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CONSIDERAÇÕES SOBRE O SUICÍDIO (Parte II)

Atualizado dia 21/08/2007 21:34:06 em Autoconhecimento
por Victor Sergio de Paula


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4.1. A PERDA DE ENTES QUERIDOS E O SUICÍDIO
O apego faz parte do espírito humano nessa fase da nossa evolução e, de alguma forma, todos somos apegados a algo ou alguém, quase sem exceções. Sabemos, todavia, que nada nem ninguém nos pertence, fazendo parte do processo da vida a separação temporária ou definitiva do objeto do nosso apego.

Na prática o que se verifica é que quando falamos de separação o desespero responde imediatamente, levando, dependendo das circunstâncias, a quadros emocionais de desequilíbrio, fragilizando o ser pela revolta instalada quanto ao fato.

Se a perda de um objeto de estimação provoca uma verdadeira tempestade emocional, doenças físicas e psíquicas, imaginemos agora a situação que nos coloca de frente com a morte, a morte de um ente querido. A morte é para a grande maioria de nós um verdadeiro desastre e algumas pessoas, perdendo o controle de si mesmas pelo desenlace de um ser amado, são induzidas à tenebrosa via do suicídio a fim de reencontrarem seu afeto agora distante.

A pergunta nº 956 do Livro dos Espíritos aborda a questão, tendo uma resposta bem diferente daquela que algumas pessoas gostariam: Aqueles que, não podendo suportar a perda das pessoas queridas, se matam na esperança de reencontrá-las, atingem seu objetivo? "O resultado é completamente diferente do que esperam: em vez de se unirem às pessoas de sua afeição, afastam-se delas por mais tempo, porque Deus não pode recompensar um ato de covardia e o insulto que é feito ao duvidarem de Sua Providência. Eles pagarão esse instante de loucura com desgostos maiores que os que acreditam abreviar e não terão mais para recompensá-los a satisfação que esperavam."

Pela resposta citada temos as seguintes conseqüências para os que buscam reencontrar os seres amados pela porta do suicídio:
A. Afastam-se delas por mais tempo, por abreviarem a vida de forma violenta;
B. Amargarão desgostos maiores pela loucura cometida, pois decerto serão arrojados a locais no mundo espiritual de intenso sofrimento, onde ficarão distantes daqueles que amam, provavelmente, por um longo período.

Como observamos, mesmo nesse tipo de situação da perda de entes queridos, o suicídio não se justifica.

4.2. RESPONSABILIDADE PELA INDUÇÃO AO SUICÍDIO
Na legislação brasileira há um dispositivo que impõe a obrigação de repararmos um dano ou lesão que causamos a terceiros, seja por ação ou omissão, evidenciando o princípio da responsabilidade em nosso mundo material, nosso plano.

Se no mundo físico, das aparências, a lei humana obriga o infrator a consertar a lesão causada ao semelhante, seja por uma ação (fazer algo) ou omissão (não-fazer), é evidente que no mundo espiritual, onde vigora a lei universal do carma (causa e efeito), tal disposição incide com maior rigor e amplitude.

Lembremos dos falsos gurus, profetas, iluminados e “eleitos” de toda ordem que proliferam no mundo moderno, muitos deles com mensagens apocalípticas de salvação. Com seu discurso melífluo magnetizam almas fragilizadas e carentes, levando-as a uma verdadeira escravidão, dentro de uma grande variedade cultos, seitas e doutrinas. Como podemos esquecer do caso “Jim Jones” em 1978? Esse líder fanático que se intitulava “pastor” e possuía guarda-costas chamados de “anjos”, levou aproximadamente 900 pessoas ao suicídio na Guiana.

Vejamos uma cronologia de suicídios coletivos induzidos por alguma seita ou falso profeta:
1993 – Oitenta seguidores da seita “Ramo Daviniano”, no Texas, EUA, morreram carbonizados.
1994 – Cinqüenta e três membros da seita “Ordem do Templo Solar” cometeram igualmente suicídio coletivo.
1997 – A seita americana “Porta do Céu” cometeu suicídio coletivo; o saldo de mortos chegou a trinta e nove pessoas.
2000 – Cerca de oitocentas pessoas que estavam envolvidas com a seita “Movimento Pela Restauração dos Dez Mandamentos” morreram carbonizadas na sede da seita em Uganda, na África. Antes de cometerem o suicídio o líder da seita os incentivou a abandonarem seus bens, pois iriam se encontrar com a Virgem Maria.

Allan Kardec questionou a espiritualidade sobre o tipo de delito que os condutores do tipo de tragédias descritas acima teriam praticado frente às leis divinas. Transcrevemos a pergunta 946 e sua resposta: Aqueles que conduziram um infeliz a esse ato de desespero sofrerão as conseqüências disso? "Como são infelizes! Pois responderão por homicídio.”

Fica muito claro que aquele que conduz outrem ao suicídio (individual ou coletivo) responderá perante as leis universais e sua própria consciência, como homicida na proporção exata do número de suas vítimas.

4.2.1. O SUICÍDIO INDIRETO
Pode soar estranha a expressão suicídio indireto, porém ela encontra fundamentação nas perguntas 952 e 952a e respostas do Livro dos Espíritos: O homem que morre vitimado pelo abuso de paixões que sabia apressariam o seu fim, mas às quais não tem mais o poder de resistir por ter se habituado a fazer delas verdadeiras necessidades físicas, comete suicídio? "É um suicídio moral. Deveis compreender que o homem é duplamente culpado nesse caso. Nele há, além da falta de coragem, a ignorância e, acima de tudo, o esquecimento de Deus."

952a: Ele é mais ou menos culpado do que aquele que tira a própria vida por desespero? "É mais culpado por ter tido tempo de reconhecer seu suicídio. Naquele que o comete de súbito existe algumas vezes uma espécie de alucinação obsessiva próxima à loucura; o outro será punido com mais rigor, porque as penalidades são sempre proporcionais à consciência que se tem dos erros cometidos."

Observemos que nas respostas transcritas acima os benfeitores espirituais expressam de maneira clara que o abuso das paixões – vícios de todos tipos – que dilapidam nossa saúde, destruindo lentamente nosso corpo físico, constituem-se em verdadeiro suicídio moral, com penalidades muito rigorosas, devido à consciência que a pessoa tem de estar “apressando” seu desencarne pelos excessos cometidos.

Podemos a partir das orientações recebidas por Allan Kardec que acabamos de comentar, considerar suicídio indireto (moral) todas as atitudes, hábitos, vícios que afetam nossa saúde, verdadeiro patrimônio do espírito, mesmo não havendo a intenção direta do suicídio ao cometermos esses desatinos. Atentando para o fato de que quanto maior “a consciência que se tem dos erros cometidos”, maior a responsabilidade.

Texto revisado por Cris

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