Capacidade de estar só
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Autor Claudia Gelernter
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 5/13/2008 4:31:07 PM
"É a solidão que inspira os poetas, cria os artistas e anima o gênio."
Henri Lacordaire
Muito se tem escrito sobre o medo que as pessoas sentem de ficarem sós. Isso porque, em muitos relacionamentos, ao mínimo rumor de que o(a) companheiro(a) não está com o mesmo entusiasmo característico do inicio da união – considerada até então como “eterna e perfeita” – uma sensação de “oco” vai tomando conta da parte superior do estômago, como se um verdadeiro redemoinho energético fosse crescendo e anunciando uma tempestade emocional, difícil de ser controlada. Sensações complicadas, resultantes do medo, do pavor de ficar só.
Fácil compreender, afinal, após tantos sonhos e construções, imaginar que de uma hora para a outra a realidade pode não ser mais a mesma, é ter de lidar com o desconhecido, com o ameaçador, gerando uma instabilidade psíquica, difícil de ser equalizada.
Entretanto, muitas das ansiedades, sofrimentos advindos destas leituras nem sempre reais sobre os sentimentos do outro, não tem procedência. E aí que, em poucos instantes, a pessoa que estava em desespero, após receber uma cartinha carinhosa, ou depois de atender um telefonema amigável, suspira aliviada, dá um sorrisinho sem graça, do tipo: “Que boba que eu fui...” e segue adiante, cuidando de outros aspectos da vida, que até aquele momento estavam relegados à marginalidade. Infelizmente a vivência de tal situação, que deveria ao menos render o aprendizado de que muitas das preocupações que temos são infundadas e de que precisamos de mais elementos para firmarmos qualquer suspeita de abandono, não gera mais do que o tal suspiro aliviado, para, geralmente, em pouco tempo, tornar a acontecer a instabilidade. Uma pena. Quando o indivíduo é inseguro, difícil conseguir transpor algumas barreiras.
Outro aspecto do mesmo tema é quando, mesmo se estando ao lado da pessoa escolhida, sentimo-nos solitários. Não falo aqui sobre o que chamamos de “solidão saudável”: aquela situação em que entramos em contato com nosso “eu”, sem medo do que iremos encontrar, em paz. Falo sobre a solidão acompanhada, a impenetrabilidade psicológica, onde o companheiro, por mais que se esforce, não consegue adentrar, mandar o seu recado, ser ouvido, sentido em suas reais intenções.
Pessoas existem que, por mais que o outro se esforce em supri-las, em confortá-las, em abrigá-las, sentem-se completamente insatisfeitas, vazias, solitárias, infelizes. Buscam no outro as ferramentas que, em verdade, só funcionam quando estão dentro da própria pessoa. De nada adianta o outro oferecer segurança, afeto, quando não carregamos dentro de nós elementos que nos tornem capazes de vivenciar tal segurança, de recebermos o sentimento do outro e aceitá-lo como sendo algo positivo. É como a luz do poste na rua que é acesa, ao lado de fora da casa, sendo que, lá dentro, todas as janelas continuam fechadas, as cortinas cerradas. Não passa nada, ou muito pouco. E se alguma luz conseguir atravessar as defesas, dentro as paredes estão escuras, sem capacidade para refletir. Tudo perde o sentido.
Capacidade de estar só é o auge da maturidade. É estar bem consigo mesmo, independentemente de onde e com quem estejamos. É um paradoxo, pois podemos estar à sós e bem com nossas vivências íntimas, mesmo quando ao lado de quem amamos. E isso não é negativo, muito ao contrário: o outro sente nossa tranqüilidade, nosso bem estar e, se ele também for possuidor tal maturidade, sentir-se-á pleno.
Permitir-se estar só, é conectar-se consigo mesmo, é ir tentando entender cada pensamento, cada emoção. É poder avaliar o que está bom e o que não está. É deleitar-se com um livro, uma música, um chá quente, sem se preocupar se o outro, dentro de sua própria experiência, está curtindo as mesmas coisas ou as coisas dele. É permitir. É conceder. Capacidade de estar só é, transitar na própria solidão saudável e, quando quiser, sair para interagir com o outro, curtindo conhecer o seu mundo particular, a sua própria vivência da solidão.
Interessante dizer que, quem possui tal capacidade dificilmente está sozinho, mas, se precisar estar, jamais estará deprimido, pois seu mundo é seguro e repleto de elementos interessantes para compartilhar com seus próprios botões...
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Tanatóloga e Oradora Espírita, professora e coordenadora doutrinária E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |