Caminhando na escuridão
Autor Fernanda Petter
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 11/2/2006 12:52:56 AM
Imaginemos nossos ancestrais que ao cair da noite recolhiam-se em abrigos como cavernas ou outros locais seguros onde pudessem passar a noite a salvo de predadores. Na escuridão, com a visão diminuída, outros sentidos tornavam-se apurados principalmente a audição. Os sons da mata, do vento, da chuva, da neve todos os ruídos da natureza juntos, embalavam o sono de nossos antepassados que vagavam entre o cansaço profundo e a vigília para proteção do grupo. Na noite, apesar de todas as ameaças naturais, o mais intrigante sentimento era o medo do desconhecido, daquilo que não se vê, dos mistérios da noite. A lua sempre fora uma doce companheira da escuridão, onde através de sua luz prateada sombras são produzidas, silhuetas escuras, formas muitas vezes indefiníveis de aspecto sinistro. A infinita imaginação humana unida a necessidade de compreensão de certos fenômenos, criou seres subterrâneos e monstros malignos. E assim passou-se a história e inúmeras foram as tentativas de diminuir essa angústia noturna. O fogo, o óleo, o gás, energias elétrica e nuclear, todas tentativas de tornar a noite mais iluminada, menos amedrontadora.
O homem moderno, em sua maioria, usa a noite para sair, divertir-se. Tem total controle sobre ela, tem toda a luz que necessita para fazer a noite virar dia. Contudo, a noite continua associada, ao subterrâneo, ao não convencional.
Por mais que tentemos iluminar a escuridão visual, quando nos referimos às emoções, é lá no nosso subterrâneo, que encontramos nossos fantasmas ocultos, local de incertezas, de confrontos com partes pouco aceitas da personalidade que permanecem no mundo inconsciente. É na escuridão da vida interior que nos descobrimos, insights que aparecem na simbologia dos sonhos, percepções sutis não racionais vem a tona, liberando consigo uma energia que permanecia nas profundezas de nossa psique. Iluminação que surge aos poucos, pedaços de nós que foram renegados que pedem atenção e integração na busca de um ser mais completo e equilibrado.
Tenhamos forças para permanecer nesse caminho de busca, autoconhecimento e iluminação. Precisamos do escuro para clarear, descansar, viajar ao mundo dos mistérios, aguçar sentidos pouco utilizados e descobrir potenciais que estavam escondidos de nós mesmos.
“ Entrar na escuridão com uma luz é conhecer a luz.
Conhecer a escuridão, andar no escuro. Andar sem ver,
e descobrir que a escuridão também floresce e canta,
e é levada por pés e asas escuros. “
Wendell Berry
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