Astrologia, Psicanálise e a epistemologia anarquista de Paul Feyerabend
Autor Walter Luis Bastos Doege
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 10/30/2006 12:06:23 PM
Após a eleição presidencial brasileira reflito sobre a dificuldade de mudar, seja a nível individual, seja a nível social. Mesmo considerando que o resultado do pleito eleitoral seja uma mudança, mesmo questionando radicalmente a obrigatoriedade do voto em vez do voto facultativo no Brasil, a mudança me surge como um tema central hoje.
Se cada pessoa perveverar em ser o que é esta atitude promove mudanças de uma maneira que remete ao movimento perpétuo, ao perpetuum mobile dos alquimistas, ao movimentos perpétuo celestial, porque ser humano é ser em um devir contínuo que nossa consciência percebe parcialmente. Na contemporaneidade o desrespeito com a condição humana, com os direitos humanos, como por exemplo o direito de não votar em uma eleição, é tema de importância incalculável. Movimento algum, individual ou coletivo, mudou esta situação de cidadania. Pois não é apenas no período eleitoral que a ciddania deve ser enaltecida, recordada: a cidadania, como amar, deve ser uma atividade diária. Cito o início do cântico VII de Cecília Meireles: "...ama sem amor". Exercer a cidadania é como amar, é como orar, é como meditar, é como contemplar o dia que sempre é novo (Goethe:"Nada é mais valioso que o dia de hoje"). Assim, hoje é um dia que me parece fundamental para a consciência cidadã: existe, como nos lembra Foucault, uma ordenação dos discursos, um controle dos discursos, uma categorização dos discursos que incide não só nos enunciados mas, após Aristóteles, incide também na enunciação, no sujeito que fala, que escreve ou que grita.
Paul Feyerabend nos lega a epistemologia anarquista, lembrando-nos que a ciência (strictu sensu) não é a única fonte de conhecimento, longe disto, que há várias formas de se conhecer, de curar, de pensar, de alcançar algum grau de sabedoria, esta, radicalmente diferente do conhecimento. E interpreto que propunha uma epistemologia transdisciplinar. A transdisciplinariedade tem como expoentes Edgar Morin e Barasab Nicolescu. A transdisciplinariedade é uma atitude aberta ao universo, ao mundo, à pessoa singular que cada um é. E neste contexto a astrologia e a psicanálise seguem tendo a função de poetizar o cotidiano, mesmo que Plutão - ou seja,de acordo com os especialistas em astronomia - não seja mais um planeta e a astrologia não seja ciência mas apenas fantasia e que nós, pessoas comuns, não sejamos capazes, como dita o discurso cultural-político dominante, de conscientemente prosseguir em nosso caminho singular lado a lado com o destino, transformando diariamente o mundo e nossas vidas. Amar é um mistério - o único importante para viver com entusiasmo, criatividade e alegria. Amar é uma atitude de humildade, de coragem, desapego, que não admite negociações e concessões, que é rebeldia e inconformidade, saudável inquietação.
Walter Doege
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