De mãos dadas à própria mediocridade
Atualizado dia 7/13/2017 9:06:33 AM em Autoconhecimentopor Alex Possato
Uma pessoa muito íntima passou o almoço falando da sua tentativa infrutífera de cumprir as expectativas que ela mesma, real ou imaginariamente, teceu sobre seu comportamento. Comer algo adequadamente saudável – e ela não queria. Ter um tipo de padrão de pensamento – que ela não tinha. Gostar de determinados ambientes e pessoas – e ela queria se isolar. Chegar a entendimentos que não conseguia.
Se eu não conhecesse a pessoa, e estivesse predisposto a ouvir suas neuroses, o almoço seria muito chato. Mas não foi. Ao contrário, foi muito instrutivo. Pois ela mostrou para mim o padrão de funcionamento da mente crítica, julgadora, condenadora, rebelde. Que é também o padrão de funcionamento da minha mente.
A mente é um instrumento fenomenal, principalmente quando entendemos que o papel dela é estabelecer comparações, para poder discernir, tomar decisões. O que torna nosso convívio com a própria mente insuportável é que acreditamos que aquilo que pensamos determina o que somos. E como fomos ensinados desde pequenos que não somos grande coisa, que estamos sempre errados, precisamos saber mais, nos comportar melhor, ter melhores pensamentos... passamos a vida nos julgando e condenando.
Como terapeuta, lido com pessoas com dificuldades de ter projetos. De mudar a própria vida. De aceitar a si mesmo. De saber tecer melhores relações. De lidar de forma saudável com o próprio corpo. Pessoas que, de certa maneira, sabem que estão tomando atitudes que lhe fazem mal. E uma das primeiras coisas que faço, ao ouvi-las, é incluir em mim aquilo que elas não conseguem incluir em si. Imagino o que daquilo que estou ouvindo também faz parte do meu comportamento, e internamente digo: você faz parte! Eu te vejo!
Incluo, por exemplo, o corpo obeso. A mente alucinada. A sensação de feiura. A sensação de fraude interna. A vítima. O provocador de conflitos. O postergador. O derrotado. O compulsivo. Sinto quem ou o que está sendo excluído, e imagino dar um lugar para esta sensação dentro do meu coração. Nem sempre é fácil, mas a prática é tudo. E muito rapidamente, percebo-me em paz com a pessoa à minha frente, e mais: em paz com minhas sombras interiores! O outro, no final, serviu terapeuticamente para o meu autoconhecimento!
Gosto da palavra medíocre porque ela não tem significado pejorativo, na etimologia. A origem em latim quer dizer simplesmente: mediano. Todos somos medíocres, em diversos aspectos. Muitas coisas não sabemos fazer bem, mas outras sabemos fazer muito bem. No final das contas, nota média: passou de ano! Quando conseguirmos observar em paz nossa mediocridade, sabendo que todos são assim também, e pararmos de achar que “somos aquilo que pensamos”, pois afinal, quando nascemos já “éramos”, e não sabíamos pensar... o conflito interno acalma. Somente então conseguiremos ouvir o que há além dos pensamentos. Um espaço de silêncio, harmonia e paz inerente a quem você é. Eu sou. Estaremos mais próximos da própria essência: perfeita. Imutável. Eterna. Amorosa. É o longo caminho que me propus a seguir. Às vezes com mais sucesso. Às vezes, com menos. Mas seguindo. Sempre... O que importa o que os outros vão achar? O que importa em qual estágio da jornada estou? O que importa o que penso de mim mesmo?
Texto Revisado
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Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui. |