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Contos: A REVOLUÇÃO

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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 4/25/2005 1:57:03 PM


Dez anos se passaram. A praça central da cidadezinha de Poente se preparava para o grande dia. Mais um aniversário da Revolução. Bandeirolas, bexigas, música e muita animação.

Para Bartolomeu, historiador da cidade, só o que destoava era o sistema de som, que ao invés de tocar marchas patrióticas, divertia a molecada com um pagodão da pesada. "Vejam só, nem parece uma festa onde vamos homenagear nosso herói!", pensava Bartô, como era alcunhado, observando crianças e adolescentes se rebolando.

A Orquestra Sinfônica da cidade, como foi batizada pelo líder revolucionário Nano Andrade, compunha-se de, nada mais nada menos, 12 elementos e seus instrumentos desafinados. O maestro Polydoro observava com laivos de crítica aquele remexe-remexe. "É o fim dos tempos, uma sem-vergonhice!", falava aos botões de sua túnica vermelha e azul. "Tudo culpa do Nano".

O dia 13 de novembro, data magna de Poente, amanhecia com muitos preparativos. A mulherada se esmerava nos quitutes, salgados e doces, já que na noite anterior deixaram prontos os trajes festivos.

Machadão, o prefeito, saía cedo para distribuir sorrisos e palmadinhas e juntava todos os homens para beberagens no bar do Tinocão, ponto inicial e ecumênico da Revolução.

E as horas iam passando; meio-dia e as mulheres ultimavam os preparativos e os heróis da cidade já trocavam "gato" por "galo", de tanto beberem.

Três horas da tarde: mais uma vez o sino da capela lembrava aos moradores que o momento histórico e glorioso estava por chegar.

Machadão, de tanta cachaça, esquecera até seu nome e que era prefeito. Sardo Malaquias, vereador e presidente da Câmara queria dar título de cidadão a Nano, embora o mesmo fosse filho da terra. Os membros da sinfônica se esparramavam em torno do coreto. Mestre Polydoro perdera a batuta, a dentadura, o casaco e tudo o mais. Somente o historiador Bartô se mantinha sóbrio: “ Sou a testemunha ocular desses desmandos”, se confidenciava.

Por volta das 18 horas as mulheres começam a arrumar as comelanças numa grande mesa na praça. A maioria dos homens, jovens e adultos, ou estavam dormindo de tanto beber ou tomando remédio na Farmácia Bragança. As mulheres de Poente nem se queixavam dessas atitudes etílicas. Todo ano era a mesma coisa. Sabiam que às 20 horas, em ponto, o foguetório acordaria a todos que sairiam correndo festejar a Revolução.

Às 20 horas o foguetório - preparado o ano inteiro por um dos mais antigos moradores, seu Tonho Busca-pé - pipocava no ar. Mestre Polydoro atacava com a marcha "Paris Belfort" e as aclamações eram as mais esfuziantes.

De repente: silêncio geral! Todas as atenções, agora, iam para o Coreto. Lá estava um trambolho enorme coberto com um pano grande com a cor da bandeira poentiana: verde açafrão. Era a homenagem suprema à Revolução, iniciada por Nano Andrade. Seriam seus restos mortais transladados da cidade de Pica Fumo? Seria um novo mausoléu com a sua cara? As luzes se apagam e o pano é retirado pela esposa do prefeito, dona Alcenildes.

"E agora, mais um capítulo da novela..."

E a gritaria foi geral. Há 10 anos atrás, Nano Andrade trouxe o primeiro televisor para a cidade que, inicialmente, ficou estatelado no Bar do Tinocão. Agora era um aparelho com uma tela de 56 polegadas.

E os habitantes de Poente se orgulharam, por longos dez anos, desse feito que revolucionou a cidadezinha. Passaram a conviver com imagens de violência, drogas, sexo, políticos corruptos e falcatruas, apresentadores, futebol, fórmula 1 e todo o universo da televisão. Enfim, o mundo maravilhoso em que vivemos.

Em sua inocência pastoril todos acreditavam que tudo aquilo eram mentirinhas de filmes americanos. Afinal até o Homem desceu na Lua! Quer mentira maior?

Texto revisado por Cris

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