As semelhanças nos unem
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Autor Theresa Spyra
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 5/28/2008 12:39:23 PM
Em alemão temos um provérbio semelhante a “diga-me com quem andas que direi quem és”, Geralmente não gostava dele, porque lembrava-me a minha mãe reclamando das minhas companhias, dos meus amigos, das pessoas “estranhas” que freqüentavam minha vida. Bem, depois de mais madura entendi que realmente eram estranhas, estranhas a ela, que possuía crenças e valores bem diferentes dos meus. Assim como muitas das companhias dela eram “estranhas” a mim.
Trabalhando em terapia, percebo que existem muitas semelhanças que atrai alguém a ficar com outro alguém. Às vezes estas semelhanças não são visíveis, num primeiro momento. É como a música “Eduardo e Mônica”: não existe razão às coisas feitas pelo coração... As semelhanças podem ser de comportamento, de atitude, de emoções, de ideais, etc.
O homem busca ficar entre os seus iguais, busca a sua tribo, porque ele procura segurança e ser aceito. Assim, um punk não freqüentaria um grupo de evangélicos, assim como “descolados” não andam de braços dados aos caretas. Seria o maior mico, né? Da mesma forma, se escolhemos alguém para ser nosso parceiro, é porque vemos nele semelhanças que me nos atraem, mesmo que sejam inconscientes.
Porém, quando o relacionamento começa a ficar mais sério, passamos a conviver com o fulano ou fulana, acordamos e olhamos aquela cara amassada ao seu lado, olhos inchados, cuecas e roupas jogadas pela casa, entramos num nível diferente daquele que chamamos convivência social. Pouco me importa se o meu colega de turma joga suas meias sujas sobre a pilha de roupa limpa e passada. Mas incomoda muito quando é o cara que mora comigo. Não ligo se meu primo é desorganizado e esquece de pagar as contas no vencimento. Mas se pego o telefone e ouço aquela voz automática avisando que a conta está vencida e se não pagar será cortada, aí fico uma fera!
Daí, a semelhança de pensamentos, vontades, gostos ou atitudes que me fez aproximar do sujeito vai ficando para trás, enquanto que as evidências das diferenças ficam cada vez maiores!
Perfil emocional se completa
Até agora falei de coisas externas, de comportamento, aquilo que dá para ver, através das atitudes. Vou falar um pouco agora do que se passa no interior da pessoa, no lado emocional. Noto que as pessoas que possuem um vínculo de relacionamento, e não importa se o relacionamento está dando certo ou não, possuem buscas emocionais que se completam. É a tal história: “você é a tampa da minha panela...”. Vejo, num casal, a mesma maturidade emocional, porém, com vazios que se completam. Por exemplo: uma pessoa que quer ser aceita pelos pais acaba encontrando um parceiro na mesma situação. Não importa se o passado familiar de um foi razoável e do outro não. O vazio emocional que sentimos não é provocado pelo passado, exatamente, mas pode ser realçado por ele.
Por que digo que o passado não é a causa do vazio emocional? Porque nós não somos um indivíduo que se formou a partir do nascimento, do desenvolvimento cerebral e emocional. Nós somos simplesmente uma célula de um núcleo maior, formado pela nossa família, nossos pais, avós, bisavós e por aí vai. Já trazemos características de aceitação e rejeição, dor e prazer, impressos em nosso sistema familiar, e estas informações são representadas pelas emoções mais profundas que sentimos. Conforme o estado emocional, conforme a busca que tenho, encontro alguém com o mesmo estado, com a mesma busca, somente com características diferentes.
Alguém de vocês assistiram ao antigo filme “O tesouro de Sierra Madre”? Nele, os personagens se esgoelam para ficar com a posse de um punhado de ouro, se matam, traem-se... O que acontece quando duas pessoas estão juntas, procurando a mesma coisa? Pois é, pode ser que elas se matem... ou... se unam para buscarem juntas.
No relacionamento, entender que os dois procuram a mesma coisa, e que não adianta querer “matar” o outro porque o vemos como um concorrente, que está querendo roubar aquilo que eu também quero, é fundamental para o equilíbrio e o crescimento conjunto. Por mais que possamos achar, não existe alguém mais evoluído ou menos evoluído dentro da relação. Ambos são iguais e querem a mesma coisa. A questão é que, para eu conseguir aquilo que eu quero do outro, tenho que ajudá-lo a encontrar o que ele quer. Para preencher o meu vazio emocional, tenho que ajudar o outro a preencher o vazio emocional dele. Ele se fortalecerá e, automaticamente, também estarei me fortalecendo.
Porém, ajudar o outro só é possível quando ajudamos a nós, quando preenchemos o nosso vazio e, assim, não vemos mais vazio no outro. E, por incrível que pareça, pode ser que nesse momento se perceba que a relação se esgotou, naturalmente... pode ser que se perceba que ela só se mantinha viva para que, através do atrito, ambos crescessem. Como também pode ser que ela se fortaleça, ou melhor, ressurja, como a fênix renovada das cinzas...
Quem diz que um relacionamento deve permanecer até o fim, são crenças sem fundamento... Quem diz que um relacionamento não deve permanecer até o fim, também são crenças sem fundamento...
A única coisa que pode ser feita é viver o melhor neste momento presente, e perceber e confiar em algo maior que nos reserva surpresas cada vez mais significativas, quanto mais nos entregamos a esta confiança...
Siddho Theresa Spyra é consultora e facilitadora de Constelação Familiar Sistêmica
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Theresa Spyra é alemã, trainer e terapeuta com especialização em constelação sistêmica familiar, organizacional e estrutural. Estudou com a também alemã Mimansa Erika Farny, pioneira na introdução do método sistêmico de Bert Hellinger no Brasil, e aprofundou-se nos sistemas estruturais e organizacionais, com estudos no Brasil, Alemanha e Suíça E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |