COMPARAÇÃO E DOR - Parte II
Atualizado dia 11/08/2006 23:48:17 em Autoconhecimentopor Joäo Virginio Silva
Se nós não os amássemos, não nos importaríamos com eles. Mas, será isso verdadeiro? Penso que não.
Porque isso quer dizer que o amor e os ciúmes, com todos os seus tormentos, andam juntos.
Dizemos que não temos ciúmes de quem não amamos. Nesse caso, então, quando ficamos livres do ciúmes ficamos também, livres do amor. Não é certo? Sendo assim, por que então queremos nos livrar do ciúme? Na verdade, o que queremos é apenas conservar o prazer do apego e afastarmos de nós as dores que são inerentes a ele. Mas, felizmente, isso é algo impossível de se realizar. Pois todo apego implica medo.
Tememos o que somos ou o que seremos se o outro nos trocar por alguém ou se morrer, e nos apegamos a essa pessoa por causa desse medo.
Enquanto tivermos o nosso espírito ocupado com o prazer do apego, o nosso medo permanecerá oculto; a porta está fechada e ele não se mostra, mas continua existente nas camadas mais profundas da nossa mente e, enquanto não estivermos livres desse medo, continuaremos com as torturas do ciúmes. A questão não é o saber do que temos medo, mas, se estamos conscientes do nosso medo.
A verdade é que a maioria de nós tem muito medo de se ver sem apoio, inseguro, de não ser amado, de não ser querido. Temos medo de nos ver abandonados, de não sermos capazes de enfrentar a vida sozinhos e, por essa razão, dependemos do marido, da mulher, dos filhos, nos apegamos às pessoas com todas as nossas forças. Existe sempre em nós o medo de que nos aconteça alguma coisa ruim.
Muitas vezes o nosso desespero toma a forma de ciúme, de um furor irreprimível e violento. Ficamos apavorados somente ao imaginar a nossa esposa ou marido dedicando a sua atenção à outra pessoa. A ansiedade dessa imaginação nos devora completamente e passamos horas e horas sem dormir e às vezes a chorar. Toda essa contradição e agitação é o que chamamos de amor. Mas, isso é amor? É amor, se existe dependência ou apego? Isso é egoísmo puro e não amor. A pessoa está pensando somente em si mesma em todas as horas do dia e não no outro.
Também não adianta ficar nos condenando por sermos tão estúpidos assim. Porque se nos condenamos, chamando-nos de egoístas, repulsivos, otários, não estamos, certamente, diminuindo o problema, pelo contrário, estamos apenas aumentando ainda mais. O importante é compreendermos isso. A condenação ou a justificação nos impedem de vermos o que é que está nutrindo o medo em nós. A condenação ou a justificação são uma bela distração ativa da nossa mente, para não encararmos frente a frente o fato em si - o que está realmente acontecendo conosco. Quando dizemos: "Sou uma pessoa idiota e egoísta" - essas palavras estão cheias de condenação e estamos tornando mais forte ainda as características condenatórias do nosso “Eu”. Se condenamos ou justificamos uma ação de quem quer que seja, não estamos, certamente, compreendendo essa pessoa.
Na maioria das vezes não temos tempo ou disposição para explicarmos a essa pessoa porque a estamos condenando e, assim, visando um resultado imediato no comportamento alheio lhe dizemos: "Faça isto ou faça aquilo, faça desse jeito ou faça daquele modo", mas não compreendemos as complexidades dessa pessoa.
Do mesmo modo, a condenação, a justificação, ou a comparação que fazemos, a nós mesmos, nos impedem a compreensão profunda do que somos. E, a única coisa que temos de fazer na vida, é a compreensão da entidade complexa que somos nós. Eu sei que é extremamente difícil deixarmos de condenar ou justificar, porque isso é uma terrível hábito formado que adquirimos através de séculos e séculos.
Observe a sua própria reação, enquanto você está lendo este texto. Observe a sua mente.
O problema, então, não é o ciúme e nem o modo para nos libertarmos dele - o problema é o medo.
E o que é o medo? E como ele se torna existente em nossa mente? Ele existe, sem nenhuma dúvida, em nossas mentes e, conseqüentemente, em nossas vidas. O medo não pode existir isoladamente, o medo só existe em relação com alguma coisa. Há um estado a que chamamos de ”solidão” e, quando nos tornamos consciente desse estado, surge o medo. O medo, portanto, não existe sozinho.
Muitas vezes não temos certeza do que é que temos medo, mas ele existe. Geralmente, a solidão é um dos grandes problemas que nos atingem em cheio. Ela sempre existiu em cada um de nós, mas, em segundo plano e, de repente, numa conversa, num caso mal resolvido, num dia qualquer em que somos forçados a encará-la diretamente, percebendo a sua majestosa presença. Isso nos dá um vazio aterrador, um imenso pavor de onde não há como fugirmos.
Observar esse vazio sem lhe dar nome, sem descrevê-lo de maneira alguma é uma das nossas maiores dificuldades. Porque se pomos uma etiqueta num certo estado de consciência, isso não significa compreendê-lo - pelo contrário, é um empecilho à compreensão. Mas, é somente o que sabemos fazer: dar nomes.
Preste atenção ao que vou dizer: Sentir e dar nome ao que se está sentindo ocorrem quase simultaneamente.
Mas, existe um intervalo entre o sentimento e o nome que damos ao sentimento. Se esse intervalo puder ser para você algo realmente “experimentado” você verá o pensador deixar de existir como uma entidade separada e distinta do pensamento.
“O processo de dar nomes, de verbalização, faz parte do "Eu"“, de "Mim" - faz parte da entidade que sente ciúme e luta para se livrar dele. Se você conseguir perceber a verdade a esse respeito, o medo deixará de existir.
O “dar nome” tem um efeito tanto fisiológico como psicológico. E, somente quando não damos nome, há possibilidade de estarmos plenamente conscientes disso que chamamos “o vazio da solidão”. A mente então não se separa mais daquilo que é, daquilo que somos e, assim, não há mais a busca de preenchimento desse vazio, como também, não há mais a tormenta do espírito.
O “contentamento” nunca, jamais, é o resultado de preenchimento, de realizações, ou de posses de coisas.
O “contentamento do espírito” não nasce da ação ou da inação. O contentamento vem com a plenitude, com a totalidade da vida e, não na sua alteração. O que é pleno não necessita de alteração alguma. Só quando o incompleto busca tornar-se completo, é que se conhece a agitação do descontentamento. O desejo gera o esforço para transformarmos aquilo que somos, naquilo que deveríamos ser, daí o descontentamento.
O desejo é tão flexível e veloz como a mente. O desejo é capaz de ajustar-se rapidamente a qualquer coisa, adaptar-se a qualquer circunstância, construir muralhas impenetráveis à luz. Muitas vezes o nosso próprio desespero torna-se deleite. O desejo cria na nossa mente a imagem que queremos adorar. Se desejamos viver na escuridão, certamente, conseguiremos. E estamos constantemente fortalecendo nossos desejos.
Se perguntarmos a nós mesmos porque buscamos uma orientação para nossas vidas com outras pessoas, certamente nós mesmos não sabemos responder essa pergunta. Parece-me que todos precisamos de uma certa esperança para viver com um pouco de luz, pois, não podemos viver perpetuamente na escuridão da nossa mente.
Parte III
Texto revisado por: Cris
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