Anemia de consciência!

   

Autor Paulo Salvio Antolini

Anemia de consciência.

Sabemos, a grosso modo, que anemia é a falta de glóbulos vermelhos no sangue; falta de ferro na dieta alimentar. Então podemos entender como "anemia de consciência" a deficiência da nossa capacidade de percepção e entendimento das ações, comportamentos e emoções. Quando dizemos "não tem consciência", estamos nos referindo à insensibilidade frente aos fatos ou situações, não percepção das conseqüências de atos praticados, falta de se aprofundar nas situações e refletir em seus aspectos principais.

Eis, então, uma expressão que pode ser utilizada em muitas situações que estamos vivendo, desde dentro de casa, na família, até naquelas que envolvem a coletividade, passando pelos atendimentos em todos os níveis, trabalhos e mesmo contextos sociais.

Nossa consciência se amplia na medida em que refletimos e exercitamos o ato do pensar. Pensar é formar idéias, raciocinar. Há muitos anos atrás, um autor cujo nome não me recordo afirmou que nós, seres normais, pensamos muito pouco. Disse que na maior parte das vezes formamos uma "colcha de retalhos" de experiências já vividas e consideramos isso um pensamento. Passados os primeiros momentos de perplexidade, consegui entender um pouco mais tal afirmativa: nossa pré-disposição para escutar e a busca imediata de respostas e classificações do apresentado pelo interlocutor nos impedem de, primeiro escutarmos a história como um todo e segundo, darmo-nos tempo para a busca da compreensão do exposto. Reparem que na maioria das vezes as pessoas não se permitem constatar as situações, elas já têm uma resposta, uma opinião formada. Visto dessa forma, o autor tem razão.

Ampliar o campo de consciência é abrir o ângulo de visão, observando os fenômenos como um todo e não apenas em partes, normalmente só aquelas que interessam.

Nos dias atuais, parece haver um movimento intenso no sentido de evitar que as pessoas raciocinem, pensem realmente, tirem conclusões próprias. Quase tudo nos é apresentado como a velha fórmula das provas escolares: múltipla escolha, ou então com o desfecho já dado, é lógico, mostrando apenas o que interessa aos emitentes.

Ampliar o campo de consciência é refletir sobre as conseqüências dos atos, não só as favoráveis, mas todas, sem exceção. É perceber que em cada gesto, palavra, intenção, há uma geração de respostas atuando no meio, atingindo outras situações e mesmo pessoas, inclusive voltando-se para quem a praticou. Ter consciência é conhecer com sabedoria as ramificações e entrelaçamentos gerados por cada situação. Agir com consciência é contemplar em sua ação todos os pontos identificados, evitando assim danos a outros e a si próprio.

Um bom caminho para livrar-se da "anemia de consciência" é desprender-se das idéias pré-concebidas; deixar a auto-afirmação de lado; colocar-se no lugar do outro, verificando as conseqüências das decisões. Identificar os verdadeiros motivos de nossas ações, sem medo de reconhecermos que estamos sendo injustos, egoístas ou com outra qualificação que nos pareça negativa. Identificar o que nos move é o primeiro passo para podermos corrigir o que acharmos que não é adequado.

Idéias fixas são verdadeiros "venenos" alimentadores da "anemia de consciência", pois não nos permite identificar a situação como um todo, mas só o que se quer. Querem um exemplo? Quando uma pessoa é impedida de agir de forma a prejudicar outrem, ela se expressa da seguinte forma: "Se Deus quiser, ele há de pagar por isso!". Pagar o quê? Ele (a pessoa que evitou o dano) tem que receber pelo bem que fez, ou pelo mal que impediu de acontecer?

O "conheça-se a si mesmo" é exatamente uma afirmação do "amplie sua consciência" a seu próprio respeito, e na medida em que isso começa a ocorrer, a satisfação (não significa isenção de sofrimentos) e o domínio sobre a própria vida se manifestam.

Eliminar a anemia de consciência é evitar a anemia da própria alma.

           

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