Contos: ÁLBUM DE FAMÍLIA
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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 6/13/2005 9:26:21 AM
Um álbum de família com o tempo se transforma num documento historiográfico de imagens de muitas pessoas que se reúnem num contexto social familiar. Miguel Paiva, sentado no sofá da biblioteca de sua casa, observava velhas fotografias de um álbum de família. Percorrendo com o olhar as fotos, algumas em branco e preto, relembrava seus familiares e amigos.
Lá estava Angelita, sua irmã, em vestido de primeira comunhão. Mais à frente uma foto em Santos, na praia do Embaré, onde alugaram um apartamento.
Caio Cintra seu melhor amigo, hoje cônsul em Israel. A foto mostrava três pessoas: Caio, ele e Madeleinne, encostados em um carro esporte vermelho. “Porque aquela foto ainda estava ali?”, pensou Miguel que logo teve a vontade de rasga-la. Mas era um patrimônio do álbum e ali ficaria.
Com certo desdém, o poeta - pois Miguel se lançara, com êxito, no mundo literário - repassou outras páginas do velho álbum e depois o jogou em cima da mesa. “Para que servem fotografias? Algumas delas nos trazem momentos felizes e outras, tristes recordações.”, questionava o poeta.
E a triste recordação era exatamente a bela e esbelta figura de Madeleinne. No dia da foto estavam felizes pois haviam prestado o vestibular e todos os três tinham sido aprovados. Caio foi estudar no Itamarati, queria ser embaixador; Miguel entrara em Filosofia e Letras e a jovem Madeleinne, em Medicina.
Ambiciosa e resoluta, após concluir seu curso, foi para Cuba se especializar em doenças tropicais. Caio ganhou uma secretaria no consulado Argentino, seu primeiro trabalho e Miguel conseguiu algumas aulas de Português numa escola pública.
Caminhos diferentes, vidas dispersas, os ex-amigos poucos se viam. Miguel, inspirado no amor que acalentava pela ex-colega, escrevia versos tão lindos que uma editora resolveu publica-los dando-lhe fama e dinheiro. Caio se casou com uma inglesa e Madeleinne vivia nos confins da Índia em missão da ONU.
Subitamente Miguel retoma o álbum e vê novamente a foto. Procura uma velha caixinha com antigas cartas, papéis de bombons, enfim, coisas de jovens adolescentes e abre um recadinho com um pedaço de cabelo. “Sei que você jamais entenderá, mas te amo muito, muito mesmo. Mas você não poderia me dar o que quero da vida. Porisso sou amante de Caio. Me perdoe. Se puder. Beijos eternos... Madeleinne”.
Na verdade, as poesias de Miguel eram o sinônimo de sua dor. E para sua felicidade seus leitores foram cúmplices nesta dor, comprando centenas de livros.
Pensando bem, Madeleinne lhe prestou um grande favor; não lhe deu o prazer físico, as emoções de uma paixão, mas lhe deu algo mais importante: seu sucesso, que lhe rendeu muitos momentos felizes.
“O melhor amor é aquele que está por vir”, pensou Miguel. Motivo mais do que justo para não rasgar a foto do álbum de família.
Texto revisado por Cris
Avaliação: 5 | Votos: 10
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