Aperte o Parafuso
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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 6/18/2007 10:09:17 AM
Há fatos inesquecíveis quando se ama. E quando se perde. Lá se vão alguns anos e hoje tenho doces lembranças daqueles momentos, que vivemos juntos. Foi um período curto, de apenas três anos, mas valeu por um século.
Sua última comunicação foi: “amor, aperte o parafuso do guarda-roupa”, me deu um selinho no rosto e se dirigiu para a garagem.
Escutei o barulho do carro saindo e indo embora.
E ela se foi para sempre.
Horas mais tarde a triste notícia do seu acidente fatal.
Neguei-me a ir ao velório, ao enterro como quisesse ter, para sempre, a sua imagem e o pedido de apertar um simples parafuso.
Durante algum tempo fiquei trancado em casa. Não quis saber de parentes e amigos. Nem consolações, nem conselhos.
Não sei por quanto tempo chorei, fiquei sem me alimentar e de certa forma cultuando seus pertences: perfumes preferidos, batons, esmaltes, maquiagens.
Ate mesmo suas roupas me traziam lágrimas.
Foi um período difícil de minha vida.
Como costumo dizer que o tempo é nosso melhor amigo, para o esquecimento, comecei a concordar com as pessoas.
Ela se foi.
Então, arrumei tudo o que era dela, até mesmo as fotos, embalei e guardei no guarda-roupas.
Aí, aconteceu um fato inexplicável: um pequeno parafuso da dobradiça, caiu no chão.
De repente, voltei àquele dia quando ela me pediu para apertar o parafuso.
Fiquei sentado, ali no quarto, imaginando como ela era preocupada com detalhes, que passavam desapercebidos de mim.
Fiquei segurando o pequeno objeto e não sei porque lembrei daquela lenda, dos índios americanos, de que não podemos amarrar uma águia e um falcão.
Os dois não voarão mais e acabarão se matando. O amor, conta a lenda, também deve ser assim. Devemos voar juntos, mas nunca amarrados.
Agora entendo o significado de sua última mensagem. Deveria apertar o parafuso para que a dobradiça não quebrasse, ou seja, a vivência a dois deve sempre ser reciclada para que não haja ruptura maior.
E, finalmente, apertei o parafuso para que minha vida não se quebrasse em futuros relacionamentos.
Texto revisado por: Cris
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