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CARTA PARA UM AMIGO

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Autor Claudette Grazziotin

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 4/18/2004 11:43:33 PM


Caro Amigo,
Li com muita emoção tua história. Ela me trouxe lembranças muito bonitas, não de um dia, mas de uma vida vivida num lugar semelhante ao que me descreveste. À época, um sem-número de vezes eu chorei e lamentei a limitação daquele mundo, ansiando por horizontes mais amplos. Aqueles montes verdes que me cercavam pareciam claustrofóbicos, cerceantes. Porém, a tempo, reconheci o tesouro que era minha terra, para ainda, poder vibrar e aprender com ela. Aquele tempo e vida forjaram minha alma e contemplaram-na com o melhor de mim hoje, minha arte.
O cheiro de mato, da terra molhada depois dos temporais com seus arco-íris esplêndidos que perseguíamos crédulos na esperança vã de encontrar no seu final o sonhado pote de ouro.
As brincadeiras solitárias e fantasiosas que nos conduziam a um mundo mágico de aventuras povoado por gnomos. A fruta quente comida no pé.
O ouvido afinado no diapasão dos sons da natureza. E, dentro da noite, sonhando mundos, acompanhar o movimento, a rota das estrelas no ciclo das estações.
Com olhos sempre postos no céu, cuidando da terra e da semente, a familiaridade com o curso do tempo sentido na mudança dos ventos, na dança das nuvens, nos movimentos e berros dos animais, no cantar dos pássaros.
Cada plantinha chamada pelo nome, com respeito, transformada em mágica poção, alívio certo para as dores do corpo e da alma.
Os pés descalços pisando incertos, doendo nos pedregulhos, amassando as folhas secas no mato.
Corpos arfantes refrescados nas sangas, secados nos musgos perfumados. A sede saciada nas fontes cristalinas escondidas nas encostas.
O animal fogoso montado, dominado, meu corpo doado ao sol, olhos fechados, braços abertos, livre, galopando luminoso e nu, contra o vento.
E a alegria das vindimas... As histórias ao pé do fogão nas noites de inverno povoando a imaginação com seres míticos, assustadores, almas penadas que ficavam a rondar todos os sonos, todos os sonhos... As brincadeiras de roda, as cantigas, a caça aos vaga-lumes nas noites de verão.
A paz bucólica nos entardeceres, nas rezas e nas ladainhas, no canto das Ave-Marias e no toque dos sinos nos campanários rústicos.
Seguir, no corpo e na alma, a harmonia da natureza, sentindo seus ritmos pulsantes dentro e fora de nós. O amor agreste, natural, feito com a energia pura da terra, rolando liberto entre as medas perfumadas, nas cachoeiras, à beira dos riachos, na sombra úmida das árvores machucando as folhas caídas, tapete macio exalando um cheiro de sexo, um cheiro de mato.
A simplicidade e força dos valores e sentimentos cultuados na observação e reverência pela Mãe Terra, fonte de ensinamento perene, sólido, transmitido com fervor religioso, de geração à geração.
Esse, o legado mais precioso que aquela vida abençoada me presenteou e que teu texto veio evocar.
Vivendo,agora, na metrópole sonhada naquele tempo em que me sentia oprimida pela falta de uma maior amplitude de visão, hoje, sempre que esta urbana insanidade, violência, poluição, descaso, desrespeito pelo semelhante e pela natureza me agridem demais, deito na minha rede, fecho os olhos, canto baixinho uma velha canção e volto pra casa. Lá, ouço cigarras lamentosas cantando estridentes.
Escuto emocionada, vindas de trás do muro, as batidas monótonas, cadenciadas do martelo na bigorna, modelando alguma nova forma pela mão calejada e experiente do velho ferreiro.
Revejo o abacateiro forte que nunca deu um fruto, passo sob a pequena figueira que me envolve saudosa curvada sob o peso dos seus figos ásperos e entumecidos se oferecendo melosos e quentes. Inebrio-me, já sentindo o aroma do café recém passado sobre o fogão à lenha, o perfume do pão quente saído do forno inda agora e descansando aninhado sob o pano alvíssimo, na soleira da janela e, sorridentes, ansiosos, me esperando para um abraço, vejo no portão, meu pai com seu chimarrão, minha mãe e meus irmãos. Escuto meu pai: - Que bom que você voltou, filha!
Beijando seu rosto e abraçando-o eu lhe digo: - Voltei não, paizinho. Na verdade, eu nunca fui embora daqui...
Amigo, obrigada por me trazeres de volta para casa, com a história linda que me contaste. Que a Mãe Terra te proteja e inspire sempre. Sendo seu filho, eu sei que ela deseja que desfrutes toda a fecundidade de seu amor, oferecendo-se e se entregando a ti, incondicional, na pequena fração da sua natureza onde aportas de tempos em tempos.
Um abraço carinhoso e agradecido.
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