Contos: A ROSA AMARELA DO JARDIM DE PILATOS
Autor Alberto Carlos Gomes Lomba
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/30/2005 5:33:29 PM
Eu sou uma Rosa. Sou considerada a mais bela das flores. Não sei se sou a mais bela, afinal, tenho espinhos. Dizem que todas as flores que há no mundo são bonitas, pois foram criadas por Deus, para colorir e perfumar. No entanto, o homem gosta de valorizar umas coisas e outras, não.
Dizem que o ouro é o mais nobre dos metais e que o brilhante, o mais nobre dos cristais. Isto é apenas uma convenção humana, pois tanto o carvão poderia ser considerado valioso como o ferro.
A muda que me originou foi plantada em Jericó. Mas agora vivo em Jerusalém, pois fui trazida pelo jardineiro que me replantou num belo jardim que dizem pertencer ao palácio de Pilatos.
Há dias atrás eu era um lindo botão e agora começo a desabrochar. Muitas pessoas já tentaram me arrancar, mas o jardineiro do palácio é muito zeloso de seus deveres.
Estou me tornando uma linda rosa amarela. Comentam que sou rara nesta região.
Desde que comecei a desabrochar tenho escutado, aqui no palácio, os serviçais e o jardineiro falarem sobre um carpinteiro chamado Jesus Cristo, que está dando muito trabalho aos poderosos devido às suas mensagens.
Eu gostaria de conhecer esse Homem. Dizem que é belo, bondoso e que só faz o bem. Cura doentes, expulsa demônios e prega uma doutrina só de amor. Mas isso não está agradando aos judeus e aos fariseus. Muitos deles entram e saem daqui do palácio. Escuto gritos, pedindo a morte do profeta.
Hoje é quinta-feira. Estou cada dia mais bela e perfumada. Soldados romanos montam guarda no palácio. O falatório é que o bom homem entrou em Jerusalém, aclamado . Os sacerdotes do sinédrio comentam, cochichando, que querem coroá-lo rei. Os doutores da lei estão conspirando contra ele: querem matá-lo.
Pilatos reforçou a guarda. Ninguém mais se interessa por mim; tenho medo de ser arrancada e morrer antes do tempo. Herodes mandou Jesus Cristo para cá, disse que é assunto dos romanos. Pilatos anda se escondendo do povo. Quase que um jovem guarda me arrancou daqui. Ainda o ouvi dizer: “Que linda rosa para enfeitar a casa de minha amada”.
Aquele é Jesus? Aquele é o bruxo e revolucionário? Mas sua aparência é tão suave e pura. Que olhar lindo. Será que ele me viu?.
Hoje é sexta-feira. A multidão está gritando: “Barrabás! Barrabás!.” Ontem os amigos do bom homem o abandonaram à sua sorte e um deles até disse que não o conhecia e passou por aqui chorando quando o galo cantou. Estou com medo. As minhas amigas do outro canteiro foram todas pisoteadas pelo povo em fúria.
Pilatos lava as mãos. Não entendo. Agora entrega o profeta, todo violentado, esmurrado e com uma coroa de espinhos, ao povo, que grita: “Crucifica-o! Crucifica-o!”.
Escuto gritos lá fora. O povo parece que ficou louco. Dois guardas, perto de mim, comentam que o rei dos judeus será crucificado, daqui a pouco, em meio a dois facínoras.
Parece noite, mas ainda é de tarde. O céu está escurecendo. Estou com medo. O vento uiva com tanta força, arrancando minhas pétalas. Estou me sentindo fraca e desfalecendo. A terra treme, o palácio está escuro e ouço vozes de clamor. A chuva é torrencial. É o meu fim. Não tenho nenhuma pétala, vou morrer, acredito.
Bom Jesus, leva-me contigo para seu reino, para que eu embeleze e perfume o caminho de todos aqueles que, por séculos vindouros, seguirão o seu exemplo.
Texto revisado por Cris
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