Contos: O RETORNO DE RUFFUS
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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 4/28/2005 12:09:16 PM
Quantas vezes vocês já voltaram para este planeta para missões inacabadas, encarnações livres e compulsórias?
Henry Cavallete e Causinne Dupret corriam como dois celerados. Os portões da Bastilha haviam caído e só restava agora engrossar a correnteza em direção à prisão que durante muitos anos se transformara no horror de toda a França. Paris estava em chamas. A revolução caminhava para sua vitória.
Um tiro de mosquete ultrapassa o peito de Henry que sente o sangue ainda quente jorrar e desfalece. Em sua tela mental, que vai se turvando, forma-se uma cena de guerra de tempos imemoriais. Cavalos avançam, soldados empunhando lanças e espadas vêm em sua direção. Alguém, ao seu lado grita por socorro. A debandada é geral. Seu coração é trespassado por uma lança e ainda sente o casco do cavalo amassar seu corpo.
A rebeldia da criança Max Trajano tinha passado dos limites do bom senso. Apesar de Dona Mercedes ser considerada quase uma santa, seu filho poderia ser comparado à reencarnação do mal. Moleque atrevido, malcriado, brigão e além de tudo se iniciava na arte de surrupiar tudo de seus colegas de classe. Mais uma vez lá estava a santa dona Mercedes ouvindo queixas da diretora da escola. “Assim não dá, dona Mercedes. Este menino tem parte com o capeta. Imagine só, que além de riscar o carro novinho da professora Amamelis, ainda surrupiou a bolsa da mão dela “. Entre lágrimas e queixumes a genitora do endiabrado se justificava. “Não tenho mais forças. A cada dia está pior. Nem terreiro resolveu o caso, já que me disseram que era encosto “, disse Mercedes aos prantos. “Estas coisas não existem. São fantasias. Este menino está precisando mesmo é de vara curta “, vaticinou a diretora. E assim terminava mais um dia na vida de Max, que durante a noite se via às voltas com pesadelos. Quase sempre se via no meio de batalhas infernais onde o fogo, sangue, gritos dariam inveja ao Inferno de Dante.
Aos gritos acordava a família inteira.
Em uma dessas noites o menino aterrorizado dizia que no seu quarto tinha um homem vestido com armadura, elmo, espada e que o chamava pelo nome de Ruffus. A indignação foi geral, não só na casa como até nos arredores da pequena vila de Oiapoca. “O menino endoidou “, era a voz comum. De balaio debaixo do braço lá se foi Max para o sanatório mais próximo, que ficava a uns 200 quilômetros de sua cidade. A passagem pelo sanatório foi curta. Max, que se dizia Pretor Romano, marchava o dia inteiro com uma lata na cabeça, um pedaço de pau e um pano velho nas costas. O que deixava o diretor, os médicos e os funcionários surpresos é que não incomodava mais ninguém, somente berrava: “Pretorianos. A vida e a honra por Roma. Avançar... “, e lá saia em debandada, seguido de alguns possíveis soldados, internos do sanatório que mais se divertiam. Foi com algum pesar que o diretor do hospício comunicou aos familiares de Max, que numa destas investidas ao “exército inimigo “, o rapaz saiu para a rua e foi atropelado e morto.
No dia seis de junho de 1999 os membros da tradicional família Cavallete entravam na Catedral de Notre-Dame, em Paris, para batizar o mais novo recém-nascido do clã. Seu nome: Ruffus Cavallete.
Realmente, viveremos e morreremos quantas vezes forem necessárias para nos harmonizarmos com a Lei Universal, onde o termo “acaso“ simplesmente inexiste.
Texto revisado por Cris
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