Contos: ACONTECEU EM MONTERREY
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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/15/2005 2:02:32 PM
Costuma-se dizer que o amor é eterno. Monterrey, cidade mexicana, próxima à fronteira com os Estados Unidos, entusiasmava seus jovens ricos, a toda hora, conseguirem passes de turista para se divertirem nas danceterias de Dallas ou Houston.
Pablo, jovem mexicano, não tinha certeza de nada em sua vida, a não ser que era órfão, vivia com o tio padeiro e nutria uma paixão avassaladora por Juanita Perez, herdeira de uma das maiores fortunas da cidade. E esse amor platônico era motivo de brincadeiras entre os rapazes que freqüentavam a padaria, para desgosto do apaixonado.
A fronteira com os Estados Unidos estava cada vez mais vigiada e Pablo não conseguia seu intento de algum dia burlar a guarda e se radicar nos Estados Unidos, onde faria fortuna para poder pedir a mão da sua musa.
A família da jovem e sensual Juanita provinha de fazendeiros mexicanos que, segundo informações, se apoderaram de terras nos tempos sangrios da "revolucion" de Zapata.
A jovem mais vivia nos Estados Unidos que no México e isso era motivo de ciúmes e, muitas vezes, de ódio por parte de Pablo. Quando seu amigo Xavier veio lhe dar a terrível notícia de que Juanita iria residir em Dallas para estudar, o rapaz sentiu um aperto tão grande no coração que seus pensamentos se materializaram:
“Juanita não vai fazer isto. Nunca vai se afastar de mim. Nem que eu tenha de matá-la.”
“Deixa disso, Pablo, a rapariga nem sabe desse teu amor obsessivo”, repreendeu-o Xavier, seu amigo desde a época das aulas de catecismo atrás da Igreja.
Nada afastava da mente do rapaz, os pensamentos de vingança. Cada vez que via Juanita seu coração pulsava mais forte; sentia um calafrio ao imaginar aquela mulher nos braços de outro homem.
Desconhecendo toda essa trama amorosa arquitetada pela mente de Pablo a linda moça sabia que, cedo ou tarde, teria que se casar com o jovem Manuel Santiago, de riquíssima família e esse casamento já vinha sendo preparado pelas famílias.
A latinidade de Juanita era exuberante aos 17 anos. Sabia ser sensual e na Universidade Estadual de Dallas era desejada por muitos colegas. Enquanto Pablo se torturava com pensamentos nefastos, Manuel era um “bon vivant”. Ter Juanita em seus braços era questão de tempo e por isto só se preocupava em atravessar a fronteira para gastar dólares em noitadas americanas, onde loiras sensuais tomavam o dinheiro de incautos mexicanos.
O corpo de Juanita foi encontrado totalmente desfigurado, como se uma fera a tivesse atacado. Não fosse o legista de Monterrey o caso seria dado como encerrado. A polícia tinha o laudo de que a jovem fora assassinada brutalmente. Como ela não tinha inimigos estava cada dia mais difícil, para a polícia, desvendar esse mistério. A comoção era geral. Pais e parentes e mesmo Manuel gritavam por vingança e queriam um bode expiatório.
Desde o início Xavier tinha certeza que o assassinato fora premeditado e executado por Pablo e quando a família resolveu dar uma recompensa vultosa, Xavier não hesitou. “Pablo vai ser descoberto cedo ou tarde. Esse dinheiro vem em boa hora.” E lá se foi o rapaz até a delegacia de polícia delatar o amigo de infância.
A caçada ao jovem mexicano mais parecia um filme americano. Pablo corria das patrulhas e dos cães. Quando foi cercado na divisa com os Estados Unidos gritava a todo pulmão: “Não me matem. Não fui eu quem a matou.” O tiroteio foi medonho e seu corpo balançou com dezenas de balas.
No mesmo cemitério em que tinha sido enterrada a jovem Juanita no mausoléu da família, o corpo de Pablo baixou a uma cova rasa. O dinheiro ganho por Xavier só lhe trouxe desgraças. “Dinheiro maldito”, comentava com os poucos amigos em noites de muita tequila.
Em Dallas, o professor Josef Green, da Universidade Estadual, não conseguia esquecer os momentos felizes ao lado da jovem mexicana. “Tive que matá-la", pensou o professor, no pesadelo que vivia por ter que aceitar a traição de uma paixão tão quente como as tempestades de areia do deserto. Suas noites eram longas e ainda ouvia os gritos da jovem pedindo perdão pela sua vida que florescia. Um ano depois da morte de Juanita um americano de meia-idade colocava algumas flores em seu túmulo.
Xavier, que naquele dia tinha ido procurar a cova do amigo para lhe pedir perdão pela traição, um tanto quanto embriagado e portando uma arma na mão, pois queria se suicidar, sentiu como se uma força dominasse seu braço e sua mão. Disparou três tiros no verdadeiro assassino de Juanita e depois se suicidou. Costuma-se falar, em Monterrey, que amor e ódio dividem a mesma sepultura.
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 9
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