessar...). Mas Ele fala comigo de diversas maneiras. É Ele quem me mantém viva. Mas, de qualquer forma, tenho que gritar para sacudir os homens que dormem. Embora sinta um grande desânimo... Ele já veio. Andou por todos os caminhos poeirentos e cheios de abrolhos. Sangrou os pés, o corpo, a alma e foi crucificado. Que posso eu esperar? Que tenho ainda a fazer? Ele falou de Amor, Bondade, Justiça, Perdão, Reconciliação, Complacência. Mais de dois mil anos... Silêncio... tudo silencia. E eu morro para esse mundo...

Ele fecha a agenda...

Maria Luiza Silveira Teles



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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Maria Luiza Silveira Teles   
Fui professora de Inglês e, depois, professora universitária de Psicologia e Sociologia. Tenho 29 obras publicadas pelas editoras Vozes, Brasiliense e Parêntese. Hoje, trabalho como professora-visitante por todo o Brasil, sou consultora pedagógica e editorial e faça Reiki nas pessoas necessitadas que me chamam.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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