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Contos: O PERDÃO

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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 5/4/2005 4:44:07 PM


Os cânticos sacros da missa matinal na capelinha de uma cidade do interior da França faziam as lágrimas da jovem Elizabeth descerem em profusão por todo o seu rosto. O padre acabara sua liturgia da palavra concitando os fiéis ao perdão: "Perdoar não sete vezes, mas sete vezes setenta". O pensamento daquela jovem de 22 anos ia longe, viajava no tempo e sua consciência se questionava. "Nunca perdoarei Arteny. Roubou o meu mais profundo e singelo amor, Pierre Velmont".

Voltemos no tempo. A primavera francesa é conhecida pelo colorido e pelo perfume das flores campestres. Duas jovenzinhas corriam pelos campos em tamanha alegria que até a natureza resplandecia toda essa felicidade.

Arteny, jovem rica do povoado, de família tradicional produtora de vinho bordon e Elizabeth, sua melhor amiga, filha do intendente dos parreirais que produziam o delicioso vinho. Riqueza e modéstia se uniam em sonhos primaveris de brincadeiras e folguedos próprios da infância.

A beleza de Elizabeth era por todos elogiada. Cabelos loiros, olhos claros e um eterno sorriso que desmanchava qualquer coração. A menina rica em nada devia em beleza e porte à sua amiga. Cabelos ruivos, da cor do fogo, olhos escuros e um estilo quase nobre como o bouquet dos vinhos produzidos por seus ancestrais.

Boa parte da infância e adolescência, essas amigas passaram juntas. Estudaram juntas na classe de mademoiselle Anne, brincaram com as mesmas bonecas e aos 16 anos, Elizabeth já despertava para o amor se apaixonando por Pierre, um rapagão desajeitado, mas um príncipe para ela. Nesta ocasião, Arteny contava com 15 anos e só se interessava por jovens mais velhos, o que sempre resultava em castigos na biblioteca de sua mansão.

Paris, Cidade-Luz, centro da intelectualidade européia. Liceus e faculdades eram cobiçados por filhos de famílias ricas de toda a Europa e, porque não, do mundo inteiro.

Elizabeth, que aos 19 anos estava noiva de Pierre, escolheu o caminho das artes. Seus quadros eram elogiados pelos mestres e a moça transformava as telas em obras mágicas, como se uma força exterior a ajudasse com os pinceis.

Sua melhor amiga cursava a Faculdade de Administração, pois pretendia voltar às origens e dirigir os negócios da família, cada vez mais rica e poderosa com a exportação do velho bordon.

Naquele final de tarde Elizabeth estava ansiosa: era a sua primeira vernissage, onde o público e os críticos julgariam as suas telas. Durante o coquetel Arteny não tirava os olhos de Pierre: "Como ficou bonito. Nunca imaginei que este caipirão fosse virar um homem tão lindo". Enquanto maquinava esses pensamentos Arteny bebericava e, aos poucos, foi se aproximando do feliz casal. "Quem diria, Bety, que Pierre se transformaria nesta pintura viva". A amiga, sorridente e alegre, abraçou a velha amiga com muita emoção, pouco observando os olhos cobiçosos dela.

Depois de uma noite de sucesso, os encontros se repetiram mais. Os três andavam sempre juntos e Arteny não disfarçava sua atração pelo noivo da amiga.

Numa manhã chuvosa Elizabeth preparava alguns esboços para outra exposição, pois se tornava, dia-a-dia, uma artista plástica famosa. Durante esse trabalho corrido uma carta lhe chega às mãos. Pierre lhe devolvia a aliança, desfazia o noivado e confessava seu amor por Arteny. Dizia ainda, que quando ela tomasse ciência de tal fato, os dois estariam embarcando para a Espanha, onde a família de Arteny comprara outra propriedade vinícola. Iriam se casar. Era o fim de tudo.

Elizabeth não soube decifrar quanto tempo ficara ali, caída no chão. Com a carta na mão, era o símbolo do desespero, da angústia, da solidão. Naquela mesma semana resolveu acabar com tudo. Vendeu alguns quadros pela metade do valor, arrumou sua mala e voltou para a província carregando, na mala, o ódio e o rancor de um amor perdido.

Naquela missa dominical, tinha em mente jamais perdoar os dois desafetos de seu coração. Agora vivia pelos cantos da casa. Perdera estímulo pela vida e pela arte. Negava-se a conhecer qualquer jovem, embora a sua beleza florescesse ainda mais, como um castigo.

A notícia se espalhou pelo vilarejo. O jovem e rico esposo de Arteny havia falecido num acidente fatal. Um laivo de vingança passou pela mente de Elizabeth. "Agora estou vingada".

As exéquias do rapaz aconteceram na cidadezinha e, de longe, Elizabeth acompanhava todo o sofrimento da ex-amiga. Na missa de sétimo dia, finalmente, as ex-amigas se depararam. Seus olhos mostravam sofrimento e dor pela perda e pelo abandono.

Mais uma vez o sol trouxe para aquela região da França, depois de um inverno rigoroso, a alegria dos campos floridos.

A figura de uma jovem loira caminhava, como há anos atrás, pelas alamedas, quando, de repente, um vulto se colocou à sua frente. Pálida e surpresa, Elizabeth tinha à frente a companheira de infância. "Eu sei que você me odeia e nunca vai me perdoar. Estes anos vividos com Pierre foram para mim um purgatório de sofrimentos. Bebia, andava com outras mulheres e sempre me jogava na cara que você era o verdadeiro amor da vida dele. Convivi com isso dias e noites em eterno sofrimento, como se estivesse pagando o pecado da desonra de trair minha melhor amiga".

As lágrimas já caíam pelas faces de Elizabeth e Arteny continuou.
"Sabe porque ele morreu? Morreu porque me abandonou e veio atrás de você. Disse que se jogaria a seus pés, pediria perdão e viveria para sempre com o grande amor de sua vida".

E a moça continuou narrando o desenlace daquele dia. O carro derrapando na estrada e a morte súbita. Por alguns instantes Elizabeth não se deu conta do que ouvia. Seu grande amor morreu quando voltava para seus braços. Um choro convulsivo jorrou e Elizabeth e Arteny se abraçaram como duas crianças que acabavam de perder a razão de suas vidas.

A brisa da tarde primaveril acariciava as duas amigas que caminhavam, de mãos dadas, pelos caminhos da infância. O perdão estava dado.

Texto revisado por Cris

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