Bendita ignorância!
Atualizado dia 12/8/2007 8:36:05 PM em Autoconhecimentopor Claudia Gelernter
Como as abelhas não têm conhecimento de tais pesquisas, elas simplesmente não só voam, como ainda produzem mel...”
Antonio Rayol, fundador do Conselho Anti Drogas - RJ
Ana Lins dos Guimarães Peixoto nasceu na casa velha da ponte, na antiga cidade de Goiás, em 1889, mesmo ano em que veio ao mundo o famoso ator e cineasta, Charlie Chaplin. Fez apenas o curso primário. Como toda menina de sua época, precisava casar-se cedo e os estudos não constavam nos planos dos pais, afinal, isso era coisa para homem. A partir das dezessete primaveras já seria comentada na cidade como “a solteirona”. A única prioridade era ensinar-lhe sobre os afazeres do lar.
Teve que esperar até os vinte anos para que seu grande amor aparecesse. Se para ela aquele homem mais velho representava o príncipe encantado de seus contos apaixonados, para seus pais, totalmente consternados, o gajo estava mais para bicho-papão. Tratava-se de um homem separado que ainda por cima tivera a ousadia de ser pai de filhos com uma branca e uma índia, antes de conhecer a doce menina!
Ana não pensou muito: fugiu com ele. E ainda criou a filha indiazinha como se fosse sua. E foi feliz.
Cinco anos antes desse episódio, começou a escrever seus contos e enviá-los ao jornal. Ousava. Não sabia nada de gramática, entretanto sentia as palavras ideais com o coração, construindo suas poesias com maestria. Tanto que decidiu mudar de nome: tomou o pseudônimo de Cora Coralina que significa “coração vermelho”. E freqüentemente dizia: “Veja como é lindo meu novo nome!”
Tornou-se uma doce senhora, dona de poderosas palavras, escrevendo com simplicidade. Devido ao seu desconhecimento das regras gramaticais, conseguiu que sua produção literária priorizasse a mensagem ao invés da forma. Esteve o tempo todo preocupada em compreender o mundo, em contribuir com algo de bom, em elevar o próprio espírito através de seus devaneios com as palavras.
Teve a sorte de não saber o que se esperava dela. E fez muito mais do que muitos sonharam fazer neste mundo. Bendita ignorância que produziu tamanha sabedoria!
Ainda bem que ninguém contou para ela sobre as entediantes teorias do aposto e do vocativo. Imagine se o medo de errar a fizesse desistir da literatura, deixando-nos sem sua poesia maravilhosa? Ou mesmo tornando-a apenas uma técnica da escrita?
Por vezes é bom desconhecer a extensão dos riscos. Isso é o que torna certas pessoas poderosas. Afinal, conhecê-los bem é dar combustível ao medo. E o medo em demasia pode nos fazer estacionar na calçada da nostalgia.
Daí surgem aquelas velhas perguntas: Como teria sido se eu tivesse tentado? Será que aquela pessoa descartada no passado realmente me faria sofrer? E aquela nova profissão? Seria mesmo tão complicada? Será? Será? Será?
Escreveu Sêneca (4 a.C.-65 d.C.), o grande filósofo e escritor romano, que “rir é correr o risco de parecer tolo; (...) mas os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo é não arriscar nada.”
Pois é! Às vezes é melhor simplesmente ignorar os riscos. E seguir adiante. Sim! Entendo que a previdência é muito importante. Ela nos ajuda a errar menos. Mas a paralisia, nascida do medo, é a única certeza de nenhuma realização.
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 27
Tanatóloga e Oradora Espírita, professora e coordenadora doutrinária E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |