Brunehilda - 1º e 2º capítulos.
Atualizado dia 8/10/2008 11:05:30 AM em Autoconhecimentopor Eduardo Paes Ferreira Netto
Capítulo 1º
Era uma mulher terrivelmente bela. Cabelos e olhos negros brilhantes, os lábios carnudos com uma pintura quase roxa. Seu corpo extraordinariamente modelado movimentava-se em meneios sensuais num vestido de cetim negro; decote bastante generoso, mantilha vermelha salpicada de pequenas estrelas prateadas. Uma tiara de ouro completava seu figurino. Um perfume de combinação especial de essências deixava enlouquecidos os homens daquela festa de debutantes, filhas de conhecidos figurões da sociedade de uma cidade distante.
Relanceando o olhar pelo salão encontrou um jovem adequado às suas necessidades. Dentro em pouco, Alberto, totalmente subjugado, foi levado a seu castelo. No subterrâneo, um templo dedicado às entidades goéticas; em sua parede sul uma figura infernal dominava o ambiente. No centro do salão um pentagrama invertido rodeado de velas negras; um incenso mal cheiroso evolava de um fogareiro. Brunehilda gritava imprecações e promessas de sexo com Satã em troca da vitalidade de Alberto, que sentado num banquinho entre as pontas do pentagrama tudo assistia sem reação, totalmente impotente.
Capítulo 2º
No dia seguinte, na empresa em que Alberto trabalhava, estranharam sua prolongada ausência. Passaram-se três semanas. De sua residência nada souberam informar.
Áureo, um jovem colega de trabalho, estudioso das ciência ocultas, preocupado, num domingo, deitou-se num divã e concentrou-se no amigo. Em poucos instantes lhe veio à visão o corpo de Alberto envolvido por enorme aranha cujas garras negras e peludas lhe sugavam violentamente a vitalidade. Viu também uma igreja com um relógio em todas as faces da torre, um cata-vento com um galo em cima e também uma estação ferroviária com o nome da aldeia. Sua visão mostrava agora a aranha a se retorcer e a fincar mais suas garras no corpo do rapaz.
Áureo contou o caso a seus chefes que lhe deram uma semana de licença para tentar salvar o amigo. Não foi difícil localizar o castelo. À sua chegada as portas abriram-se misteriosamente; caminhou pelo hall e intuitivamente foi em direção a um aposento à sua frente; a porta abriu-se também de forma misteriosa: era a entrada do subterrâneo. Continuou seguindo em frente. Uma cortina de veludo escarlate impediu-lhe a passagem; abriu-a e no centro do salão viu o amigo jogado ao chão, no meio de um círculo rodeado de velas pretas, o mesmo incenso fétido impregnava todo o ambiente. De pé, desafiante, Brunehilda, numa voz melíflua chamava:
- Venha, estava lhe esperando.
- Mulher maldita, o que fazes?
- Bem sabes o que faço, porque perguntas?
- Venho pedir-te por esse rapaz.
- Pedir? Ha, ha, ha... pedir! Você vem me pedir?
- Sim, venho pedir-te, retrucou Áureo, humildemente.
- Pedes inutilmente. Investi muito neste infeliz, não vou dispensá-lo sem mais nem menos.
- Pede o que quiseres: dinheiro, ouro, qualquer coisa.
- Ha, ha, ha... não banques o inocente, não preciso dessas coisas, mas poderás consegui-lo.
- Como? Qual é o preço?
- Tu o substituirás!
O coração de Áureo bateu aceleradamente. Não estava preparado para aquilo. Se aceitasse a troca para salvar o amigo, após sugado em toda sua vitalidade, seria jogado semi-morto em qualquer beira de estrada. "Prova de amor maior não há, que doar a vida pelo irmão...", esse verso passou a lhe martelar a cabeça. Como eram bonitas aquelas palavras, mas quão cruéis naquela situação. Ele, ainda jovem, em fase de treinamento espiritual avançado, de repente ter que fazer tal barganha com aquela mulher que o olhava zombeteiramente.
A humanidade sairia perdendo com aquela troca. Alberto era um bom rapaz, mas teria que voltar ainda muitas vezes à Terra para alcançar seu grau de espiritualidade. Alberto, neste estágio de vida, só pensava em gozar dos prazeres da vida.
- Em que pensas? Achas meu preço muito alto? Deixarás morrer o teu amigo? Onde está o amor que tanto pregas?
Áureo estava meditativo, pensando sobre as conseqüências do que iria fazer. De repente, levantou altivamente a cabeça e disse:
- Muito bem, mulher cruel, aqui me tens despojado de qualquer indecisão. Toma-me em substituição à tua inocente vítima.
- Aguarde um pouco!
Brunehilda voltou-se para o altar e em terríveis imprecações comunicou à sua entidade satânica o que iria fazer. Ao longe ouviu-se uma gargalhada debochada. Pronunciou uma invocação, apagou as velas, retirou alguns objetos rituais do círculo traçado com carvão, apagando-o em seguida. Ao som de uma sineta surgiram alguns criados que levantaram Alberto. Deram-lhe uma beberagem e em pouco tempo o rapaz ficou consciente.
- Oh, onde estou? Áureo, o que veio fazer aqui? Por que é que eu estou aqui?
Olhou à sua volta e se deparou com Brunehilda, mas não tinha a mínima idéia do que lhe acontecera. Havia também perdido a noção do tempo.
- Áureo, o que veio fazer aqui? - perguntou novamente.
- Nada perguntes, Alberto. Saia daqui.
Tirou algum dinheiro do bolso e deu ao amigo.
- Há um táxi esperando aí fora. Volte imediatamente para sua casa. Um dia, talvez, saberás o que aconteceu.
Alberto se foi e Áureo ficou no castelo à disposição da megera.
Texto revisado por Cris
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