Cada um com sua razão!
Autor Paulo Salvio Antolini
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 5/4/2013 5:07:28 PM
Cada um com sua razão!
"Tem muita gente que não presta nesse mundo!". Com esta afirmação uma pessoa com quem eu conversava abriu-se para expressar toda sua revolta em relação ao que estava vivendo.Vocês já se perguntaram se a pessoa que julgamos não prestar se reconhece assim, sem valor e sem moral? É certo que não. Com toda a certeza ela se acha correta e "certa". Para ela, está apenas defendendo seus direitos. E é aí que está grande parte do problema, pois cada um acha que está certo e em seu direito, e deixa de ver o direito do outro. Já não se vive mais o consenso, o meio termo, enfim, o equilíbrio que permite um viver em comunidade de maneira mais harmoniosa e pacífica. Normas, regras, leis, elas existem, mas não são respeitadas, porque cada um as interpreta a seu modo e com o reforço das nossas instituições e de figuras públicas que são, para a sociedade, os modelos de como se comportar.
Sabemos que o que vale é o exemplo dado através do comportamento, mas ainda vemos pais fumantes aconselhando seu filho a não fazê-lo, assim como há mães que ordenam, aos berros, que sua criança não grite. O superior que cobra pontualidade nas reuniões, porém só chega atrasado a elas.
O reconhecimento dos valores, o respeito a eles, o colocar-se no lugar do outro, identificando suas razões, mas também as razões dele, isto está cada vez mais difícil e parece cada vez mais distante de ser retomado.
É o egocentrismo. Podemos dizer egoísmo associado à prepotência e à arrogância que leva o ser humano, nesse processo de auto-afirmação, a negar os valores e a passar por cima de seus semelhantes.
Quando o ser humano perde seu referencial, ou seja, não tem mais por onde se balizar, passa a usar critérios unicamente subjetivos. Sem nenhuma consistência e coerência.
Os conflitos são inevitáveis. As disputas e batalhas pessoais passam a ser constantes, diárias e o estresse torna-se o pano de fundo de toda e qualquer relação. O que significa isso? Que se está pronto para explodir. Aqui cito a brincadeira do "Bom dia!", ao que o outro responde: "Me dê três motivos para isso." ou: "Só se for para você!", que exemplifica bem o que estamos dizendo.
Mas se tantos conflitos e males são gerados por essa conduta, por que o homem insiste em tê-la? Pelos atrativos que lhe são mostrados. Há um bombardeio de estímulos para que cada um sinta que pode ser o astro principal se tiver ou consumir determinada marca. É conceito de sucesso ser mais do que o outro, ter mais do que o outro, possuir o último modelo lançado. Todos esses chamados mexem com o desejo e estimulam a ambição de cada um, mas através do conquistar sem esforços, sem precisar dedicação e disciplina, como se as facilidades fossem reais para todos. Temos exemplos de pessoas públicas que agem inconseqüentemente, sem haver para elas sanções que as mantenham respeitosas às leis. Modelos distorcidos que servem de escola para os demais.
Inegável que, nos dias atuais, tudo gira em torno do dinheiro e o que ele pode propiciar. Porém, o que muitos não percebem, é que todas as chamadas feitas para que se sintam "bem-sucedidos" nada mais são do que artimanhas que geram necessidades que, para serem atendidas, precisam de aquisições, que acabam por descapitalizar as pessoas, enriquecendo as outras. E essas necessidades são reais? Na maioria das vezes, não. Aparelhos celulares são trocados amiúde, ou porque esse é menor, aquele toca música, outro se conecta à internet, a cor é mais moderna e assim por diante. Todos eles têm, ou deveriam ter, a mesma função: conectar duas pessoas que querem se falar. Tenho observado, ainda nesse exemplo, que muitos recursos que alguns aparelhos oferecem, raramente são usados. Mas tente questionar esse tipo de consumidor e será taxado de invejoso, despeitado, ou coisa parecida.
O afastamento dos valores que contemplam a coletividade gera o caos, o desentendimento e a agressividade. Um dia retornaremos a eles, pois essa turbulência não será suportada. A "razão" comtemplará a coletividade novamente.
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