AGRESSIVIDADE E APRENDIZAGEM
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Autor João Carvalho Neto
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 8/27/2005 10:04:55 PM
A questão da falta de motivação para o envolvimento na aprendizagem do ensino regular nas escolas é um dos pontos mais angustiantes para pais e professores. Se por um lado, em casa, os pais dizem não saber mais o que fazer para modificar a situação, por outro, na escola, os professores também vão perdendo a motivação frente às dificuldades cotidianas com os alunos.
Existem muitas propostas de entendimento desse fenômeno, todas trazendo valiosas contribuições, quase sempre enfocando aspectos sociais e disciplinares do contexto de vida dos jovens. Contudo, pelo ponto de vista psicanalítico, teremos que buscar as causas nas raízes das manifestações comportamentais, ou seja, nos instintos básicos que emanam do inconsciente. Se falamos da falta de motivação – e ela é um aspecto da subjetividade do ser humano – teremos que analisar as pulsões mais primitivas que sustentam nossos desejos, ou a falta deles.
Partimos da existência de dois instintos básicos – a libido e a agressividade – presentes como forças dinâmicas do psiquismo humano. Com vistas aos propósitos em questão, estaremos apenas nos detendo em algumas características do estudo da agressividade.
O instinto agressivo atua no sentido da desagregação da matéria, como uma pulsão de morte, tendo aspectos de sua manifestação na economia interna das forças psíquicas, como também nos comportamentos externos que delas vão resultar. A agressividade, por isso mesmo, acaba sendo um componente importante à intervenção no meio social pelo homem, quando associada de forma equilibrada à libido.
Apesar de somente se tornarem manifestos em situações patológicas, existem na agressividade, componentes sádicos e masoquistas como expressões destrutivas e autodestrutivas da vida. Um sintoma clássico do componente sádico é a dominação. Quem já teve acesso a alguma leitura ou reportagem sobre atitudes sado-masoquistas nas relações sexuais já pode verificar um tipo de manifestação sádica da dominação. Assim sendo, a dominação engloba um comportamento de uso por apropriação de algum objeto afetivo, que pode ser desde outro ser humano até ... o conhecimento. Isso mesmo, interessar-se pelo estudo é uma pulsão sadia de dominação derivada do instinto de agressividade.
Entretanto, todo instinto na forma original tem sua manifestação direcionada para algum órgão do corpo biológico. A libido para os órgãos sexuais e a agressividade para o sistema muscular. Enquanto esses instintos permanecem fixados em sua destinação original, eles catexizam pouco outras áreas do ser humano (catexizar é investir um objeto com a energia do instinto). O que vai promover tal mudança – da destinação original para outras áreas – é um fenômeno a que chamamos de sublimação, que consiste em desviar a pulsão para outros focos onde ela possa se manifestar livremente mas também de forma socialmente sadia. Estudar é uma forma de sublimação dos instintos agressivos.
Mas, vejamos que nossas crianças e jovens vêm sendo estimulados por toda espécie de condicionamentos violentos, presentes em grande parte das programações da TV, incitando-os a descarregar a agressividade em comportamentos também violentos, ao invés de sublimá-la em outras direções, como nos estudos, onde estariam se apropriando, por dominação, do conhecimento.
Vocês já pensaram que antigamente quando não havia tanta divulgação da violência a situação nas escolas era diferente? Vocês já pensaram que as maiores vítimas dessas dificuldades são os meninos, justamente porque eles possuem mais massa muscular, o que favorece a descarga da agressividade pelo corpo e não a sua sublimação no estudo? Pois creiam, é isso mesmo o que acontece, o que não invalidam outras explicações possíveis, mas que estariam mais como reforço do processo do que como causa primária.
E reparem que a maioria desses jovens que mergulham nesta situação, quando passam a ser discriminados pela escola, pela sociedade e até pela família, baixam sua auto-estima; com a conseqüente diminuição de investimento da libido e do prazer de viver, a agressividade se torna prevalente, resultando em atitudes agressivas contra o ambiente social e contra si mesmos: um comportamento patológico da agressividade, com a presença de seus componente sádicos e masoquistas, gerando violências internas (vícios de toda ordem por exemplo) e externas (criminalidade).
Porisso não podemos pensar a falta de motivação para o estudo apenas do ponto de vista das dificuldades ambientais, como a falta de incentivo pela família, mas como uma doença psíquica, com componentes sociais e que como tal precisa ser abordada.
João Carvalho Neto
Psicanalista, autor do livro “Psicanálise da alma”
Texto revisado por Cris
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Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal" E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |