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CÂNCER E VIDA : Extratos do livro de mesmo nome

Atualizado dia 2/14/2007 2:39:38 AM em Autoconhecimento
por Maria Antonieta de Castro Sá


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Tenho 56 anos, sou psicóloga e nova associada do CLUBE STUM.

Depois de ser acometida de um câncer de mama bilateral, ouvi de vários profissionais da saúde que há um importante componente emocional nesta doença. Mas além de vagas referências a traços depressivos, ninguém me esclarecia, a contento, como pode agir aquele componente emocional. Fiz uma cuidadosa pesquisa bibliográfica e não encontrei em nosso idioma quase nada que me orientasse. Mas encontrei trabalhos de boa cepa científica, em geral desenvolvidos nos Estados Unidos e passei três anos estudando o assunto. Na mesma época surgiram por aqui os primeiros cursos de especialização em psico-oncologia.

Fora um longo, ameaçador e extenuante caminho para chegar até ali. Pessoas amigas faleceram por metástases do câncer de mama, enquanto eu me tratava e estudava a questão. Outras sobreviviam, como eu. Foi um privilégio compreender as características psicológicas que acompanham a doença.

Este privilégio tinha que ser partilhado. São muitas as situações objetivas e subjetivas pelas quais passamos, quando uma doença grave nos atinge. E são muitas as difíceis emoções que temos a suportar e digerir, para prosseguirmos com boa qualidade de vida.

Todos nós queremos acreditar que certos dramas nunca acontecerão conosco. E ter um câncer, mesmo sendo ele curável, é um drama. Onde quer que se manifeste, o câncer está associado em nossa mente ao risco de morte, ainda que não queiramos reconhecer isso e que tenhamos todas as esperanças possíveis de sobreviver a ele. Por incrível que pareça, a maioria dos profissionais que lida com doenças graves conhecem, mas evitam tomar muito contato com as emoções de seus pacientes. E só quando estas emoções se mostram exacerbadas é que eles os orientam a buscar ajuda psicológica.

O que pude aprender sobre os componentes emocionais que acompanham o câncer, ou mesmo fazem parte da doença, sugere que uma psicoterapia focada neste tema deveria estar inserida, de rotina, no conjunto de procedimentos terapêuticos como a cirurgia, a rádio e a quimioterapia geralmente são utilizadas. Isto acontece, aliás, em muitos países.

Em 1982, a descoberta do oncogene, na Espanha, por Mariano Barbacid, ou seja, a descoberta do gene ligado ao surgimento do câncer significou um marco na luta contra este mal. Hoje, mais de cem oncogenes estão detectados e já se sabe que são múltiplos os fatores genéticos na etiologia da doença.

Mas as causas dos cânceres ainda motivam discussões. Desde meados do século XX (1955), vários estudos passaram a trazer afirmações incisivas sobre o papel da história de vida emocional na resistência das pessoas que contraem câncer e na sua evolução. Sabe-se hoje, por exemplo, que diferentes emoções têm efeitos fisiológicos específicos, independentemente do genoma (conjunto de gens) de cada família, de modo que um oncogene pode se manifestar em algum de seus membros e não em outros. Emoções negativas provocam determinados efeitos químicos prejudiciais ao corpo e pesquisadores já estão identificando provas de que as emoções positivas também provocam alterações químicas específicas. Nosso cérebro produz, por exemplo, uma grande variedade de encefalinas e endorfinas que não só eliminam a dor, como ajudam o doente nos primeiros passos para a recuperação.

O cérebro também participa da produção de gamaglobulina, substância vital de nosso sistema imunológico e recentes descobertas chamam a atenção para a produção cerebral de interferona, uma substância bloqueadora do câncer.

Uma coisa parece muito provável: em situações de depressão, desespero, medo, frustração e negativismo, os recursos de cura de nosso cérebro não se encontram totalmente envolvidos. Todavia, em situações onde há maior esperança e vontade de viver, identifica-se a capacidade do cérebro para provocar alterações químicas mais desejáveis.

Nos últimos vinte e cinco anos a literatura psiquiátrica internacional conta com muitos estudos sobre a correlação entre distúrbios emocionais e doenças malignas. Trata-se, porém, de trabalhos que em sua maioria não estão divulgados no Brasil, além dos domínios médicos.

Em meu caso, como em tantos outros aos quais venho dando assistência psicológica, tem se mostrado de essencial importância a compreensão de que o câncer é uma tentativa, patológica e distorcida, de que o corpo e a mente se valem para gritar pela vida. Mas por ser distorcida esta tentativa, é uma armadilha que por vezes leva à morte.

Cirurgias, químio e radioterapia são os principais recursos para combater a patologia física do processo. Para descobrir caminhos, afetiva e emocionalmente apropriados de luta, a psicoterapia especializada e a orientação familiar são os instrumentos a serem usados. Pesquisas com qualidade científica mostram que as chances de boa evolução crescem significativamente, nos casos que recebem ajuda psicológica.

Venha conversar conosco se esta doença atingiu você ou alguém que lhe é próximo. É um privilégio partilhar o que venho aprendendo sobre ela e a experiência que tenho elaborado.

Muitas vezes doenças graves são um caminho precioso para aprendermos a viver melhor e mesmo quando não parecem curáveis, cuidar das emoções que elas desencadeiam é, no mínimo, um caminho digno e humano de enfrentá-las. Há vários recursos psicológicos para isso, além da religiosidade de cada um, que também importa bastante, com certeza.

O trabalho que venho desenvolvendo é uma expressão de minha gratidão a Deus, por estar viva e poder ser útil.

Maria Antonieta de Castro Sá
(11)3885-3514

Texto revisado por Cris

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