Contos: CHANTZ: A PEREGRINAÇÃO - parte I
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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 1/10/2006 5:31:44 PM
Aprendemos com os Mestres que a jornada se inicia sempre pelo primeiro passo. Quase sempre este primeiro passo é muito dolorido principalmente quando temos que abdicar das coisas materiais, do conforto, da família, enfim, de tudo aquilo que a sociologia estabelece como comum ao ser humano.
Há dias que Amon vagava, em peregrinação, à procura do Templo do Renascimento nas longínquas paragens da Índia próximas ao Himalaia. Nesta época do ano a imagem insólita era das tundras, uma vez que o degelo havia terminado. De dia ou de noite o frio gelava até os ossos. Mas essa sua peregrinação tinha uma finalidade. A seu lado Sahaj, seu guia, um indiano de pele escura, puxava um burrico com alguns pertences, muitas roupas para aquecer, água e comida.
Os dias eram incontáveis sempre na esperança de alcançar o primeiro sítio para a caminhada até a montanha onde se localizava o templo. Amon pouco falava pois seu guia não falava inglês e nesta trajetória a “procura do nada para o reencontro do todo”, como pensava, era árdua pois sofria dores por todo o corpo. À noite, com febre, era tomado de pesadelos e durante o dia criava imagens fantasmagóricas, quando seu guia o socorria improvisando, o mais rápido possível, uma cabana.
“Não vou desistir. E caso não consiga chegar ao meu destino leve todo os meus pertences, o animal e as rúpias (dinheiro indiano) que aí se encontram”. Sahaj nada respondia pois não era a primeira vez que trilhava aqueles caminhos onde poucos resistiam. Porém, com toda a sabedoria de sua casta sabia que este peregrino chegaria ao seu destino porque era movido pela força do ódio. Porque? Somente a vida daria as respostas e o guia se limitava a servir. Desde criança fora educado assim pelos seus pais.
Quase desfalecendo Amon viu o primeiro sítio rumo ao templo e com o corpo quase enrijecido sorriu, pela primeira vez, para Sahaj. “Eu não disse? Eu não disse que conseguiriamos?” Depois destas palavras, que mais pareciam um gemido, desfaleceu. O guia o colocou sobre o jumento, que também dava sinais de cansaço e praticamente arrastou os dois e os pertences até o pequeno vilarejo. Seu coração se iluminou de alegria; era a primeira vez em que via pessoas depois da longa caminhada e a todos abraçou falando em seu dialeto.
Quando Amon acordou, após dois dias de sono profundo e reparador em ambiente aquecido, olhou em volta e notou pessoas vestidas com roupas coloridas que cantavam, sorriam e festejavam seu retorno à vida. Daquele local tinha-se uma bela visão do Himalaia. “Lá em cima aprenderei a perdoar e isto iluminará o meu caminho”, disse Amon para o indiano e na sua tela mental a imagem de Yanna se reproduziu como água cristalina.
Texto revisado por Cris
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