Contando e ouvindo histórias: fio invisível para o autoconhecimento
Autor Marisa Petcov
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 06/01/2011 16:03:30
O fundo de toda lenda é o Mythus, isto é, a crença nos deuses tal como vai sendo estabelecida de povo para povo. Jacob Grimm, 1835
Numa tribo primitiva, um ritual sagrado está envolvido por mistérios que são contados depois numa narrativa verbal por pessoas que participaram dessa prática ritualística. A divindade protetora era uma mulher, representando a fonte da vida.
Muitos anos mais tarde, numa choupana ou num castelo medieval, uma mulher tece os fios de uma narrativa tão antiga quanto a arte de fiar. Rodeada por adultos e crianças, dela saem fluidos mágicos que envolvem os ouvintes, presos a suas palavras tal qual num transe místico.
O que une esses narradores e ouvintes é um fio invisível, mas poderoso: o hábito de ouvir e contar histórias.
O ato de ouvir e contar histórias sempre foi visto como um ato de prazer, com a finalidade de fugir dos hábitos rotineiros. E a mulher sempre teve um papel de destaque no mundo das histórias, seja como personagem, como Deusa ou Sacerdotisa num ritual sagrado, ou como tia, mãe ou avó que, enquanto fiava, ia trançando com palavras os fios das narrativas populares, transmitidas de geração a geração.
Xerazade, a famosa contadora das lendas de Mil e uma noites, é o símbolo do papel da mulher no reino encantado das histórias.
Narradora e personagem de histórias encantadas, Xerazade, a tecelã das noites, simboliza a arte feminina de lidar com a narrativa, ao mesmo tempo que ensina uma das formas de usar a astúcia na luta contra o poder masculino.
Por esse motivo, a mulher acabou desempenhando os papeis principais nas histórias populares, como princesa, camponesa, bruxa ou fada, que representam, por sua vez, a mulher humana e a mulher divina. E o papel de narrador também sempre esteve ligado à figura feminina, pois era a mulher que fiava e tecia tanto o tecido das roupas como o texto das narrativas.
O que haverá de tão fascinante numa história para que ela identifique, num mesmo comportamento, o homem antigo e o homem moderno, apesar da enorme distância entre o misticismo de antes e o racionalismo de agora?
Levados por esses questionamentos, muitos se dedicam a estudar contos, mitos, fábulas, lendas, tentando descobrir seus significados.
Desde sempre os mitos vêm falando sobre as diferentes situações de vida, o relacionamento entre pessoas, entre individuo e a sociedade, entre a sociedade e a natureza. E a forma como o homem primitivo lidava com esses problemas não difere muito da forma usada pelo homem moderno. Daí a concluisão de que essas formas de comportamento são o esquema básico da psique humana, que Jung chamou de inconsciente coletivo. Foi assim que o estudo do primitivo e seus mitos levou à descoberta dos arquétipos do inconsciente coletivo.
Um bom exemplo de narrativa mitológica para melhor compreensão das ideias analisadas é o mito de Psiquê, porque nele estão os principais arquétipos do mundo feminino, objeto de meu estudo.
Como meu objetivo é avaliar o papel das personagens femininas, princesa, bruxas e fadas, segundo diferentes visões, é preciso fazer uma análise dos contos de fadas, mitos, lendas e fábulas como um fenômeno cultural que contém aspectos não só literários, mas também psíquicos, pedagógicos, sociais e ideológicos.
E você, quer ouvir uma história?
Baseado nos livros Em busca dos contos perdidos, Mariza B. T. Mendes - O poder do mito, J. Campbell
Marisa Petcov
Numeróloga, Sacerdotisa da Tradição Diânica Nemorensis, Contadora de histórias. Desenvolve um trabalho ligado à pesquisa dos contos de fadas como ferramenta para definir os reais traços da identidade humana.
Comunicadora do site link onde faz o programa Contando histórias e números, todas as segundas-feiras, a partir das 17 horas.
e-mail: [email protected]
blog: bruxaqueconta.blogspot.com
tel.: 9212 81 69
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