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Aqui os espíritos não vêm

Atualizado dia 6/18/2006 6:27:09 PM em Autoconhecimento
por Celso A. Cavalheiro


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O sol entrava despreocupado em meu quarto amplo, ignorando a cortina de chita que tentava esconder-lhe um pouco o brilho. Intrometido, esparramava-se no assoalho de madeira envernizada o qual, sem a menor cerimônia, o refletia de volta no teto; numa atitude desrespeitosa, alheio ao meu legítimo direito de descanso, naquele domingo de verão.

Já era tarde, mas eu me esforçava para seguir dormindo. No entanto, acostumado a levantar cedo nos dias de semana, eu continuava a me virar na cama, de um lado para outro, sem conseguir pregar o olho.
Minha mulher, ao meu lado, me causava inveja, pois dormia profundamente, como se ainda fosse alta madrugada.
Lá fora, obviamente, não havia o costumeiro barulho de carros e ônibus dos dias de semana. E saber disso, era, para mim, ainda mais penoso.

Aos pés de nossa cama, eu e minha mulher, havíamos colocado o pequeno berço de nossa filha, de mais ou menos um ano de idade, para poder cuidar melhor dela durante a noite.
Devo ter adormecido por um momento, pois, de repente, ouvi minha filha gritar de forma apavorante, como se tivesse levado um grande susto. Numa fração de segundo imaginei que ela fosse desencadear um choro incontrolável; mas nada aconteceu. Num salto, sentei-me na cama e vi uma jovem mulher debruçada sobre seu berço.
Seus braços estavam dentro do berço, aparentemente sobre minha filha, como se estivesse tentando acalmá-la (foi o que pensei, pois milha filha estava, agora, em completo silêncio).

A moça parecia ter em torno de 18 anos e vestia-se como uma colegial - sapatos pretos, meias brancas sobre meias de nylon, saia plissada, camisa branca e um casaco de lã, fino, sobre a camisa - típico de um uniforme escolar. Tinha cabelos muito pretos e curtos, cortados tipo “Chanel”, os quais, devido à posição em que a moça se encontrava, inclinada sobre o berço, lhe escondiam o rosto por completo.
Tínhamos naquela época uma jovem senhora que nos ajudava no lide diário da casa. Era uma boa pessoa e todos gostávamos muito dela. Tinha em torno de 35 anos e era o nosso braço direito. Seu nome era Mary.
Por um momento, pensei que fosse Mary, sempre tão atenciosa, que tivesse vindo em socorro à minha filha. Puxei rapidamente o lençol sobre meu corpo seminu e disse-lhe: Mary... é você!? Que susto! A moça não respondeu. Ficou alguns instantes na mesma posição e então virou-se sem deixar que eu lhe visse o rosto. Saiu de nosso quarto com passos firmes, entrou numa pequena sala, desceu as escadas, ainda de cabeça abaixada, e desapareceu.
Minha mulher acordou, de repente, e perguntou assustada: O que houve? Porque tu estás sentado aí?
Não lhe dei resposta. Saí correndo do quarto, atravessei a pequena sala, e desci as escadas em disparada... Não havia mais ninguém ali. A moça havia desaparecido como por encanto. Verifiquei que as portas continuavam trancadas, inclusive com aquela corrente de segurança, que só pode ser colocada ou retirada por dentro.

Quando voltei ao quarto e contei à minha mulher o que havia acontecido, ela me disse que também ouvira o grito, mas não conseguira acordar. Também me fez lembrar que era domingo e que nossa ajudante não trabalhava aos domingos e nem tinha cópias das chaves da casa para poder entrar sem se anunciar - o que confirmamos com Mary, quando ela chegou para trabalhar na segunda feira, pela manhã.

O tempo passou e aos poucos o fato foi caindo no esquecimento. Muitas vezes, no entanto, me pergunto por que essa moça nunca mais voltou e o que ela realmente queria... Teria ela acalmado minha filha naquela manhã ou, quem sabe, a teria assustado, fazendo com que ela gritasse daquele jeito?

Às vezes penso que tudo poderia ter sido um sonho. E se não fosse por tantos detalhes que observei naquela moça, durante um tempo que me pareceu bastante longo, e pela luz do sol em meu quarto, eu até já teria me convencido disso.
Uma amiga, um dia, fez o seguinte comentário, em tom de brincadeira, com relação a esse fato: “Deve ter sido um sonho mesmo. Os espíritos não vêm aqui neste fim de mundo. (Referindo-se à nossa cidade, tão distante do resto do país). Pelo menos não os bons"!

Texto revisado por: Cris

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