Consciência Holotrópica Alfa (II)
Autor Marcos Spagnuolo Souza
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 24/12/2007 16:46:16
Identificação com Matéria Inanimada e Processos Inorgânicos.
A consciência vivencia uma identificação com as águas dos rios, com o mar, o fogo, a terra e as montanhas. A identificação é complexa e consciente. “A atmosfera era escura, pesada e agourenta. Parecia ser tóxica e venenosa no sentido químico, mas também perigosa e maléfica, no sentido metafísico. Eu percebi que estava me tornando petróleo, preenchendo enormes cavidades no interior da terra”. (GROF, 1997, 77)
Consciência Embrionária e Fetal
A consciência embrionária e fetal são experiências perinatais no processo imediatamente associado ao nascimento biológico. Durante o estado de consciência regredida ao estado intra-uterino a pessoa pode participar claramente dos choques emocionais, crise de ansiedade, sentimentos depressivos ou sentimentos de relaxamento, satisfação, felicidade e amor experenciado pela mãe. Ao reviver episódios da existência intra-uterina, as pessoas relatam repetidamente que estavam agudamente conscientes de serem rejeitadas e não desejadas, ou, ao contrário,serem desejadas e amadas. Era como se elas estivessem recebendo uma clara mensagem que expressasse os sentimentos de suas mães a respeito da gravidez, bem como as comunicações específicas, de amor ou de hostilidade, dirigidas a elas. (GROF, 1997) “Flutuando no saco amniótico e conectado com o organismo materno pelo cordão umbilical e pela circulação placentária. Eu estava consciente de uma troca complexa e rica entre nós, parcialmente bioquímica e fisiológica, parcialmente emocional e até mesmo telepática. Houve um momento em que o tema do sangue como uma substância sagrada, doadora de vida, dominou minha experiência. Eu tinha consciência da conexão placentária com minha mãe, e, sentia claramente o fluxo do sangue através das veias e artérias, a passagem do oxigênio e da nutrição e a eliminação dos produtos metabólicos. Em alguns momentos, as experiências positivas eram interrompidas por ondas de forte desconforto físico e emocional e por uma sensação de ameaça indefinida e misteriosa. Esta condição parecia ter um componente químico definido, eu me sentia doente, nauseado, intoxicado, envenenado. Um gosto horrível em minha boca me dava vontade de vomitar. Ao mesmo tempo, eu me sentia possuído ou dominado por forças metafísicas maléficas. Quando paravam estes episódios de assalto demoníaco, meu campo experencial clareava-se e eu retornava à bem-aventurança oceânica”. (GROF, 2007, p. 34)
“Richard descreveu que ele se sentia imerso no líquido amniótico e preso a placenta pelo cordão umbilical. Ele estava consciente da nutrição correndo para seu corpo pela área do umbigo e experienciou sentimentos maravilhosos de união simbiótica com sua mãe. Eles estavam conectados um com o outro pela circulação de sangue placentária, que parecia ser um flúido doador de vida mágico. Richard ouvia dois conjuntos de sons cardíacos com freqüências diferentes que estavam se fundindo em um padrão acústico ondulatório. Ele era capaz de identificar a si mesmo como sendo um feto maduro. Neste estado, ele ouviu, de repente, estranhos ruídos que vinham do mundo exterior. Eles tinham um estranho som de eco, como se estivessem ressoando num grande hall ou como se fossem ouvidos pelas camadas de água. Depois de algum tempo, pôde reconhecer vozes humanas que estavam gritando e rindo. A mãe de Richar, quando indagada em separada a respeito das circunstâncias de seu nascimento, sem saber sobre a experiência contou a seguinte história. Na vida relativamente tediosa da cidade, a feira anual era um acontecimento que trazia um divertimento raro. Ela não perderia essa oportunidade por nada no mundo, embora estivesse em adiantado estado de gestação. Apesar da forte oposição e de advertência de sua própria mãe, ela saiu de casa para participar das festividades. O ambiente barulhento e o tumulto do centro comercial precipitaram o nascimento de Richard”. (GROF, 1997, p. 88)
Consciência Interna do Corpo Físico
A consciência permanece no corpo, mas estende-se a áreas anatômicas internas do próprio corpo físico. “ Minha atenção passou de minha boca para o esôfago. Comecei uma lenta viagem no meu trato gastrintestinal, conectando-me com todo o processo digestivo num nível celular e mesmo bioquímico. Eu me tornei, literalmente, as células do epitélio revestindo meu estômago e participei na reabsorção da comida e na incrível alquimia da digestão. O cheiro e sabor específicos do conteúdo gástrico preencheram totalmente minha consciência. No início, me prendi a meu sistema de valores humanos, e estremeci com repugnância. Gradualmente, fui capaz de deixar o humano para trás e responder no nível da biologia. O processo continuou no duodeno, jejuno e íleo. Conforme o foco de minha consciência progredia, explorei todas as nuances do “bouquet” de sucos, enzimas intestinais e bílis, e suas respectivas combinações. Enquanto estava me tornando todas as fibras, membranas e células fiquei abismado pelo milagre deste incrível laboratório de vida. Embora tenha me dedicado a tudo isto durante meus estudos médicos, sob muitos aspectos diferentes, eu nunca havia apreciado plenamente tudo o que estava envolvido. Nos estágios finais desta viagem fantástica, encontrei a complexidade de sentimentos e atitudes que nossa cultura desenvolveu em relação às fezes. Além da repugnância e da aversão, tive de confrontar uma quantidade incrível de emoções repudiadas, reprimidas e inaceitável de ambição, avareza e malícia. Num determinado ponto, elas tomaram a forma personificada de criaturas mitológicas grotescas, semelhantes a gnomos. Comecei a compreender o processo pelo qual estava passando. Parecia essencial que eu aceitasse todo o trato gastrintestinal, com todos os seus produtos e conteúdos, como parte de mim mesmo e o tratasse como amigo. Superar a repressão e a negação parece ser essencial para uma auto-aceitação e aceitação pessoal genuína e incondicional. E eu não posso evitar a sensação de que esta seqüência de experiências peculiar foi curativa em sua essência”. (GROF, p. 111)
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