Contos: SAENZ O NAVEGADOR SOLITÁRIO DA GALÁXIA
Autor Alberto Carlos Gomes Lomba
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 3/31/2005 12:29:13 PM
Saenz comandava a nave espacial Protheus, no quadrante nove. Nesse quadrante, há alguns anos atrás, existia um planeta chamado Terra que fora higienizado do sistema por causa dos caminhos tomados por seus habitantes...
Saenz lembrou-se, com certa amargura, do planeta. Uma lágrima rolou dos olhos do capitão da Protheus, que passava pelo quadrante a uma velocidade de cinco fatons. Recordou-se da primeira vez que viu Daila, filha do Chanceler Urbide, que representava o planeta Terra na Federação Cósmica.
Cabelos negros como a noite, olhos verdes. Seios abastados, corpo sensual. Uma menina quase mulher. Seus olhares se cruzaram. Era a primeira visita de Saenz à Terra, acompanhando o presidente do Conselho Cósmico que viera advertir, pela última vez, os terráqueos - que só viviam em guerras e conflitos – sobre o prejuízo que estavam causando para o equilíbrio da Galáxia. Depois de uma reunião tensa, onde a discussão não chegava ao fim, o pai de Daila prometera que faria um último esforço para que o planeta não fosse banido do sistema solar no quadrante nove. Saenz e Daila foram visitar alguns pontos do planeta e o amor falou mais alto.
Um oficial da Protheus tirou o comandante de seus íntimos pensamentos. "Senhor, aumentamos a velocidade ou continuamos no patamar cinco?" "Vamos assim, por enquanto. A nave está estabilizada e não há perigo de meteoritos do antigo planeta".
"Daila, Daila, por onde andará o meu amor?", pensou o comandante. “Humanidade insensata!“, pensou.
E mais uma vez sua memória retroagiu à data fatídica da higienização da Terra, quando o Ministro Exterminador, que comandava a nave Commander End, ordenou que raios lasers fossem apontados para a Terra e acionados.
O caos se instalou no planeta. O magma começou a jorrar fogo por todos os lados. Era o próprio Apocalipse descrito pelo apóstolo João, quando fora exilado na Ilha de Patmos, na Grécia. Assim mesmo, Saenz, desobedecendo ordens superiores, foi atrás de seu grande amor. Seqüestrando uma nave de salvamento, desceu ao planeta que gemia em fúrias de terremotos, maremotos, vendavais. Daila e sua família residiam numa região que era conhecida como Massada, uma planície com uma elevação de 600 metros. Não foi difícil rastrear e Saenz quase colidiu com outras naves terráqueas que fugiam do fim.
De longe observou que Massada já não existia: era um mar incandescente. Tudo estava perdido. Reprogramou a nave na velocidade da luz e se lembrou apenas de um estrondo quando foi parar no quadrante cinco, ou na região de Capel, onde vagou no espaço perdido por um bom tempo.
Muitos anos se passaram. Saenz foi punido pela sua audácia e afastado do Conselho de Extermínio. Porém, recebeu o comando da nave Protheus, uma nave rastreadora, pelos seus méritos anteriores. Arrumou uma tripulação de voluntários, ex-comandados seus e há vários anos vem percorrendo os quadrantes do Universo à procura de Daila.
Naquela noite Daila perscrutava os céus de Terra II, uma colônia de fugitivos do caos da Terra, no planeta Sigma, do quadrante oito. Lágrimas desciam pelas suas faces pela recordação de seu grande amor, Saenz. Notou uma pequena luz se movendo na abóboda celeste. "Deve ser uma nave", pensou.
Na nave Protheus, Saenz observava o planeta Sigma. Imaginou quantas pessoas estavam, naquele momento, se amando no carinho do lar. E a nave Protheus continuava navegando pelo oceano do Cosmos à procura de um amor inesquecível, destruído pela intolerância dos homens que habitaram a Terra.
Texto revisado por Cris
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