COMPARAÇÃO E DOR - Parte I
Atualizado dia 8/11/2006 11:44:59 PM em Autoconhecimentopor Joäo Virginio Silva
É a nossa mente, com as suas exigências e seus temores, com as suas simpatias e antipatias, com suas determinações e impulsos, que, certamente, impedem o fluir do amor em nossas vidas.
E como é difícil para nós sermos pessoas simples, com relação às coisas da vida!
Não há nenhuma necessidade de filosofias nem de doutrinas, para sermos pessoas amorosas e bondosas.
A generosidade vem de uma fonte completamente diferente, surge de uma fonte que excede todas as medidas. A ambição e a inveja destroem, infalivelmente, a possibilidade de surgir a generosidade, assim também como é certo, que o fogo queima. Essa fonte tem de ser atingida, mas temos de chegar a ela de mãos vazias, sem preces e sem sacrifícios. Os livros não podem nos levar a essa fonte e nenhum guru pode nos conduzir a ela. A generosidade não pode ser alcançada pelo cultivo da virtude - embora a virtude seja algo extremamente necessário para que a generosidade ocorra. Também não podemos alcançá-la pela capacidade intelectual e nem pela obediência. Só quando a mente se acha serena, imóvel e totalmente silenciosa, é que ela é encontrada. A serenidade é completamente sem motivo, sem desejo, sem a ânsia do “mais”.
A maioria de nós já estamos cansados de sofrer. Talvez as dores físicas não nos atormentem tanto, mas, sofremos dores de espécies diferentes. No sofrimento do corpo, muitas vezes temos a possibilidade de controlá-los por meio de uma medicação química, mas, para a maioria de nós fica muito difícil aliviarmos as dores e as agonias psicológicas trazida pela inveja e pelo ciúme.
O ciúme nos acompanha desde a meninice, apesar de na infância ser algo tolerável e, muitas vezes, ser motivo de risos. Na idade mais avançada, o ciúme se torna uma doença extremamente séria. O ciúme, em geral, destrói completamente as nossas relações.
Muitos de nós não temos ciúmes somente do marido e dos filhos, mas também de quase todo aquele que possua mais do que nós - seja uma casa ou um carro melhor, um rosto mais bonito, etc.. Isso é certamente uma idiotice, mas... tortura muita gente por aí. Quando isso vira uma tortura diária, a primeira coisa que fazemos é procurar um analista. Portanto, temporariamente, essa pessoa pode através de um análise conseguir sentir um pouco de paz, mas, muito brevemente tudo recomeça. Primeiro, porque a civilização em que vivemos estimula constantemente a inveja. Todos os anúncios de comerciais, a comparação, a devoção imbecil ao sucesso, nos diversos campos da atividade humana, todas essas coisas estão constantemente alimentando e sustentado a inveja no homem.
A exigência do “Mais” nos mostra claramente que a inveja e os ciúmes estão enraizados em nossas medíocres mentes. Em nossa neurótica sociedade, a inveja é estimulada e respeitada ao mesmo tempo. O espírito de competição é em nós nutrido desde a infância. A idéia de que uma pessoa deve ser mais eficiente e melhor do que a outra faz parte de nossa cultura.
Diariamente, ouvimos essa tolice de diferentes maneiras; por exemplo, aquela que ouvimos constantemente dos homens que venceram, dos heróis e seus feitos extraordinários; diariamente, nos é martelado ininterruptamente essas coisas em nossos espíritos.
A nossa civilização atual está totalmente baseada na inveja e na ambição. Se uma pessoa não é ambiciosa das coisas mundanas e prefere seguir um instrutor religioso, é-lhe prometido o merecido lugar no outro mundo. Ou seja, todos nós somos educados nessa base e o desejo de sucesso tem raízes bem profundas em quase todos nós.
O sucesso é buscado de diferentes maneiras, pelo artista, pelo homem de negócios, pelo aspirante religioso, etc. Tudo isso são diferentes formas de inveja, mas só quando a inveja se torna algo aflitivo e doloroso é que queremos nos livrar dela.
Enquanto nos proporcionar compensações e prazeres, é uma parte aceitável de nossa natureza humana. Mas não percebemos que nesse próprio prazer existe também a dor. O apego nos dá, realmente, um certo prazer, mas gera também o ciúme e o sofrimento e, sendo assim, apego não é amor. O pior é que dentro dessa esfera miserável de atividade, uma pessoa vive, sofre e morre.
Somente quando a dor dessa ação egocêntrica se torna algo insuportável é que tratamos de nos libertar dela.
Desejamos apenas nos libertar da dor que o ciúme provoca por causa do nosso apego a alguém ou a alguma coisa, mas não queremos nunca reter o peculiar prazer que acompanha a posse e o apego. Não estou falando de renunciar aquilo que se possui. Não estou falando de renúncia, mas, sim, do desejo que temos de possuir.
Queremos possuir pessoas assim como possuímos coisas, nos apegamos a crenças e esperanças. Por que existe em nós esse desejo de possuir coisas e pessoas, por que existe em nós esse apaixonado apego?
É óbvio que necessitamos de certas coisas - alimentos, roupas, moradia, etc - mas queremos também nos servir dessas coisas para a nossa satisfação psicológica, donde resultam muitos outros problemas. Assim também como a dependência psicológica de pessoas gera em nós ansiedade, ciúmes, medo e, conseqüentemente, a violência.
A maioria de nós depende, de fato, de certas pessoas. A pessoa da qual dependemos se torna uma necessidade imperiosa para nós e sem elas nos vemos completamente desorientados e perturbados. Se não tivéssemos filhos, maridos, esposas, enlouqueceríamos lentamente ou procuraríamos nos apegar numa outra pessoa. Não estou dizendo que o apego é uma coisa má ou uma coisa boa, porque isso é irrelevante. Essa não é a questão.
Estou apenas considerando a sua causa e o seu efeito. Não estou condenando e nem justificando a dependência. Mas, apenas tentando descobrir o porquê de uma pessoa se tornar psicologicamente dependente de outra. Porque, a meu ver, esse é o problema e não como nos libertarmos das torturas dos ciúmes. O ciúme é simplesmente o efeito, é um sintoma e seria completamente inútil darmos atenção apenas ao sintoma e esquecermos a doença. Por que uma pessoa se torna psicologicamente dependente de uma outra pessoa?
É evidente que fisicamente somos dependentes uns dos outros e sempre o seremos; isto é algo natural e inevitável. Mas enquanto não compreendermos a nossa dependência psicológica de uma outra pessoa, os tormentos dos ciúmes certamente continuarão até o final de nossas vidas. Por que existe em nós essa necessidade psicológica de outra pessoa? Essa é a questão a qual devemos investigar profundamente.
Parte II
Texto revisado por: Cris
Avaliação: 5 | Votos: 8
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