Consciente, inconsciente e consciência
Atualizado dia 24/12/2006 11:21:13 em Autoconhecimentopor Júlia Signer
Temos nossa mente comum, particular ou semi-particular com que operamos, vivenciamos, experimentamos o mundo. Através dela pensamos, elaboramos nosso agir, nos irritamos ou nos deliciamos com algo; ela é a sede das sensações e tudo o mais ao redor deste tema. Ela lhe permite ler este texto e pensar sobre ele, por exemplo; é esta mente mesmo que conhecemos, que fica em silêncio durante a meditação, que compreende e nos faz percebermos a nós mesmos, nos dá o "eu", tão querido e amado eguinho. Ou seja, nos dá a noção de separação. A isto chamo de consciente.
Meu termo inconsciente talvez fuja da noção psicológica de inconsciente; não tenho nehuma pretensão de usá-lo com esta conotação até mesmo porque não conheço o suficiente para falar sobre. O inconsciente a que me refiro aqui é uma mente coletiva, uma sopa quântica ou uma percepção interconectada de tudo. É como algo que a tudo permeia e que a tudo abriga; neste tudo eu me contenho, a esfera humana e a um algo comum. A telepatia funciona por aqui, as vivências de outras dimensões, todos os oráculos, a intuição, as rezas, ou seja, tudo aquilo que pode ter uma denominação transcendental. Aqui também habita a consciência na morte. Como se o consciente fosse o que cria esta dimensão concreta comum e este inconsciente é o espaço onde se transmigra eternamente. É o não eu, a não existência de algo projetado.
A expressão "sopa quântica" me parece muito apropriado. Sopa todos sabem o que é; o termo "quântica" vou explicar um pouquinho. Este termo vem da mecânica quântica que é da físca moderna. O quântico é algo que funciona com subpartículas; estamos num campo menor do que o do átomo aqui. E é um campo de múltiplas possibilidades, é um grande potencial que só é concretizado quando um consciente o significa. Por exemplo, uma partícula tem a possibilidade de estar em qualquer lugar, e potencialmente ela está; não se pode afirmar que esta partícula está aqui; diz-se que há uma grande possibilidade de ela estar mas ela também pode estar na Lua. Apenas quando se faz a experiência é que se confirma a localidade da partícula; então, aqui ela está. Assim, sopa quântica seria toda a potencialidade de toda a existência humana por aí, em tudo e ao mesmo tempo; enquanto não há a seleção de uma potência, nada de fato existe de maneira distinguida.
Todos têm acesso a este inconsciente; não é algo restrito aos iluminados; os sonhos, por exemplo, são uma pescaria do consciente no inconsciente.
Falta falar da consciência. A consciêcia é a lucidez do foco. Ou seja, é onde você está. Se você está presente neste texto, você está aqui, se você está pensando na praia, você está lá. A consciência é o que nos faz ter as experiências que temos determinando o nosso universo. A consciência em si não possui a noção de eu ou de não eu; ela em si não é elaborada. Pensemos em um cinema: a consciência é o o canhão de luz do projetor e independe do que é projetado na tela; ela vem antes da película que, na analogia, seria nosso consciente e/ou nosso inconsciente. Ela é auto-surgida e existe antes de nós existirmos e existirá depois que não mais existirmos. Lê-se este existir como esta vida, nascida, no meu caso por exemplo, no dia 3 de junho de 1980. Não posso dizer que ela é o meu verdadeiro eu porque qualquer eu a que me refiro faz parte de uma construção; um eu pressupõe história e característica, coisas de que esta consciência é desprovida; toda história, experiência e sensações estão na película que existe como filme projetado (lê-se mundo manifesto) só a partir do momento em que há um projetor, uma consciência.
Assim temos: a consciência, o consciente e o inconsciente. Somos o consciente, habitamos na inconsciência e nossa causa é a consciência. A consciência é algo que, de certa forma, temos um controle sobre, pensando em para onde dirigimos nosso foco. Por exemplo, uma pessoa que é "louca" ou suicida. O que acontece? A conciência está voltada para focar mais o inconsciente do que o consciente. O louco em si mesmo não é louco; ele é louco em relação a nós, em relação a esta possibilidade que escolhemos, todos nós humanos, ou a maioria de nós, e a fizemos conscientemente. Assim, a maior perte do foco do louco está no inconsciente, numa possibilidade que não pode ser compartilhada pois não é a eleita, assim, não existe para os outros, é apenas uma potência. Mas o louco fica um pé cá e outro lá; é como se ele continuasse com a sua luz sendo projetada no consciente o que o faz comer, andar, falar mas o foco da luz está no inconsciente, uma realidade não manifesta. O suicida é um caso diferente: ele optou por não mais ter o consciente; seu canhão de luz está tão focado no inconsciente que a possibilidade de consciente fica remota até extinguir-se quando o ato é cometido.
O inconsciente é avassalador, gigantesco e perigoso; nele nada é. O consciente é seguro e pequeno, é possível, é realizador. Nossa consciência ilumina a ambos, temos uma semente que vem do inconsciente e a terra, luz, água e nutrientes são do consciente. Os dois não são de naturezas diferentes; são desdobramentos um do outro: o consciente é um desdobramento do inconsciente que por sua vez é alimentado mais e mais pelo consciente. O inconsciente é alimentado pelo consciente, porque as idéias que vão virar sementes lá na sopa quântica surgem do consciente.
Só mortos, ou algum místico de alta potência, conseguem iluminar o inconsciente completamente, desfocando o consciente. E o contrário também é impossível: não é possivel focarmos somente o consciente, nossa natureza é incessante, e só o fato de você pensar sempre já é prova de existir luz no inconsciente. Este foco pode ser maior ou menor no inconsciente. As pessoas mais sensíveis, criativas, místicas ou intuitivas, trazem mais luz ao inconsciente.
Dependendo do nosso foco desenvolvemos características diferentes no consciente, até mesmo ter a percepção da consciência e dirigi-la traz características diferentes à manifestação. As pessoas que têm total contato com a consciência são chamadas de despertas ou budas, cristos, iluminadas, maharishis, aí vai da tradição. Quero usar o termo "despertas" porque isto é o acordar, acordar para perceber que sonhamos, estar lúcidos no sonho. Ver o canhão de luz e escolher a película a ser projetada.
Porque isto é importante? Porque assim é que realmente temos livre arbítrio; se não conhecemos o canhão de luz, ficamos na tela e a prórpria sopa ora nos vem com shimeji ora nos vem com xuxu. E por mais que escolhermos "quero comer xuxu e não quero comer shimeji", lá está o xuxu ou lá está o shimeji. Já está ali; é um livre arbítrio restrito. Conhecendo o canhão, as películas e a tela, realmente, se escolhe.
Consciente demais é aterrador, inconsciente demais é loucura. E naturalmente já temos um equilíbrio dos dois. Não é mesmo belo tudo isto?
Texto revisado por Cris
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