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Contos: DIAS SEM FIM

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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 4/19/2005 3:17:05 PM


“Melhor o sofrimento da certeza, que a triste alegria da incerteza” ·

Não se pode ser altruísta com as paixões. Com o amor, talvez.

Constance Tenui olhava pela janela do seu quarto em sua mansão em São José do Rio Preto, cidade quase metrópole do interior do estado de São Paulo. Neste ano o inverno chegara mais cedo e, neste final de tarde, dia de mais uma Noite de Autógrafos, suas lágrimas escorriam pela incerteza de saber que ele não estaria lá para incentiva-la.

Alguém bate à porta e a desperta de suas lembranças. “Entre, não está fechada.”

Uma mulher, aparentando 45 anos, vestida, discretamente, num modelo azul marinho vem avisa-la do horário! “Você ainda não está pronta? O evento começa às 20 horas e não vamos deixar seu público esperando”.

Tentando limpar, disfarçadamente, as lágrimas que seus olhos não escondiam a escritora esboça um sorriso e diz. “Lona, estou nervosa. A expectativa é sempre assim. Mas logo desço”.

Sem nada notar, sua secretária particular fecha a porta e ela se sente aliviada. Cabelos pretos combinando com os olhos, uma boca carnuda e um rosto escultural, vestida em um longo preto, desceu as escadas e ouviu a voz de comando de sua secretária. Disse: “Vamos, estou pronta!”

Seria mais uma noite de sucesso para Constance. Entrou no carro que a esperava e que se dirigiu para o local do lançamento do livro. Durante o trajeto, observando as luzes e o movimento intenso da cidade, voltou ao passado.

Como era triste e sem motivo a sua vida antes de conhecer João Carlos. Um casamento falido aos 35 anos, onde vivera um inferno ao lado de um homem promíscuo. Sustentou o relacionamento por vários anos pelo amor aos filhos.
João Carlos a fez acordar para a vida, para emoções contidas, o que resultou num grande amor. Ao lado deste homem começou a crescer e, logo, seus escritos perdidos em gavetas se tornaram sucesso.

João Carlos era um mistério, um enigma. Algo místico e ao mesmo tempo instintivo, como se seu mapa genético o dividisse entre mulçumanos do deserto e um cavalheiro metropolitano. Com ele aprendeu a amar, a se doar e a resgatar sua fé, pois ele era espiritualista e sempre lhe dizia carinhosamente: “Constance cuide mais da essência e menos da aparência”.

Com estes pensamentos nem reparou que tinham chegado ao salão de festas de um luxuoso hotel. Aplausos, luzes e seu novo editor veio apanha-la na porta do carro. “Sorria. Que cara triste! Você andou chorando. João Carlos jamais voltará”, dizia Russel ao seu ouvido. Como que anestesiada caminhou sozinha negando o braço ao editor por quem tinha aversão e nojo.

O coquetel e o jantar, como muitos outros, não trouxeram nem brilho nem alegria à sua noite de autógrafos. “Alem do Medo”, seu atual livro era biográfico. Na verdade, era uma confissão. Narrava, em ficção, sua vida, seus sofrimentos seu amor e finalmente sua ambição pela fama. E mais uma vez recordou quando João Carlos lhe perguntou: “Vem comigo?” E ela respondeu: “Tenho uma família para cuidar. Não trocarei o ponderável pelo imponderável”.

E assim ele se despedia da Editora Landscape que por muitos anos tivera a sua identidade. Quando a editora começou a se politizar ele comentou: “Aqui não há mais espaço para a lógica e para a razão”. Naquela tarde discutiram muito. E cada um procurou seu caminho com verdades e inverdades.

Não demorou muito para Constance reconhecer que tinha sido enganada. Manobras ardilosas dos editores provocaram a separação. Seu coração partido desde a época em que João Carlos a deixou trouxe-lhe complicações hormonais e logo ficou doente. Perdeu o brilho dos olhos e mesmo o amor pela vida, embora desse um tom dramático aos seus questionamentos. Procurou, no trabalho, mostrar sua grandeza, sua força, mas nada dava certo, pois, toda noite se perguntava se valera a pena ter sido tão racional e mesmo fisiológica.

O inverno passou. Veio a primavera, verão, outono e outro inverno.
Depois do sucesso do último livro a escritora retirou-se da editora recolhendo-se a uma fazenda próxima a Rio Preto. Agora, seus filhos já tinham vida própria mas sua doença exigia controle quase que mensal.

Um ano depois foi a São Paulo receber uma homenagem. Reviu amigos, escritores, poetas e observou que na livraria onde foi agraciada tinha um livro com uma capa preta, caracteres amarelos e vermelhos. “Dias Sem Fim”, autor João Carlos Lonax. Avidamente adquiriu um exemplar, se despediu às pressas e voltou ao hotel onde se hospedara. Nem bem tirou a roupa e começou a ler.

“Nunca se descarta um amor como algo que tenha que ser reciclado. Reciclamos papeis, plásticos, latinhas de alumínio e uma infinidade de objetos. Quando pensamos que vamos reciclar um amor, uma vida, um sonho, uma magia corremos o risco de nos misturarmos aos monturos de nossa consciência”.

Dali para frente Constance sabia que seus dias seriam longos e sem fim.

Texto revisado por Cris

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